quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Por um ano novo com menos esperanças....

Talvez você nunca tenha ouvido falar de Neil Pasricha, sujeito que não tem muito jeito para falar em público e não faz parte da trupe de coachs de autojuda, gurus empresariais, neurocientistas, psicológos ou economistas comportamentais que se tornaram palestristas ultra carismáticos que dão as caras na Internet todo dia.

Criado no Canadá e filho de imigrantes, depois de uma trajetória como a de qualquer pessoa e um período de grande felicidade, sua vida mergulhava no cadafalso de um dia escuro que não parecia ter fim.

Em um breve lapso de tempo perdeu a esposa em um divórcio que ele não desejava e seu melhor amigo desapareceu da sua vida em razão de uma depressão fatal. Fora isso, foi apanhado no contrapé da crise econômica que viria a tomar os EUA nos anos seguintes.

Educados que somos em uma bolha de consumo superficial e vazia, quando a vida joga um tsunami no nosso colo a desorientação é tamanha que não acertamos o passo na rua.

Mas Neil Pasricha teve uma idéia simples e despretensiosa para lidar com um período de dificuldades.

Ao invés de ficar fazendo força para ter assunto no whatsapp ou descarregar no Instagram aquela "foto sensacional" do inseto que posou no parabrisa, ele percebeu que poderia compartilhar experiências sobre pequenas alegrias pela Internet, muitas delas que aprendera a valorizar a partir do olhar dos seus pais quando esses, muito pobres, se viram acolhidos em uma sociedade afluente.

Criou um blog sobre as coisas que nos deixam felizes quando não estamos pensando em ser felizes. 

Chama-se 1000 Awesome Things.   

Lendo cada post não há como não se por a pensar se não há uma contradição na nossa forma de viver.

Nosso dia a dia é um tecido de tarefas e pequenos hábitos, como fazer a barba, ir na padaria, levar os filhos na escola, ficar no trânsito, marcar consulta no dentista, trabalhar, ir para a faculdade, passar no mercado, levar a bike na oficina, corrigir provas, colocar gasolina no carro, preencher documentos, pagar as contas, ir em reuniões escolares, escrever emails...

Enquanto isso, aguardamos por algo extraordinário na vida e depositamos todas as nossas fichas em desejos pelas quais estamos separados pelo tempo.

Esse desejo se chama "esperança".

No afã dos grandes sonhos, trocamos o quinhão raro da vida no presente pelo que nos aguarda no futuro - e, na esperança de viver, não vivemos.

Obviamente, bem sei eu, não podemos abrir mão das nossas expectativas, de olhar para frente e mirar algo que seja fonte de crescimento e autorealização.

O problema é quando esquecemos todo o resto.

E "todo o resto" é justamente a nossa vida.

E, como diz o sujeito do video abaixo, "a pessoa que não pode viver significativamente hoje, não pode levar uma vida brilhante amanhã."

Assim, não se trata de se abdicar uma coisa pela outra, mas de "esperarmos" um pouco menos e abraçamos o presente um pouco mais.

Com contribuições milhares de pessoas, Neil Pasricha descortinou uma janela para um lado da vida onde não parecia ter nada para olhar.

Coisas que nos deixam felizes sem esforço e espera, como  achar o lado mais frio do travesseiro para dormir, passar o dedo no copo de vitamina, raspar o tacho de creme na panela que foi usada para fazer o recheio do bolo, ganhar uns brigadeiros porque teve aniversário e sua tia não esqueceu de você, encontrar um pedaço de torta de banana esquecido na geladeira...

Dirigir na cidade vazia, ir passando uma longa fila de semáforos que vão se abrindo sem você colocar o pé no freio,  sintonizar uma música que te faz esquecer o trânsito, ouvir rock nas alturas e espancar o ar como se fosse o baterista, evitar um congestionamento ou chegar em casa dois segundos antes do temporal desabar...

Ver o sol nascer no selim da bike, fazer uma descida em curva perfeita, começar a correr de madrugada, encontrar a raia que você gosta de nadar vazia, sentar em uma sombra no final do treino, ir para a academia tarde da noite e, do nada, aparecer aquela gata para ficar na esteira do seu lado ou ver que sobrou o tênis que a gente queria no estoque da loja e o danado ainda tá com desconto...

Fazer um amigo rir e de susto espirrar refrigerante pelo nariz, girar com a sobrinha no colo para ver quem fica mais tonto (digo, já: sou imbatível) e certas esquisitices que talvez não compartilhe com ninguém, tal como ficar perto da panela para sentir o vapor do leite esquentando o rosto ou caminhar pelas ruas a noite com o chão molhado depois da chuva...

Não fossem apenas momentos em que parece que nada nos falta, a natureza dos pequenos prazeres também fala alto sobre quem somos, de onde viemos e o que precisamos para viver.

Minha lista é um exemplo do apego de uma criança que não desistiu de mim. Ela anda comigo em pleno meio-dia, se surpreende quando vê algo novo, não chega perto de roda-gigante e sorri quando lhe dou alguma coisa que não pôde ter quando antes só existia ela.

Em troca, não me pede esperança e nem me cobra pelo futuro - apenas que a gente não perca a espontaneidade por medo ou vergonha de sermos nós mesmos.

Feliz 2014...


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

100 x 100

Quando eu ainda treinava com o Vinnie, uma vez ele me escreveu dizendo que todo final de ano os triatletas deveriam celebrar.

Celebrar significa fazer algo desafiador,  mas ao mesmo tempo prazeiroso, aproveitando o que foi agregado durante meses e meses de treinamento para o aprimoramento da nossa condição física.

Na última vez que fiz a São Silvestre, resolvi correr pela manhã a metragem necessária para completar uma maratona em uma dia. Dividia o esforço em duas partes e ainda correria com os amigos.

Fiquei com vontade de pedalar esse ano. Achar uma estrada bacana no Interior de São Paulo e fazer um "Audax" de 300k.

Só que, depois de quatro horas na Anchieta para percorrer quinze quilômetros de carro, fiquei traumatizado com essa coisa de pegar a estrada perto de feriado.

Por quê não esse desafio de 100 x 100 na piscina?

Do lado de casa, não dependia de carro...

E me julgava mais preparado do que para correr, por exemplo, já que antes do Dash eu estava com um volume alto, de 3 mil, e nadando todos os dias...

O problema é que eu não sabia como me arriscar nesse treino. Pensei em escrever para o Rodrigo, mas ai vai que ele "cê tá doido....".

Agora, como é a vida: e não é que ele fez a mesma coisa para comemorar o aniversário dois dias antes!!!!!!

Bom, joguei a idéia no Ironbrothers para alguém me dar uma luz e choveu post sobre o assunto.

Esse grupo é demais, nossa...

E foi lá que pesquei os parâmetros básicos, que vieram da Ana Lidia e o Marcos Faria,  já que eram os únicos que tinham feito esse desafio - aliás, o Marcos também dois dias antes do meu, e contou como foi.

A única coisa que não dava para pegar emprestado eram os parâmetros de tempo, já que esses dois são de outro planeta....

Achei mais razoável a sugestão do Marlus, que se fizesse esse treino, sairia a cada dois minutos.

Eu poderia nadar 1:45 e descansar 15 a cada 100.

Pensei "é isso!"

Nesse ritmo, seriam de 3:20 de água se tudo desse tudo certo.

Ajustei os alarmes do relógio para não me preocupar com contagem, coloquei três caraminholas e três sachês de gel na borda da piscina e às 10:10 comecei o desafio.

Até os cinco mil, estava tudo certo e conseguia manter a média sem forçar o sistema aeróbio. O ritmo era algo entre moderado e forte ou, como se queira, "ritmado".

Os braços estavam em ordem e não me via mentalmente cansado.

Mas a partir desse ponto comecei a ter problemas. A média subiu para 1:50 e progressivamente fui perdendo desempenho: 1:51, 1:53, 1:54....

Exatamente na marca dos 6.300 metros meu tempo batia a casa dos dois minutos - nadar direto não era a idéia e nem em sonho eu conseguiria.

A fim de dar um tempo para os braços, mudei de estilo. Puxei 700 metros, alternando costas e peito a cada 100.

Com os braços momentaneamente descansados, voltei a nadar Craw para 1:45 e feliz da vida.

Mas em 7.900 de novo bati na casa dos dois minutos. Os braços não estavam mais ajudando. Tentei nadar com flutuador. Nada. Colocar o palmar, então, nem pensar!

Lembrei do Marcos Faria falando sobre o pé de pato (embora eu, burro, devesse tê-lo usado antes dos meus braços ficarem fatigados, assim como ele fez).

Coloquei e achei que facilitaria muito, mas não foi bem assim - consegui voltar para  casa dos 1:50, saindo a cada 2 minutos.

Quando atingi 8.500 meus braços estava quase dormentes. Voltei para costas e peito. Mais quinhentos.

Ai, finalmente, eram apenas mil metros. Coloquei o pé de pato e fui...

Mas, nos 9.400 o "professor" que estava na piscina avisou que teria que sair porque o horário já tinha dado e eu não poderia ficar nadando sozinho.

Como atrasei um pouco e tive que nadar fora da casa dos dois minutos quando fazia costas e peito, eu realmente tinha extrapolado o planejado.

Tentei explicar o treino, pedi "pelo amor de Deus", mas sabe aqueles garotos que fazem educação física e não tem noção  do que é o esporte?

Pois é...

Ele me disse que não, que não, que não...

Que era Natal (mesmo faltando quatro dias), que também entendia já que ele "também treina e fica chateado quando não faz a planilha" (acho que ouvir isso foi o pior!) e que, enfim, não dava...

Eu sou sempre certinho, mas como é que eu iria deixar de completar?

Falei para ele avisar na portaria que não ia sair e que a responsabilidade era minha.

Ele foi embora e, bem, eu teria que apertar o passo e comecei a nadar direto.

Nem preciso descrever a dor...

Faltando 200 metros, chega o pessoal da portaria e fica discutindo para eu sair. Todos, diga-se, formandos em educação física....

Expliquei, pedi, implorei, disse que estava errado, que poderiam me multar...

É inacreditável como as pessoas são. O tempo que passei discutindo era suficiente para terminar o treino!!!

Não queriam me dar cinco minutos!

Argumentei se a academia tivesse problemas, se eu agisse da forma como eles estavam agindo comigo, quando as privadas ficassem entupidas teriam que resolver o problema "na hora".

Obviamente nem sei se aquelas privadas ficam entupidas, mas foi a primeira coisa que me veio a cabeça....

Dado que o negócio não se resolvia, virei as costas e sai nadando e o povo correndo na borda da piscina acenando para eu sair.

Meu, eu mereço? Não, fala....

Não foi a forma mais bacana de se completar um desafio desses, mas valeu a pena...

Para quem quiser, recomendo, pois não acho que estamos falando daquelas loucuras que as pessoas fazem a título da pavonice.

Há boas lições para se tirar de um treino desses.

Pra começar, subestimei a parte física do desafio quando achei que o problema de fundo seria mental.

É mental também, claro! Mas não é necessariamente o mais importante - o que pega, mesmo, é o braço.

Como iria fazer um tempo mais alto nas parciais, achei que conseguiria nadar craw o tempo todo.

É aquela coisa "se não vou sair para 1:50, pelo menos vou nadar tudo em um só estilo..."

Mal comparando, é aquele pensamento "não bato o recorde mundial, mas não ando na maratona".

Deveria ter feito como a Ana e o Marcos indicaram, ou seja, ter revezado os estilos e nadado com o pé de pato em alguns ciclos de mil metros para descansar os braços.

Fui fazer isso quando já estava quebrado...

Por isso, é bom repetir sempre, o problema não é a dificuldade física ou mental.

É o ego...

É numa dessas que me vejo tentado a mudar o nome do Blog para "Burro a Bessa", sabe? ;-)

Há pelo menos três coisas bacanas que servem de aprendizado.

Em primeiro lugar, ele agrega horas na piscina e você precisa lidar com a sua resistência mental como poucas vezes é possível nos treinos regulares.

Em segundo, como todos sabemos, nadar cansado é um aprendizado duro, mas que todo triatleta deve ter. O desafio é manter a técnica mesmo quando os braços estão exaustos - tal qual os atiradores de elite, que devem ser precisos depois de horas e horas de concentração e foco.

O terceiro é que você vai aprendendo a ser raçudo.

O treino não foi como planejado? Não vai sair tudo bonitinho?

Fio, se vira! Nada de costas, nada de peito, cachorrinho, pega o pé de pato, volta para o craw e não desiste!

Luta!

No final, vale a pena. Sempre vale...

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Ten Bucks....

Nos intervalos da minha cisma rabugenta com as coisas pouco úteis das redes sociais, algumas experiências me fazem pensar que as vezes a bobeada é minha.

Algumas coisas não explodem em cores vivas ou palavras bonitas, mas podem guardar tesouros, tais como os despretenciosos detalhes da foto de uma amiga, professora universitária, e sua turma de faculdade.

A despeito da visão romântica sobre os "professores", eu não compartilho do princípio de que se trata uma profissão diferenciada, tal com os cansativos bordões do feicêbuque que elevam esses profissionais a categoria de santos, deuses ou coisa parecida.

Como aprendi na prática, "dar aulas" é coisa completamente diferente de "ensinar" e existem muitos por ai que estão na carreira docente sem a mínima vocação para isso. Frequentam as salas de aula porque não acharam nada melhor para fazer na vida, enquanto outros (e são muitos) se tornam cúmplices de uma indústria de atestados médicos que opera da mesma forma que o crime organizado.

Portanto, não tenho paciência com aquela sabedoria empacotada de supermercado do tipo  "o único profissional que não precisa se curvar na frente do imperador do Japão...blá-blá-blá" .

Aliás, só em uma sociedade deseducada um texto desse circula tanto, já que essa informação não tem fundamento algum.
 
Por outro lado, há um tipo de gente muito especial, como aquelas que conseguiram ascender socialmente e, ao invés de continuar com a sua vidas em profissões em que poderiam ganhar mais, se voltam e estendem a mão para que outras pessoas também possam fazer essa escalada. Não se preocupam com o anonimato porque têm consciência de uma missão de vida e são capazes de tirar uma extraordinária felicidade dessa entrega.

E essas pessoas são portadoras de algo que muitos almejam, mas poucos podem ter.

Um dia, em uma reunião de trabalho, um antigo professor da Unicamp me dizia quando puxamos uma conversa de lado na hora do café, "Você sabe porque os milionários investem em ONGs, Fundações e projetos sociais? Porque não há dinheiro no mundo que impeça o que eles mais temem: serem esquecidos."

Minha amiga não precisa ter medo ser esquecida.

Alinhados com ela 47 pessoas que faziam parte da turma de administração que se formariam dois anos mais tarde. Todos egressos de um programa de bolsas para o ensino superior, na qual prestavam serviços de monitoramento em escolas pública como contrapartida do financiamento para os estudos.

Ao acaso das baixas probalidades estatísticas que dizem que os mais pobres tem poucas chances de  alcançar a faculdade, muitos ali frequentaram o curso noturno para serem os primeiros de gerações familiares inteiras a terem um diploma universitário. E o que eles conquistarão aumentará a chance de uma vida melhor para seus filhos e para os filhos dos seus filhos.

Mas não são aulas fáceis, principalmente para salas grandes que aglomeram entre 40 e 60 alunos exaustos física e mentalmente. Não  há turmas homogêneas e muitos não mostram comprometimento espontâneo.

Você pode achar uma inversão de valores, já que se pressupõe que o interesse em aprender é dos alunos.

Mas quem está lá na frente sabe que isso faz parte do trabalho.

Trabalhar em sala de aula não implica apenas em didatismo e domínio do conteúdo, mas uma enérgica aplicação de esforço físico.

Os professores reagem inconscientemente a leitura dos sinais que tiram dos rostos cansados e se viram como podem - são teatrais, dramáticos, um pouco palhaços, um pouco sérios e circulam intensamente dançando entre as carteiras.

E você não tem idéia da força necessária levantar uma classe de estudantes.

Um dos memoráveis capítulos do repassado, E.R. James Woods interpreta um exagerado professor de bioquímica em uma faculdade de medicina.

Sua aula é uma demonstração do que significa o entralaçamento da mente e do corpo na arte de ensinar. Ele se impõe por um rico repertório de gestos para mostrar as complexas amarras conceituais que nos permitem entender como interagem as moléculas fundamentais que sustentam a vida.

Ele mostra paixão.

Até que a personagem de Maura Tierney, a Abby Lockhart, lhe procura para cancelar a matricula do curso e desistir.

Alguém experiente que está de costas para o quadro negro entende que há mais coisas em jogo do que a nota final.

Pergunta ele....

"Você gosta de triatlon?"

Ops, ato falho... ; -)

"Você gosta de esportes? Patinação? Dançar? Todo mundo gosta de dançar"

Ele a rodopia com um charme desinteressado, ao mesmo tempo que lhe mostra a diferença entre decorar as coisas e pensar conceitualmente.

Mas não dá certo. Ela é muito prática e pessoas práticas se impacientam com metáforas.

Ele lhe faz uma proposta. Ele chega mais cedo na faculdade e ela pode procurá-lo.

Em três semanas, garante... ou, melhor "aposta ele", ela estará pronta para passar no exame.

"Ten Bucks"

Ela não se dá por vencida

"Gostaria de ter a sua confiança" ela diz.

Ele, "Eu tenho. Não desista".

E complementa....

"Não fosse só isso, vou lhe ensinar a lutar".

É a lição que ela lhe recorda quando ele está em uma cadeira de rodas disposto desisitir da vida.

Essa cena é inesquecível.

Ela fala sobre a importância das pontes de confiança. As vezes temos a sorte de encontrar pessoas com o dom da coragem recíproca, aquelas que, tal como no verso da poetisa Hannah Kahn, são capazes de dizer "me dê a sua mão que eu caminharei na luz da sua fé em mim".




terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Papo de Besteira

Não faz muito tempo, me vi enroscado em uma discussão sobre um texto que fiz e que algumas pessoas reconheceram na escrita de outra pessoa.

A principio, reagi mal. Eu tenho uma verve portuguesa daquelas, mas sempre que me vejo em arranca rabos o momento seguinte é de arrependimento.

Não pela pessoa, que realmente fazia por merecer as tamancadas.

Mas quem está no entorno, não. Lavar roupa suja em público é agressivo e ofende quem não gosta de bate-boca. Em fóruns de amigos, aprendi que quebra-pau é um constrangimento desnecessário.

Adotei uma atitude mais civilizada e escrevi uma reclamação para o site que hospeda os textos. A primeira resposta foi burocrática, típica das empresas que falam em atendimento preferencial e colocam um telemarketing na frente para dizer a falha não é dela, mas da terceirizada.

Insisti um pouco mais. O editor foi mais atencioso e disse acreditar tratar-se de uma coincidência - portanto, parentenses, implicitamente ele reconhecia a similaridade - fecha parênteses.

Além do que não seria possível provar nada, já que a própria autora negara tudo.

Coisa assim, "vamos acreditar que se trata de uma confusão".

De fato, não é uma questão simples. A cópia não é "corte e cola".

O que essa gente faz é pegar as referências do texto, montar um arranjo diferente e depois colocar uma conclusão.

Mas como os textos guardam o DNA dos autores, quando alguém lê segue-se aquela dúvida: "Onde foi que eu já li isso mesmo?".

Trata-se de uma luta perdida, pois é dificílimo comprovar algo no momento em que tudo na Internet é público e suscetível a interpretações.

Bem, percebendo um atitude mais sincera do editor, resolvi dar um voto de confiança e acreditei que a coisa não se repetiria.

Mas se repetiu.

Pedi um opinião sobre a descrição que fiz do 70.3 de Vegas, especificamente a segunda parte, e o texto da "blogueira" que comenta porque os triatletas fogem de provas dificeis.

De cinco, apenas um disse que a cópia seria questionável.

Escrevi novamente para o editor.

E a resposta, nenhuma.

Até certo tempo atrás, blogs eram manifestações espontâneas de pessoas que apenas queriam fazer relatos despretenciosos com cara de diário sobre treinos e provas ou eram movidos pela compulsão em escrever sobre o que lhes desse na telha.

Posteriormente, alguns atletas tentaram fazer seus blogs como forma de comunicação e espaço para marcas de apoio - poucos deram certo e, com o aparecimento das "Fan Pages" do Facebook, a coisa foi por outro caminho.

Mais recentemente, apareceu uma categoria nova no pedaço, a dos "blogueiros profissionais".

Há coisas bacanas e coisas não tão bacanas.

Enquanto alguns tem seu público por uma questão de carisma, identidade e uma mensagem consistente, outros são selfies que vêem as redes como uma vitrine comercial para aproveitar as oportunidades que estão ai.

Entretanto, como não tem experiência ou conteúdo, abusam de textos copiados ou se apóiam em uma pauta superficial que lembra bastante os programas domésticos de aconselhamento feminino, com posts que têm a profundidade de um pires: "você faz triathlon e seu namorado não te apóia?" ou "você se sente mal trocando a balada por treinos?".

Infelizmente, qualquer coisa hoje tem leitores na Internet.

As vezes alguém diz:

"Hoje treinei com o cabelo molhado"

334.456.456 curtidas.

"Tenho uma familia linda, todos me apóiam e só tenho a agradecer".

345.456.455.346.495.450.765.941 curtidas

"Ele é lindo, me compreende e está sempre ao meu lado nos momentos mais difíceis" ( acompanha foto do cachorro)

10 983.454.546.657.578.094.645.238.623.089.303.856.453.456.054.592.323

Como essa audiência esses selfies oferecerem a sua rede de contatos como moeda de troca para angariar "apoios" de lojas e marcas.

Depois entopem o Facebook e o Instagram com fotos que lembram os quadros de Picasso, nas quais posam como modelos ao lado de potes de suplementos e marcas de roupa.

Alguns sites que têm patrocinios de lojas on line aproveitam a onda e dão espaço esse tipo de blogueiro como uma forma de obter conteúdo gratuíto.

O resultado dessa associação de interesses é que, a cada click no texto, como mágica aparecem suplementos no armário de um e reais no bolso do outro.

Dentro do "modelo de negócio", nada ai é ilegítimo.

Agora, alguém me perguntou se eu quero contribuir com a terceirizada?

Não tenho e nunca pedi "apoio" a ninguém. Não compartilho marcas de suplementos, você não me vê comentando sobre material esportivo, não faço propaganda da minha assessoria, não falo sobre lojas e não quero necas de desconto em oficina para ter a obrigação de falar de alguma.

Não recebo brindes, amostras grátis ou uniforme de confecções. Mesmo escrevendo no site do MundoTri, compro a Revista como qualquer outro outro.

Sabe por quê? Porque sou um amador sem nada de especial e acho piada montar um currículo de resultados sem resultado nenhum.

Se falarmos em "formador de opinião", ai a coisa é pior ainda, já que sou um fracasso até para convencer a minha sobrinha que ela tem que estudar inglês.

O Blog é apenas um passatempo para noites de insônia ou uma linha de diálogo com os participantes do maior grupo de amigos do triathlon brasileiro, o Três Meios.

A exceção do Edú, todos os outros são imaginários.... ;-)

Portanto, não é um campeão do Ibope, mas tem alguns leitores cativos (minha mãe lê sempre, eu acho) e desde de cedo decidi que não montaria um bazar de amigos para vender tapawer.

Se estamos entrando no mundo das "webcelebridades" em que pessoas que escrevem na internet têm mais benefícios que atletas (amadores ou profissionais) com uma lista de serviços prestados pra mostrar, então alguma coisa está errada.

Muito errada.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Dash 113

Depois do 70.3 de Vegas tinha me decidido que, em termos de provas, 2013 já tinha acabado.

Não tinha hipótese. Nenhuma. No way....

Faltando coisa de 30 dias para o Dash 113 estava lá eu com a inscrição na mão.

Sentiu a firmeza? ;-)

O Rodrigo achou que a gente não precisava mexer na planilha "relax" do segundo semestre, já que havia a bagagem e treinos de manutenção relativamente calibrados para o final do ano.

E também dei uma "maria vai com as outras" porque, no fundo, eu queria ir.

Quando olhei a lista de inscrição estava lá um turma que interage muito pela Internet, mas que se encontra pouquíssimas vezes.

Nem vou me aventurar a escrever o nome das pessoas todas, porque certamente vai ficar gente de fora e não vou me perdoar depois...

Outra coisa era dar um tempo no trabalho - um tiquinho de folga na loucura.

Funciona pra mim como uma imersão de três dias em que eu consigo deixar um pouco os problemas para trás - mesmo que colocando outros na frente, já que participar de um meio-iron, bem...

Participar de um meio-iron....dói!

Pois não adianta dizer que a gente faz inscrição para "curtir a prova".

Eu já sabia que seria sofrido.

Estou nadando todo dia, mas fazendo treinos curtos de corrida na esteira e muito rolo, pois bike, mesmo, só três treinos longos no final de semana entre setembro e a prova.

O resultado foi um misto dessa preparação, uma displicência que me não deixa e um pouco de azar.

Nadei 1.900 metros para coisa de 33 minutos, mas mais importante que o tempo foi o fato de ter me sentido bem nadando no bolo. A gente treina muito em piscina ou em águas abertas com pouca gente e, é óbvio, não há como simular uma largada de triathlon com aquele aperto e a pancadaria geral.

Até a primeira bóia foram todos juntos e, a partir dai, a natação começou a fluir. O mar estava flat, não havia correnteza, a sinalização era boa e o percurso tinha apenas uma perna.

Meu problema começou quando fui tirar o Wetsuit. Desde de quando comprei o meu, não cortei a borracha na altura do tornozelo, deixando-o mais curto. Quando vou tirar é uma dificuldade impressionante.

Preguiça, óbvio. Já era para eu ter resolvido isso faz tempo, só que fico sempre adiando porque a próxima prova ainda está longe e assim vai....

Fiquei lá esperneando no chão tentando soltar as pernas. Quando finalmente consegui, tive vontade de ficar pulando em cima dela e depois dar uma bica naquela #@#$%$#...

Mas eu tinha que me mandar para a estrada.

O pedal é ótimo. É um trecho bem conhecido para quem já fez o Iron de Florianópolis.

E rápido, sem dúvida.

Há predomínio dos trechos planos, poucos rolling hills e uma ou outra subida.

Vento? Tem.

Mas pedalar e reclamar do vento é quase o mesmo que nadar e ficar falando mal da água.

Agora, é fácil?

Depende. Para quem faz força, garanto que não é.

Tive um contratempo quando o shift que regula o câmbio foi para o espaço e pedalei boa parte da prova no Big Gear, na relação mais pesada.

Tudo bem, eu já estava pedalando assim. Mas sabe o que atrapalha?

A gente perde a concentração tentando entender o que aconteceu, depois tenta resolver o problema puxando algo aqui e ali e, finalmente, fica pensando se em algum momento a coisa vai piorar.

Consequentemente, o ritmo de prova cai.

Passei em um posto e achei um mecânico, o Adriano, que me ajudou com a resolver o problema rapidamente. Dali em diante, tentei um prova de recuperação, pois tinha como meta tentar algo em menos que 2:30.

Consegui 2:26. O percurso tinha 88k e achei de bom tamanho.

Sai para correr com as pernas soltas, mas no último terço o ritmo caiu bastante porque eu estava sem preparo para fazer a prova no ritmo que gostaria e devo ter perdido muito sal também, já que minha roupa estava branca. E sentia meu corpo quente como nunca senti....

Os dois últimos quilômetros doeram demais. Fiquei pensando ali, naquele momento, que bom que não estava em um Iron....

Fechei a meia em 1:46 e a prova em 4:55, o que deu um oitavo lugar na categoria.

Em termos de resultado, foi bacana, pois qualquer coisa nessa distância em menos de cinco horas me deixa feliz.

Mas também soou um alerta: tenho que treinar mais até maio e deixar de ser tão displicente.

Sobre a displicência, o Rodrigo fica uma arara com isso.

E, de fato, ele tem razão - sempre acho que uns minutinhos aqui, outros ali, não fazem diferença.

Mas fazem. Quando consultei os resultados, vi que poderia ter uma classificação muito melhor se simplesmente tivesse tirado a roupa de borracha mais rapidamente.

Isso é reflexo da minha mentalidade, da dificuldade de mudá-la.

Eu tenho 14 provas com a distância de meio-iron e, a grande maioria delas, com um tempo na casa das 5:20.

Na minha categoria esse tempo não torna você uma pessoa competitiva.

Entretanto, quando eu passei a fazer a prova em menos de 5 horas isso se tornou algo mais próximo da realidade.

O problema é que isso não entra na minha cachola amadora. Então não me esforço para dar conta dos detalhes que podem fazer a diferença.

Sobre a prova....

Houve erros em pontos simples: faltou água em alguns postos e copos em outros (teve gente que pediu para beber refrigerante no gargalo da garrafa) e a coca-cola tinha gás.

Os cones na corrida tinha um trajeto confuso em vários pontos e a gente batia cabeça aqui e ali com quem vinha na direção contrária. Também fiquei cismado com os carros, pois havia cruzamentos sem ninguém da organização para orientar os motoristas.

Foram fornecidos três chips. O que ficava na perna rodava o tempo inteiro no tornozelo e incomodou. 

A cada volta na corrida, recebiamos espátulas para colocar no braço. Eu nunca tinha visto aquilo e não tinha idéia de como funcionava. Fiquei segurando até ver que descobrir que ao bater no braço ela se transformava em uma pulseira.

Parece bobagem, mas quando falta oxigênio no cérebro, acender fósforo parece tão difícil quanto resolver um cubo mágico.

Bom, seria legal ter também uma equipe para ajudar a tirar o Wet.

Não houve separação entre o tempo da T1 e da natação e os tempos dos penalizados (não sei se de todos eles) foi somado ao total - o que distorce um pouco as médias por categoria.

Mudaram algumas coisas que estavam previstas e houve alguns problemas de comunicação, tal como o cancelamento das largadas por ondas e a disposição das bóias no mar.

Mexer no regulamento é uma possibilidade prevista no próprio regulamento, mas as informações devem ser claras.

Quando, por exemplo, pedi para me ajudarem a tirar o wet, o staff me informou que não era permitido - só que o regulamento da prova não diz se é ou não é.

Mas o que me deixou mais cismado foi não ter visto a fiscalização na segunda parte do pedal, o que gera dúvidas se a quantidade de penalizações foi justa ou não.

A organização falava em desclassificação para a elite e cartões de advertência e desclassificação para amadores - mas vi alguns pelotões (grandes e pequenos) e nas duas vezes que me lembro de ter cruzado com o pro-masculino, eles estavam agrupados.

Já entre as meninas,  tive impressão oposta.

Agora, os pontos positivos: preço, kit excelente, jantar de massas muito bom, exposição sobre a prova no Congresso técnico didática e detalhada.

Vale o elogio pelos aplicativo criado para celulares, assim como foi positivo o uso do Penalty Box e o teste antidoping, pois tecnologia e provas limpas tem uma caminho bacana e certamente serão um diferencial importante.

O evento lembra um pouco Pucon no que se refere as facilidades de locomoção em torno do Hotel e o percurso todo dá gosto de fazer.

Mas talvez o ponto mais forte do Dash 113 é que ele pode ser o laboratório de testes ideal para quem planeja fazer o Iron em Florianópolis. Você terá uma amostra do ambiente da prova, vai entender melhor o percurso e poderá ainda se inteirar rede de serviços que terá ao seu dispor durante o tempo que ficará por lá.

Agora é tocar a agenda de 2014. A próxima é o Internacional de Santos.

Não, minto.

A próxima é arrumar essa %$#@#$ do wetsuit

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Memórias e Lembranças


Há um tempo atrás, houve uma matéria no Esporte Espetacular sobre uma ultramaratonista chamada Diana Van Deren que, ao sofrer uma cirurgia reparadora no cérebro, perdeu a memória recente. 

Por conta dessa cirurgia, entende-se que essa atleta possa correr centenas de quilômetros sem que sinta exausta, simplesmente porque sua mente ignora a distância acumulada e lhe dá apenas as lembranças dos quilômetros mais recentes.

Você pode ter visto a matéria e achado que ali estava uma pessoa especial.

Certamente. 

Mas, guardadas as devidas proporções, isso não é incomum.

E se fossemos também assim? 

Será que a nossa memória é tão mais elástica que a dessa atleta?

No último texto que consegui emplacar no MundoTri vai uma discussão que julgo bacana sobre nossas lembranças e memórias.

A  "dor" era o objetivo principal do texto, mas apenas o mote para uma descoberta que achei fascinante - nosso registro do passado não é fiel como um filme em relação ao seu roteiro, mas trechos imperfeitos de uma história imperfeita.

Há vários testes que poderiam mostrar que os objetos que estão no nosso entorno não são representados na nossa mente tal como eles de fato existem na realidade. As cores que você vê nesse blog, por exemplo, são apenas representações possibilitam a você distinguir entre os objetos na página.

Mas não é esse o objeto principal dos textos do Daniel Kahneman - a questão dele não é  apenas descrever a relação entre o nosso cérebro e os objetos distribuídos no espaço, mas  apontar a fragilidade dos nossos julgamentos sobre temas sobre as quais não teríamos qualquer sombra de dúvidas. 

A forma como julgamos o passado nos dá a ilusão de que nós o compreendemos. 

Mas isso não é uma verdade. 

Essas descobertas por vezes abalam o julgamento que fazemos das coisas. Você acha, mas apenas acha, que domina todos os fatos.

Mas a experiência humana é assim, rica e contraditória e sempre um assunto delicado pois estamos falando de nós mesmos. 

Eu mesmo, quantas vezes me questiono se realmente gostaria de saber certas coisas.

Talvez nosso maior pecado não seja a falta de compreensão sobre tudo o que a vida nos traz, mas a excessiva confiança no que julgamos saber sobre ela.

Alguns dos textos que saem do Mundotri são apenas tentativas de tornar conhecidos esses paradoxos. Eu tento reportar isso de forma acessível para um público que gosta de triathlon com a linguagem desse público.

Portanto, nada disso é meu. 

Para aqueles que querem a "pílula vermelha", recomendo "Rápido e devagar, duas formas de pensar", livro que parece aqueles trabucos de auto-ajuda que você encontra aos montes em livraria de aeroporto, mas que resume as teorias de um Prêmio Nobel de Economia ao longo de uma vida notável como acadêmico e pesquisador.

Mas é um texto impactante. Não é de leitura difícil e muito menos inacessível, só que não vá esperando um texto em que você lê uma vez e põe de lado.

O vídeo abaixo é a palestra que esse senhor simpático e divertido fez no TED e tem como tema o texto que acabei de disponibilizar no MundoTri. Apenas tive a oportunidade de repassá-lo ao Cyrino, quando ele comentava sobre os mistérios desse conceito chamado "felicidade". 







quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Minha mão esquerda….

Nesse final de semana passado o Ironguides promoveu um Training Camp coordenado pelo Rodrigo Tosta na cidade de Rio Preto, Minas Gerais.

Para quem nunca ouviu falar, trata-se de um período em que pessoas ficam imersos fazendo treinos específicos, ouvindo palestras ou mesmo interagindo e se socializando com outros atletas da mesma assessoria.

No caso da Ironguides, que é uma assessoria que funciona com treinamento a distância, era uma oportunidade diferenciada.

O Rodrigo nunca me viu treinar, por exemplo.

Sei que há pessoas que ficam "meio assim" com um métodos de trabalho baseado no envio de planilhas e dúvidas tiradas por email. Quando a pessoa tem um perfil mais voltado para treinamento em grupo ou aprecia o técnico sempre ao lado, parece que mais difícil ainda entender.

O problema é que as vezes as coisas não são o que parecem ser.

Eu conheço assessorias em São Paulo cujos técnicos fazem atendimento personalizado não importa o número pessoas que eles treinam e poderia passar horas falando bem dos caras que estão a frente delas.

Mas conheço outras em que o indivíduo vai pelo nome do técnico que escreve em revistas ou sites especializados e, chegando lá, quem dá treino mesmo é o sócio ou o assistente, enquanto o bonitão só fica com o filé dos endinheirados ou quem tem status.

(Embora, diga-se, as vezes o caboclo é melhor que o dono e você sai ganhando na troca.)

Acho que tudo depende do perfil do atleta e do domínio que ele tem dos fundamentos do esporte que escolheu.

No meu caso, a coisa funciona bem porque gosto de treinar sozinho, fazer meus horários e o convívio social dos amigos da USP ou no Riacho Grande não depende da assessoria em que treinamos.

Mas aqui também não vou fazer uma defesa cega do coach on line porque não coloquei meu senso critico para dormir.

Foi nesse Camp que eu tomei consciência da necessidade do coach observar você para a correção de rumos.

Sim, isso é necessário e eu estava errado por pensar de modo diferente tempos atrás. Hoje reconheço.

No meu caso em especial, o Rodrigo estava curioso para observar a minha natação, já que os tempos que lhe passo para a piscina não são coerentes com o resultados das provas.

De fato, eu tenho um problema de navegação. Com o GPS observo que nado em zigue-zague e sempre contabilizo mais metros que o necessário para completar a natação.

Depois de Vegas estou nadando praticamente todos os dias tentando melhorar isso.

Mas no Camp o Rodrigo encontrou um problema na minha técnica, particularmente na entrada da mão esquerda na água.

Eu nunca tinha me visto nadando ou mesmo tirado fotos, tais como vários amigos já fizeram - Xampa, Curado ou o Alexandre, só para falar de alguns que me recordo no momento.

Eu realmente gostei de ter feito isso e visto o resultado.

Observe nesse video minha última braçada com a mão esquerda. É um pouco sutil, mas quando você nota é bem claro que o meu braço esquerdo "varre"a superfície da água quando me preparo para respirar.




Veja na figura abaixo a conseqüência: o braço esticado fazendo uma barreira e contendo a impulsão feita pelo braço direito, que está submerso.




Por outro ângulo.



Agora, com o movimento corrigido em quase todas as braçadas.



Para acertar esse movimento, tenho que forçar a entrada com a mão apontando para o fundo da piscina.

Embora pareça natural fácil, não sinto dessa forma. Ao fazer a entrada corretamente, me sinto desconfortável.

E esssa falta de espontaneidade é uma claro sinal que o movimento correto não está encaixado na maneira como nado e que facilmente volto ao errar se não me policio.

Mas quando isso acontece perco a espontaneidade.

Por isso,  quando está corrigindo a técnica, é esperado que você piore antes de melhorar.

Isso é natural e demanda paciência.

Dai a prática repetitiva ser fundamental - você deve praticar até o momento em que não pensa mais no que está fazendo.

É o oposto do aprendizado do jogo de xadrez, pois é um aprendizado mecânico, que se dá fora da consciência.

Para finalizar.

Certamente você já viu erros grosseiros de tenistas de nível mundial em momento decisivos  ou jogadores de futebol experientes perdendo pênaltis inacreditáveis em partidas importantes.

Esses erros podem ser debitados ao fato desses jogadores se preocuparem demais com a possibilidade de errar.

E ao se policiarem,  desabilitam o sistema espontâneo que permite o jogo rápido baseado no puro reflexo.

Usam a habilidade do jogadores de xadrez para executar um forehand.

Perde-se a fluidez natural, tal como os iniciantes caem de bicicleta.

Esse é o motivo dos erros parecerem tão toscos, pois se acentua o contraste entre a habilidade de jogadores exímios e a conclusão do lance.

Temos a sensação de que esses jogadores voltaram a ser principiantes.

Mas foi isso que de fato aconteceu.

Os lances erráticos dos grandes atletas e os caminhos da minha mão esquerda na água mostram as singularidades que compartilhamos, todos, por meio de uma mesma genealogia.

Ela nos unifica mais do que nos distancia.

É nossa grande identidade.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Fotografias....

Recentemente fiz uma incursão pelo Instragam. Curiosidade.

E já fui desconfiado.

Sempre que se fala em fotos me vem à mente o massacre dos albúns de casamento ou de festas de crianças. Aqueles que aparecem no seu colo quando você faz visitinhas sociais despretensiosas de "meia-hora".

É aquela adrenalina, sabe? :-(

E nem adianta mostrar interesse fingido porque não funciona.

A mulher senta do seu lado, bem pertinho, para fazer o papel de "comentarista".

E comenta mesmo.

Ai você educadamente meio que pula uma foto, mas ela percebe, pega na borda página e volta porque tem "um detalhe" na anterior que você precisa ver...

E tem gente que filma. Eu não sei se é pior...

Não, acho que é pior...

Porque só usando força fisica para pegar o controle remoto e colocar velocidade quatro.

Eu tenho problema com esse negócio de tirar foto. Têm os traumas da infância.

Sou de uma época em que se você era menino e tinha muitas primas na casa, como era o meu caso, foto pelado com tudo de fora é o que não falta.

De frente e com os braços pra cima.... :-(

Acho que é por isso que quando alguém pega uma câmera e diz "vamos tirar uma foto" eu faço cara de assustado...

Mas a despeito das brincadeiras, filmes ou álbuns de fotos resguardam parte dos nossos laços que, não fosse por eles, se perderiam fora da nossa memória para sempre. Nós temos vínculos com os momentos que deixamos para trás porque eles nos fazem lembrar de onde viemos e com quem estávamos.

Como dizia Walter Benjamin, as fotografias são dotadas de "aura", isto é, um objeto que nos dá a sensação de presença próxima de algo sempre muito distante.

Poucos no Instagram conseguem capturar esses laços emocionais no instante em que eles afloram. Um número menor ainda utiliza uma câmera pelo prazer de retratar a vida nas ruas, no transporte, nos parques tal como os pintores de paisagem faziam antes de câmeras fotográficas surgirem.

É uma pena.

Não dá para deixar de notar que uma parte significativa das pessoas fazem do Instagram uma boutique virtual para exibicionistas e voyeurs de photoshop.

Entre as coisa que me chamaram a atenção, estão as centenas de garotas mostrando o abdômen  no elevador, exibindo-se no espelho da academia ou fazendo caretas provocantes para elas mesmas.

Sou totalmente desavizado ou isso virou uma cultura?

Parece que montaram um esquema hierarquizado de autoflagelo.

No topo, as "garotas fitness" que mal disfarçam a intenção que de servirem de chamarizes para o mercado de assessorias de corrida, academias ou personal trainners. São mulheres que parecem desenhadas com a mão, embora pouco do que está sendo visto se explica unicamente por treinamento e o uso de anabolizantes é evidente nos traços masculinizados do rosto e coxas de jogadores de futebol.

Já a um degrau abaixo na evolução, estão as meninas um tanto mais mirradinhas que curtem tirar fotos na academia "levantando peso" ou correndo. É uma cadeia de egos alimentada por outras meninas muito parecidas e que transformam o Instagram repetição infinita de imagens, tal como um espelho colocado de frente para outro espelho.

Não vou particularizar.

Tem gente que dá como certo que essas meninas são aquele tipo manjado de "loiras ou morenas burrinhas de gosto duvidoso que posam com a bunda arrebitada e gostam de mostrar o braço definido e as costas largas porque são vazias e superficiais."

Não sei se é bem assim. Não dá para saber.

Porque entendo que existem aquelas que se dedicam ao corpo para mostrar disciplina e uma vontade inquebrável ou estão dispostas a mostrar alguma coisa que tem sentido para elas. Pode ser uma tentativa de perder peso, resgatar a auto-estima ou reconquistar a confiança depois de uma fase difícil na vida.

Mas por quê embrulham essas qualidades pessoais em um pacote que não reflete esse interior?

Que história as pessoas contam falando "da conquista" de gominhos na barriga?

A isso chamamos "lógica de açougue", para usar a feliz expressão de uma atleta fora do comum chamada Marília Coutinho. Se as meninas acham que "levantam peso" deveriam dar uma zoanhada no Blog dela.

Parece que as mulheres estão a procura de "serviços de oficina" para mudar partes do corpo que lhes parecem deficitárias em relação ao tipo ideal que vêem nesses modelos de parafina.

E são correspondidas por profissionais que repassam exercícios focalizados para remodelamento de nadegas, coxa, barriga - mas os tais profissionais que vendem esses serviços de funilaria são bastante comedidos em expor que essa remodelagem tem alcance extremamente limitado.

Como tudo parece uma questão de vontade, as pessoas que "falham" interiorizam a culpa por acharem que não se esforçaram o bastante.

Afinal, se "anything is possible", como poderia ser diferente?

Tenho lá minhas dúvidas se, ao invés de passarem uma mensagem de grande força de vontade, empenho e dedicação, essa lógica de esquartejamento não acaba servindo para alimentar os mais arraigados estereótipos que estão na base da educação sexual masculina - ou o pior lado dela.

Isso entre os homens.

Entre as mulheres fico pensando no efeito demonstração.

Quem vai adentrar a um mundo cuja porta de entrada é uma aterrorizante funil na qual só tem o ingresso meninas aparentemente perfeitas que parecem sair de uma propaganda de margarina?  Essa modelagem fake pode levantar comparações fora de contexto, dando a mulheres um sentimento de inferioridade e fracasso porque não reduzem o abdômen, eliminam a celulite ou apagam as estrias.

Sei lá.

Tenho duas sobrinhas e não gostaria que elas vissem o esporte ou a atividade física como meio para entrar na patota de habitues de shopping centers e de academias abarrotados de outras meninas produzidas por hormônios, dietas malucas e implantes precoces, sem falar nos transtornos psicológicos como depressão ou bulimia e nos desdobramentos negativos para a saúde reprodutiva delas.

Quando essa inflação de imagens têm algum sentido (muitas não têm), a intenção é mostrar aquela idéia radiante de felicidade aparente.

Mas no fundo a gente sabe que com as imagens até almas mortas podem parecer felizes.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

70.3 de Las Vegas

Depois do IM do Texas em maio a próxima prova seria o 70.3 de Las Vegas, no inicio de setembro.

Além de ser o campeonato mundial da categoria, essa prova ficou ainda mais conhecida em 2012 por um percurso pra lá de desafiador e o calor extremo em clima seco.

Traduzindo, uma prova pra gente cascuda.

Lembro que no ironbrothers, grupo de discussão no FB, o debate sobre a prova foi um UFC on line de uma pancadaria que eu jamais vi igual.

E tudo sobre uma pergunta simples: eventos em situações extremas são realmente razoáveis? 

A coisa foi tão feia que vários deixaram o grupo - alguns por ofensas pessoais dadas e recebidas, outros com "vergonha alheia" pelo tom da discussão.

Bem, o planejamento da viagem foi tranquilo.

A principio eu iria com a Endurance Sports Travel por questões de segurança, mesmo com a experiência ruim que tive com eles no Texas. O hotel ficava longe da prova e não havia lugar para pedalar. Qualquer deslocamento, só de Van.

Ai o Wagner Araújo, que iria fazer a cobertura do MundoTri, propôs rachar o Hotel.  

Como ele já tinha ido no ano anterior e sabia os macetes do lugar, não tive dúvidas. 

E não me arrependi. A escolha foi excelente, pois focava perto da T2 onde a gente fechava a prova e da Expo. Não tive problemas de logística, lugar para treinar e tudo era muito a mão.

Houve apenas uma sutil escorregadinha da minha parte.

Quando mandei os dados da passagem para o para Wagner ele me respondeu "Cara, estou olhando a sua passagem e....O que você vai fazer em Los Angeles"? 

Oi? Los What?????

Mas, vem cá: Los Angeles, Las Vegas, LAS, LOS...LOS, LAS...

Não é tudo parecido? ;-)

Se o planejamento foi legal, a viagem foi chata. Não encontrei ninguém no vôo indo para lá e voar mais de oito horas tendo que dormir em poltrona de avião não é das minhas atividades noturnas preferias.

Fora que andar no aeroporto de Las Vegas é como fazer uma viagem dentro de uma outra viagem. Peguei trem para pegar as malas e ônibus para chegar na área de aluguel de carros. Desconfio que foi lá dentro que tiveram a idéia do bilhete único...

Bem, os dias que antecederam a prova foram voltados para hidratação - duas caixas de água de côco e três galões de isotônico. Mesmo com o calor diminuindo dia após dia, ainda assim eu não estava querendo dar sopa para o azar.

Mas, surprise, quando estava indo para a prova, ainda de madrugada, chovia!!!

E chovia, mano!

Chegamos pouco antes da 6:00 na T1, horário em que seria fechada a área de transição. 

A largada seria em ondas e a minha estava programada para as 7:40. 

A água da chuva era fria e comecei a bater os dentes - eu que tinha me preparado para o calor mais forte da minha vida estava ali com medo de uma hipotermia.

Sentei no chão em um corredor sujo e escuro, mas coberto, e fiquei pensando na vida até dar 7:25.

Fui para a fila e fiquei feliz porque a água da lagoa estava ótima. Alinhamos e esperamos a largada.

A natação em Las Vegas é fácil. É ir e voltar em linha reta dentro de um lago com bóias de sinalização perfeitamente distribuídas e visíveis. 

Mas sou muito Bozó dentro da água. Mesmo sendo fácinho, nadei para coisa de 41 minutos. 

Além de não ser rápido, ainda nadei em zigue-zague, pois o gps mediu quase 2.100 metros. 

Sai para a transição tentando não escorregar no barro. 

Mas é óbvio que não adiantou. Escorreguei e fui de bunda para o chão.

E para levantar depois? 

Bom, a chuva não dava trégua e comecei o pedal quase sem visibilidade. 

Depois de um trecho curto no plano, há a primeira escalada que leva até a estrada. E essa estrada vai dar no Parque, onde por sua vez será feita a maior parte do pedal. 

É do Parque que saem as fotos bacanas da prova e que todo mundo vê na Internet.

Até o Parque você sobe, sobe, sobe até que, finalmente, dá de cara com outra subida....e sobe, sobe, sobe...

Já dentro do Parque, o padrão é subir a 14 km/hora e descer a 50 (ou 70 para quem é mais atirado). 

Lembra um pouco Romeiros aqui em São Paulo no que diz respeito a altimetria e também aos carros, já que mesmo em dias de competição o tráfego para automóveis não é proibido nem isolado por cones dentro do Parque.

A chuva continuava, mas o piso era ótimo e não percebi perigo de tomar um capote.

Percebendo as subidas longas, comecei a ficar encasquetado com a possibilidade de queimar a musculatura fazendo um esforço desproporcional. E também acreditava que deveria me resguardar um pouco, pois queria andar mais forte quando saísse de lá. 

Só que minha lombar começou a doer muito e a estrada não era o "retão" bonito com eu esperava. 

Fiz o pedal para 3:02. Como pedalo pouco para esse tipo de percurso, não era ruim.

Desci da bike com as pernas ótimas. Mas não foi o suficiente.

A corrida são três voltas. Mas totalmente fora dos padrões que estou acostumado.

Para se ter uma idéia, acho que, somados, os trechos planos devem dar coisa de 15 metros para os 21k. 

Comecei descendo bem e no ritmo do pessoal, que vinha forte e que tinha largado mais cedo. Mas nas subidas percebi que não tinha tração nas passadas e atacar as ladeiras era impossível, impensável, impraticável, im....

E também não conseguia compensar descendo o tempo que perdia subindo, pois a musculatura da perna ficava "embaraçada"depois de tanto subir e só soltava lá em baixo, quando eu tinha que começar a escalar novamente. 

O sol já estava dando as caras e comecei a sentir uma leve dor de cabeça, tal como no primeiro dia em que cheguei na cidade. 

Foi nesse momento que mudou a chave: como não tinha condições de forçar, desisti de uma boa corrida e alternei para um ritmo em que fosse possível administrar o desconforto e a dor,  já que perigava piorar e bater no meu limite mental. 

Deu certo e fechei a meia-maratona para 1:56. 

Foi abaixo de duas horas, mas não achei bom. Não gostei da minha postura.

Na corrida sou mais agressivo quase sempre, mas em Vegas eu não conseguia "agredir" o percurso e me tornei passivo dentro dele.

Ai você faz apenas o que a prova te permite fazer.

Finalizei tudo em 5:48, trazendo na bagagem várias coisas para pensar e muita autocrítica para fazer.

A primeira é que deixei que a discussão sobre a tempetatura e o clima seco da prova do ano passado retesse toda minha atenção e não atentei para as armadilhas do percurso, que é duro demais mesmo sem calor.

Segundo, um campeonato de 70.3 bem feito já faz por merecer uma preparação especial. Não dá para encarar um meio ironman de forma competitiva simplesmente colocando mais água no mesmo feijão dos treinos que vc fez quando se preparava para o Ironman. 

A gente tem a cultura de valorizar o Iron e usar a raspa do tacho para as provas de meio-iron alguns meses depois por uma questão de calendário. 

Outra questão importante é que o padrão brasileiro tem sido de provas rápidas. E nós nos habituamos a isso.

Mas por "provas rápidas" não se entenda "provas molezinhas da silva".

Significa apenas que passamos a maior parte do tempo treinando para competições planas, climas amenos e focados em intensidade. 

As provas no Brasil não pedem muito mais do que isso.

Então saímos para o exterior cheios de si porque fazemos sub-5 no 70.3 do Brasil, tiramos um pódio em Pirassununga e "detonamos tudo" em Caiobá.  

Só que chegando lá fora você vê nitidamente que deve reduzir suas muito suas expectativas. 

O nível de dificuldade é de outra natureza. 

Ninguém te dá um pedal com altimetria fácil para voar e muito menos uma corrida plana para chegar no Brasil e dizer bateu seu recorde na meia-maratona.

Só que deixa eu esclarecer uma coisa que dia sim, dia sim, é motivo de mal entendidos.

Não compartilho da opinião de que as coisas sejam assim porque as provas rápidas são escolhas naturais de triatletas brasileiros para satisfazer o ego de pessoas malemolentes e dar lastro para suas pavonices feicêbuquianas.

Não é bem assim.

Nunca vi alguém apontando o dedo para os corredores de rua pelo tipo de maratonas que escolhem, pois é absolutamente normal provas rápidas voltadas para quebra de recordes e outras que são fantásticas pelo desafio altimétrico do percurso.

No caso do triathlon de longa distância, nós ficamos mal acostumados dentro de uma cultura de provas rápidas por questões de estrutura, não de opções individuais.

É provável que o IM Fortaleza e o 70.3 de Brasilia, assim como outros circuitos que estão chegando no Brasil (Experience 100k de Canela), transformem esse quadro. Vamos começar a rever a utilidade dos nossos conceitos de PB e distribuição de status para atletas "sub isso" ou "sub aquilo". 

Mas, por outro lado, espero que não se comecem aqueles debates simplistas em que se passam horas na frente do computador discutindo de forma totalmente improdutiva qual é a prova mais "tradicional", mais "autêntica", mais "dura", mais "difícil"....

Trata-se de uma atitude de um provincialismo sem tamanho que vai transformando a convivência das pessoas em algo que tem o nível das brigas de torcida organizada cujo resultado, se tem algum, é a desvalorização do próprio esporte.

Ela nos tira algo de valioso que são os sentimentos de comunhão de valores e pertencimento.

Pois quando selecionamos eventos como provas de "primeira classe", entendemos que os que optam por outras são atletas de segunda.

Em países que têm um circuito mais diversificado de provas, os atletas são mais maduros e há um enorme respeito pelo esforço e o sacrifício alheio, seja qual for a competição escolhida.

Talvez porque compartilhem entre eles um conhecimento que pode ser traduzido nas palavras do Rafael Pina perto do pórtico de chegada do IM de Florianópolis esse ano.

"Nunca é fácil"