terça-feira, 30 de abril de 2013

Alturas...


Esse sábado tive um sonho...

- Pula, pode pular....

- Não.

-Rapá, você não pode ficar ai em cima. Pode pular...

- Não, não vô não.

- Merrrrrmão...

- Não quero nem olhar pra baixo. Tá muito alto aqui....

- Meu filho, cê vai ficar ai até quando?

- Aqui tá bom. Posso até subir mais se você quiser...

-  Você tem que confiar em mim....

- E quem me garante que você é o Rodrigo! Quem me garante que você não é uma alfafa alienigena que clonou o cara?

- Como não sou eu??? Que maluquice é essa?

- O Rodrigo é do Rio, velho! Onde já se viu um carioca falar "merrrrmããão"?????

- Vou falar como paulista? "Ô lôco, véio" ????

- Pra sua informação, paulista não fala assim! Quem fala assim é corinthiano mano! Corinthiano e motoboy da ZN e da ZL, tá ligado?

- A prova é daqui a três semanas rapá!

- Não quero fazer a prova mais!

- Oi?

- Vamos deixar para o ano que vem! Faço o ano que vem...

- Cê vai descer dai já! Vou ligar para sua mãe! Tô te avisando que vai ser pior...

-  Não, pra mãe nãããão.....

- Já tô ligando, aqui múleque.

- Tudo bem...vou pular!

- Vamos começar contagem regressiva ai você pula. Ao meu sinal, atenção: 5,4,3....

- Não, eu conto...

- Então conta...

- Nove mil, novecentos e noventa e nove, nove mil, novecentos e noventa e oito....

- Ôôôôô Vagnêêêêrrrrr.....

Bom, ninguém precisaria ler a  "a interpretação dos sonhos" para sacar que essa histórinha inventada significa que chegou a hora do polimento.

Como comentei com o Rodrigo, não é um momento fácil. Porque durante meses o técnico nos pede para subir, subir, subir o volume e, chegando em alturas que você nunca imaginou, ele te pede para dar um salto.

Embora a periodização seja uma redução de volume e intensidade bem pensada com uma contagem regressiva, não interessa: a sensação é que você está no topo de uma torre de oitenta andares e vai dar um pulo, só que lá embaixo tem apenas uma rede de proteção que você cobre com a ponta do seu dedão...

Esse período é todo complicado. As dúvidas que apareceram aqui a ali durante o treino agora caem de uma vez na sua cabeça como aquelas bigornas de desenho animado.

Você se vê diante de sentimentos confusos, pois a sensação de overtraining durante a parte mais dura dos treinos é repentinamente substituída pelo sentimento inverso, isto é, agora tem-se uma forte desconfiança de que não se fez o suficiente.

Ai vem aquela um mundo de sensações contraditórias: temos dores musculares ao mesmo tempo que nos sentimos destreinados e....obesos!!!!!

Quem já passou por isso tem como única vantagem saber que todo ano é igual.

Só.

Porque entre a tranqüilidade de se "saber" e aflição do "sentir" vai um longa distancia.

E, mais estranho: fico com a sensação que não tomo banho....

É, nem tente entender essas esquisitices...

Parece que me tiraram o chão....e o chuveiro.

Talvez você não sinta todos esses sintomas - eu tenho todos!

Portanto, acho que pouco posso fazer para quem está nessa fase...

Pois se nem o autor do Blog consegue se auto-ajudar, o que dirá "auto-ajudar" os outros, não é?

A única consolação que posso dar é que isso é assim mesmo e que essa angústia é normal. Não é necessário "lutar" contra ela nem sentir confuso, pois é apenas o seu corpo se ajustando para o embate que virá.

Então eu assumo que isso me angustia mesmo, faz parte e que, entre o técnico e minha mãe, o coach é mil vezes melhor.

Porque minha mãe diria algo assim: "Engole esse choro, agora! Eu disse a-go-rááááá. Olha o monte de roupa que eu tenho pra lavar e vê se tem "polimento" pra mim????  Vá-Vá-vá...."

Quando eu estou "meio assim" eu vou na casa da minha mãe e ela me dá um choque de realidade que vou te contar....

Saio de lá achando que eu tô mesmo é precisando encarar um tanque de lavar roupa...

Há outro sentimento, que eu chamo de "não sei o quê" e que é parecido com uma melancolia.

Mas não é bem melancolia....é um sentimento de não sei o quê!

Entendeu? ;-)

Como se gente deixasse algo para trás algo que doeu e ao mesmo tempo não quiséssemos nos separar ou esquecer inteiramente.

Há momentos em que você se sentiu quase vencido e foi capaz de terminar um trabalho simplesmente porque ele tinha que ser finalizado. E depois se sente bem apenas ao caminhar em meio a uma tarde de sol porque, mesmo com o corpo cansado, a mente está em paz.

E "deixar a mente em paz" é uma coisa que, pra mim, não é tarefa das mais triviais. Chega a ser um momento raro.

Mas esse processo não é tranqüilo. Acho que há cicatrizes que são dificeis de interpretar, pois ao mesmo tempo que é essas são a evidência mais crua de que somos aptos para suportar o sofrimento, ainda assim são cicatrizes -  e existem pessoas que não gostam de olhar para as suas.

Não é a toa que para muitos o Iron envolve uma experiência que não vale ser repetida.

E para desanuviar qualquer dúvida, não vejo nisso como problema algum. Um projeto de vida pessoal pode ser construído em outra esferas da vida, tanto no campo pessoal como profissional.

Porque tudo depende do motivo que nos leva a topar com essa parada - muita gente confunde um projeto de vida e uma oportunidade de crescimento individual com a simples realização de uma fantasia. A diferença é que os primeiros colocam a cabeça no travesseiro pensando em como vão se virar para dar conta no treino do dia seguinte, enquanto o segundo time imagina a pose que vai fazer quando estiver cruzando o pórtico.

E sou daqueles que defendem que se tem uma experiência de vida mais rica quando se fracassa na defesa de um objetivo autêntico do que quando se vence por um desafio imaginário apenas para auto-consumo.

No fundo, eu acredito que as pessoas se empenham por "paixões" - mas em um sentido mais amplo que esse com a qual nos acostumamos no dia a dia.

Paixão pode ser amor, mas também, orgulho, inveja, medo, ódio, tristeza, coragem e outros afetos.

Espinosa dizia que existem as "paixões tristes", que nos empobrecem, nos tiram a vontade de existir e nos torna menores do que o que realmente somos ou podemos ser;  e existem as "paixões alegres", que alargam nossos potenciais e aumentam nossa capacidade de perseverar.

Quando o esforço de perseverar se refere a alma chama-se isso de "vontade".

E porque perseveramos de forma obstinada?

Porque isso nos torna livres. Na filosofia, "vontade" e "liberdade" podem ser tomados como conceitos idênticos.

Sentir livre não é apenas escolher o que se quer e o que não se quer, mas seguir as potencialidades internas que nos impulsionam a agir até o limite da nossa capacidade. São os recursos que nós mobilizamos para a construção de um destino e que tem como base a força das nossas qualidades em todos os planos da vida.

Acho que essa definição, esse modo de ver as coisas, nos ajuda a entender a forma e o conteúdo das nossas expectativas.

No meu primeiro Iron eu tinha treinado tanto, mas tanto...salvo algum imprevisto grave, não havia hipótese não finalizar a prova.

E embora eu tenha ficado feliz por ter concluído, a felicidade estava mais no que eu "recebia de fora", dos amigos, pois me sentia orgulhoso de estar a altura das expectativas deles.

Mas e as minhas?

Demorei três anos para fazer a prova que queria. Aquela que refletisse o que achava capaz de fazer.

Lembro ter passado um amigo na bike e ele gritou brincando, mas um tanto sério,"assim você vai quebrar".

Eu não ia. Eu sabia.

Foi assim também quando estava correndo e o Rodrigo apontou o tempo para mim, dizendo que ainda faltavam dez quilômetros e tinha que manter o ritmo se eu quisesse fazer abaixo de onze horas.

Eu também sabia iria conseguir.

Eu sei que corro o risco de ser mal interpretado, mas não era arrogância e nem pretensão.

Era uma certeza que vinha de dentro. Não havia resistência, desperdício de energia e todas as forças que eu tinha dentro de mim corriam em uma mesma direção - eu não estava lutando comigo mesmo.

Cada braçada, pedalada e passada era um gesto livre, quase sem esforço.

E esse encontro entre as nossas potencialidades internas e a capacidade de realização externa é de uma alegria indescritível.

Assim, o salto que temos que dar é mais profundo.

Embora seja quase irresistível ficar nas alturas depois que se perde o medo, devemos lutar contra esse sentimento, pois essa sensação de liberdade não é real porque não nos confronta com o mundo.

O céu é apenas palco da nossa imaginação e, o abismo, uma fantasia adiada.

É preciso descer a terra.

terça-feira, 23 de abril de 2013

A Soma de Todos os Medos

Um assunto tanto corriqueiro que rola quando tenho a oportunidade de conversar com as pessoas nas provas diz respeito a apreensão em relação ao Iron.

Essa apreensão não tem uma definição muito clara, às vezes sendo colocada como medo, outras como ansiedade, mas geralmente uma angústia dificil de explicar.

O que é muito comum da nossa parte é tentar um approach otimista logo de cara: "não tenha medo", "não fique ansioso", "não fica isso", "não fica aquilo".

Somos criados dentro de certas convenções e achamos que fazemos bem as pessoas quando as incentivamos ou ressaltamos os pontos positivos em situações dificeis.

Amigos são assim. Mas deviam?

Sêneca diria que não.

Para ele essa postura poderia ser um remédio ruim contra a ansiedade, pois deixaria as pessoas despreparadas para o pior. Então o mais adequado seria dizer que o pior é possível, mas não tão ruim quanto nós o antecipamos na nossa imaginação.

Assim, ter uma atitude amiga e generosa de encorajamento...não funciona.

E, aqui entre nós, se tudo fosse uma questão de dizer as palavras certas.

Existem motivações profundas de ordem psicológica que explicam essas sensações e que não podemos controlar conscientemente. Para uma parte da psicologia evolucionista, nosso cérebro é espetacular, mas também é uma carcaça que ainda funciona a um passo anterior da evolução.

Por exemplo, ninguém tem medo das redes de auto-tensão, alimentos letais a longo prazo, fumar, dirigir a 180 km/hora, mas ainda persiste o medo irracional de aranhas, cobras ou outros animais que não convivem mais conosco, além daqueles que nem existem  - há muitos que não tem problemas para pegar uma arma de fogo na mão, mas tomam susto de dinossauros de brinquedo quando vão a um parque de diversões.

Há também o terror psicológico em que se embrulham todos os nossos medos desde de criança. São lembranças de personagens sobrenaturais ou simplesmente o medo do escuro e do desconhecido. Apesar de melhorar ao longo do tempo, em certos adultos isso persiste, tal qual aconteceu com uns e outros que assistiram "O Chamado" e depois ficaram com medo de olhar corredores vazios filmados em câmeras de vigilância eletrônica. ;-)

Há um teste interessante no youtube que mostra como se comportam alguns indivíduos em ambientes propícios para rememorar essas lembranças.

Eles caminham em um corredor escuro e estreito até lidarem com uma imagem que aparece repentinamente no final dele. Alguns correm, outros ficam estáticos e outros atacam.

O medo é assim: nos faz recuar, nos paralisa ou nos torna agressivos.

E a figura com a qual todos se assustavam era apenas da sua própria imagem projetada em um espelho.

No fundo, o que eu enrolo para dizer é que a angústia e ansiedade estão aí e nada se resolve dizendo "não tenha medo".

O que resolve é a coragem.

Coragem é uma "virtude" que mostra uma distinção de caráter que poucas pessoas têm -  por isso, merecem nossa admiração. Kant dizia que virtude não é o que nos torna felizes, mas o que nos faz merecê-la.

No fundo cada um de nós carrega lá seus medos e temos com eles um embate constante.

O meu, dos mais terríveis para várias pessoas, passa por falar em público.

Não me recordo de todos os detalhes, talvez tenha sido quando tinha eu 10 ou 11 anos e estava na quarta-série. Eu era apenas um menino nos anos 70.

E o que eram meninos nessa década? Eram rapazinhos que brincavam de revólver de espoleta,  metralhadora de plástico e ficavam horas na frente da televisão assistindo reprises e mais reprises do Fantomas, Super-Dínamo ou do "Homem de Seis Milhões de Dólares" - isso quando alguém não aparecia gritando no portão para ir jogar bola na rua.

Já as meninas eram muito diferentes das pré-adolescentes de hoje, que vivem de celular na mão, mas miram seu estilo de vida no prolongamento da infância.

As garotas da década de 70 tinham como referência mulheres adultas. Usavam maquiagem, andavam de salto e fumavam muito precocemente; tinham preferência pelos mais mais velhos e, em que pese serem repetentes e esnobarem a escola, eram culturalmente mais sofisticadas - andavam com livros, conheciam poemas e ouviam músicas em inglês.

Ficavam no portão da escola com outros rapazes que chegavam ali de moto e se fechavam num clube muito pequeno de pessoas - eram os "roqueiros".

Já nós preferíamos ficar perto do homem que vendia sonho, pingo de leite e geléia com a esperança de tirar uma premiada que dava direito a mais outra. Nosso debate cultural eram as incansáveis discussões para chegarmos a alguma conclusão se o Ultraman era pai, irmão, tio ou primo do Ultraseven e, tirando os livros da escola, nossas preferências literárias eram os álbuns de figurinhas disputadas no tapa.

A possibilidade de um encontro entre esses dois universos era algo como o choque entre a matéria e a anti-matéria.

Mas ela aconteceu.

Foi-se lá um dia em que professora inventou de fazer uma coisa chamada "amigo-secreto".

No dia do sorteio estava despreocupado, com a mais absoluta e inabalável confiança de que nenhum evento pudesse mudar a vida tranqüila de um garoto protegido pela rotina das brincadeiras de infância na periferia de São Paulo.

Talvez a mesma sensação que por ventura sentia um Dinossauro da mesma idade momentos antes de um meteoro gigantesco cair no México a 66 milhões de anos atrás e mudar a vida no planeta a partir dai.

Coloquei a mão na caixa e puxei o papel de maneira displicente. Virei as costas para a mesa da professora e fui andando de volta para a minha carteira, abrindo devagar o embrulhinho de papel com o nome do meu amigo secreto.

A menina mais bonita e visada do colégio era da minha sala - menina tão inalcançavel que o meu radar não a registrava como algo tangível, embora eu suspeitasse que ela existisse quando passava pela porta depois da aula ter começado e saisse antes de terminar.

E era o nome dela que estava escrito ali naquele papelzinho.

Passei dias tentando trocar o "bilhete premiado" com os meninos do meu grupo, mas estes me olhavam como se eu estivesse vendendo ingressos para um encontro com a loira do banheiro.

Como em todo amigo secreto havia trocas de correspondências.

E a garota, como não parava na sala, deixou para a última hora um recadinho dizendo o presente que ela queria. Sem coragem de ir até a mesa para não levantar suspeita, pedi para um amigo pegar para mim.

Ai a gente conversava murmurando baixinho.

- Então, o que está escrito???

Minha expectativa era algo como um saleiro, uma colher de pau ou uns paninhos de prato, já que minha experiência com presentes para mulheres se restringia ao que a minha mãe comprava para dar para as professoras no final do ano.

- Não dá para saber direito, mas acho que ela quer um disco do Elvis


- Tá escrito o quê?

- Tá escrito Kiss, "Disco do Kiss".

- Que "Kiss"???

- Eu só conheço "Kiss me Quick".

- Mas por quê ela não escreveu isso, então?

- Ela não fica muito na aula, né? Acho que ela não sabe escrever tudo.

Eu ali, naquela hora, não vou mentir: aquela resposta parecia a coisa mais sensata do mundo.

No outro dia procurei o disco nas lojinhas da Vila Maria e achei um compacto.

Pedi colocar papel de presente e dai era só aguardar o dia.

A pessoa que me tirou me chamou, ganhei o meu presente e agora tinha que retribuir para outra pessoa.

Foi ao me virar para a sala que então descobri que ser o centro da atenção de muitas pessoas não é uma experiência necessariamente agradável. Se você vê a largada do Ironman como um negócio tenso,  não entende o profundo significado da palavra "pavor" quando a gente tem que se expor na frente de trinta pessoas em uma situação a qual eu não teria coragem de encarar nem um quarto escuro.

Meu coração palpitava, sentia calafrios e uma brutal dificuldade para conseguir encadear uma frase...

Óbvio que tive um branco e esqueci o nome da menina.

Eu olhava para o fundo da sala e ela sorria deduzindo ser a pessoa, pois faltavam poucas para receberem...

Bem, não sei. Apenas lembro dela vindo em minha direção....

Mas um menino de dez anos não está equipado com um aparato biológico para a sequência de eventos que se dá em um amigo secreto, tal como as tartarugas já nascem sabendo que devem correr para o mar.

Nesse sentido, ali exigia-se uma decisão crucial e, consequentemente, de enorme maturidade.

Cumprimento de mão ou beijinho na bochecha?

Ela veio para dar uma beijo e eu estendi a mão, ai ela voltou, mas eu achei que ela queria e fui pra frente, mas me arrependi e recuei quando ela já estava vindo novamente. Vendo que ia bater a cabeça no meu peito, abaixei a minha, mas no reflexo estiquei braço para dar a mão de novo...

Ficamos os dois sem saber o que fazer.

Só um segundinho, por favor...

aaaaaaahahahahahahahaha....

Pronto.

Quando acertamos que seria um beijinho, não conseguíamos decidir o lado. Ficamos raspando o nariz um do outro até decidir quem ia para a esquerda e quem ia para a direita...

Até hoje não me recordo de como isso se resolveu. Quando tento me lembrar tenho sensação de desmaio - acho que meu cérebro sabe que eu não agüentaria o trauma de descobrir.

Lembro dela abrindo o papel de presente.

Tirou o disco, olhou a capa e sem olhar pra mim disse "obrigada" de forma doce como só as meninas sabem dizer.

Foi então que notei pela camisa que ela usava
que tinhamos entendido tudo errado.

Mas nem pelo tom de voz, nem pela expressão deu ela a entender que eu havia feito confusão com os presentes.

Ao me proteger daquele constrangimento, pela primeira vez tomei conhecimento prático de um conceito ainda muito abstrato na relação entre meninos e meninas: delicadeza.

E que a garotada....bom, você sabe que a garotada é cruel.

Mas ninguém disse uma palavra.

Não, não nos tornamos amigos ou nos falamos mais depois daquele dia. Sequer trocávamos olhares quando estávamos próximos.

Porque certos encontros são assim. São feitos de pequenas pontes que surgem ao acaso e apenas pelo acaso.

Falar sobre isso me faz pensar quantas vezes respirei fundo para vencer a timidez a fim de transformar um garoto introvertido naquilo que ele deveria ser.  Até hoje o menino de dez anos que vive no meu coração odeia se expor, mas a paixão pelas minhas vocações sempre foi maior que os medos dentro de mim.

Mas aqueles dias não consigo esquecer.

Naqueles dias a cauda de um meteoro cruzou o céu.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Ladrões de Galinha e Rinhas de Galos

Nesse final de semana fui ao Paraná para o Long Distance Caiobá, uma das provas mais bacanas do circuito de triathlon aqui no Brasil.

Apesar de ter encontrado muita gente e ter feito uma prova que me surpreendeu, desta vez não vou dar depoimento como sempre faço.

Dessa vez, acreditem, mas acreditem mesmo, vou direto ao ponto: vácuo.

Porque em todo "day after" o assunto que entope o encanamento das redes sociais é esse.

Circulam fotos, vídeos e listas com os nomes dos famigerados "vaqueiros" que se apropriam do esforço alheio para fazer o seu resultado.

Eu mesmo já deitei falação sobre o assunto quando comentei o Long Distance de Caiobá de 2012 e, mais recentemente, o Internacional de Santos de 2013.

Não, espera...

Também falei sobre esse assunto no post do Iron Brazil 2010, 2011...em Pirassununga em 2009...em 2010...No Internacional de Santos em 2012....70.3 de Penha em 2011...de novo Caiobá em 2010....

Meu, deixa eu parar que senão vai rolar uma depressão....

Mas, sei lá, acho que vivo da ilusão de que falar do tema vai contribuir um pouquinho para mudar a atitude das pessoas, embora eu já devesse ter me mancado que, pelo tanto que se discute o assunto,  melhor seria ficar quieto ou repetir algo genérico e fatalista tipo "enfim, é a natureza humana" e seguir tocando a vida.

Só volto ao assunto para dizer que em certos aspectos desta vez foi um pouco diferente e vou aproveitar para fazer algumas provocações.

Embora não seja fã do jeito com que o Célio lida com os atletas e muito menos do tom personalista com que ele administra as provas, gosto da obstinação dele contra o uso do vácuo.

E esse ano achei a estratégia da Cia de Eventos para coibir essa prática foi mais eficaz, mesmo que em alguns momentos a coisa tenha se dado aos trancos e barrancos.

No meu caso especificamente,  topei com um pequeno pelotão que tinha força para me passar mas não abria de jeito nenhum.

Na hora fiquei transtornado, mas agora fico dando risada.

Quando eu ultrapassava o grupo novamente,  os caras vinham atrás de mim tais como aqueles zumbis incansáveis dos filmes de mortos-vivos, saca? Como eles não morrem jamais por já estarem mortos, é fatal que em algum momento eles voltem a te alcançar....;-)

E fazem isso porque acham que você, quando os ultrapassa, está no jogo deles e assume a cabeça do pelote para puxar o ritmo. Quando cansa, o grupo te coloca "para dentro" como se estivesse lhe retribuindo o favor. Tudo até certo ponto de forma automática e involuntária.

Louco, né?

Tudo bem que eu reclamei. E ai foi pior....

Um deles ficou bravo comigo e disse que não tinha o que fazer pois foi engolido pelo pelotão e não podia "perder tempo".

Ou seja, ele se julgava vitima por ser "obrigado" a tirar vantagem dos outros!!!

Tadinho....

Em certo momento vi um fiscal, talvez o próprio Célio, e abri os braços e chamei a atenção dele apontando para o grupo atrás.

Ele veio e desbaratinou o agrupamento dando tempo para fugir daqueles fantoches de triatletas - que voltaram a se agregar mais a frente.

Outra coisa interessante foi a divulgação dos nomes dos atletas penalizados.

A princípio eu não gosto muito de discussões que fulanizam os problemas.

Mas nesse caso eu concordei.

A divulgação de listas pode ser pontualmente injusto ao expor publicamente pessoas que não estavam fazendo uso desse tipo de prática. Mas no meu entender as coisas andam tão fora de controle que as injustiças individuais, embora possam ser dolorosas, não suplanta a necessidade de uma coerção dura contra esses atletas - na prática do vácuo está tão massificado que os acertos no atacado são infinitamente maiores que os erros no varejo.

Só que o problema não se resume a jogar uma rede no mar e ver quantos bagrinhos caem nela.

Pois uma coisa são os zumbis que agem como ladrões de galinha e vão parar no caderninho do Célio.

Outra, uma turma que brinca de PCC para organizar Rinha de Galo dentro das provas.

E isso está em outro "nírvel" de armação.

Nesse jogo há pessoas no chamado "andar de cima" que vêem as regras não como convenções de comportamento que estabelecem limites para cada competidor, mas sim obstáculos a serem vencidos assim como o próprio jogo.

O melhor não é necessariamente aquele que ganha por sua condição atlética, mas o indivíduo capaz de infringir o regulamento sem ser apanhado pela rede de fiscalização.

Em Caiobá presenciei uma atleta estava sendo levada por três ciclistas. Quando me aproximei e pedi passagem pela esquerda, o sujeito que estava na retaguarda disparou um comando para os da frente "Abre!".

Eu olhêêêêêiiii aquiiiiiilo e pensei, "Será que eu estou ouvindo o que eu estou vendo?" ;-)

Depois, em um jogo de cena muito feio, as falastronas e os falastrões jogam a responsabilidade dos pelotes nas costas do organizador: uma hora é a pista que é muito estreita, outra o circuito que é muito curto e há muitos atletas ou o problema mesmo é que não existe ordem de largada por categorias.

Para certos grupos esse tipo de disputa nas provas de longa distância parece que incorpora normas de conduta típica do crime organizado, sobretudo no que diz respeito ao silêncio que a maioria dos triatletas se auto impõem para evitar discutir o assunto de forma muito barulhenta.

Enquanto isso, no "andar de baixo" os ladrões de galinha são expostos sem dó nas mídias sociais tais como delinqüentes em jornais da imprensa marrom.

Muito eventualmente escapa um bate-boca na Facebook, mas são discussões em que ninguém tem razão por falta de credibilidade de ambas as partes. Já em outros momentos,  a abordagem é superficial e se misturam  no mesmo bolo pessoas que eventualmente receberam penalização por uma contingência da prova com outras que tem prática sistemática de vácuo.

Mas colocarmos muito luz sob a cabeça dos atletas não resolve inteiramente o problema.

Então vem cá, deixa eu perguntar: até quando a gente vai fingir que as assessorias não tem nada a ver com isso, hein?

As escoltas masculinas para as meninas, marcadores de pace, monitoramento sobre o número máximo de advertências que um atleta pode tomar a fim de otimizar o uso da roda de outro atleta sem que o dito (ou a dita) seja desclassificada e outros expedientes que são impróprios para menores de 18 anos...

Quem organiza esse pacote de benefícios para "atletas platinum"?

Por quê os técnicos se colocam como pessoas acima de qualquer suspeita mesmo quando seus atletas são sistematicamente punidos ou desclassificados?

Por quê quando um(a) atleta é pego(a) sobre a assessoria nada se fala?

E, desculpe, ninguém vai me convencer que a prática do vácuo é individual e de responsabilidade exclusiva de quem participa diretamente da prova e ponto final.

Porque as assessorias e seus respectivos técnicos, se não promovem ou pactuam com atitudes desleais, no mínimo sabem.

Se me disserem que "não sabem" então pecam por omissão.

Envolver as assessorias e seus treinadores com esse problema seria uma forma compartilhar responsabilidades para termos provas mais decentes, pois obrigaria que elas ficassem atentas para o tipo de atleta que estão formando e estipulassem limites para tolerar práticas espúrias.

Claro que existem assessorias exemplares lideradas por gente de valor que comanda seus times dentro de uma filosofia de trabalho moralmente irrepreensível.

E acho que todos conhecem. Informação é uma coisa que circula rapidamente porque o mundo do triathlon é muito pequeno.

Mas não convém ter uma atitude para os ladrões de galinha e outra diferente para às "familias sicilianas" em que se transformaram algumas assessorias que fazem jogo de equipe em esportes individuais.

Melhor ser genérico do que fingir que esse problema não existe.

Cobrar mais das pessoas em termos de atitudes e conscientização ajuda; exigir mais fiscais de prova, idem, mas dar maior responsabilidade para as assessorias é um passo importante para derrubar esquemas que levam atletas à conquistas sem mérito.

Para finalizar, que tal os patrocinadores e apoiadores desses e dessas atletas ficassem um pouco mais atentos onde estão expondo seu nome e também contribuíssem com o esforço coletivo para um triathlon mais limpo?


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Treinos para o Ironman 2013

Bom, vamos começar de novo.

Já vai tempo não falo de treinos....

Há duas semanas estou com a última planilha até o polimento para o Iron, que será em maio, uma semana antes do IM Brasil.

Acho...acho, não: sem dúvida, a mais dificil que já tive mãos, embora fosse capaz de jurar que isso seria impossível dado o conteúdo da anterior.

No Ironguides a periodização para um Ironman é dividida em algumas fases como em qualquer método, mas as duas que antecedem o polimento são cruciais.

A antepenúltima tem como objetivo fazê-lo "aprender a durar". Trata-se de uma etapa em que já começam os treinos um poucos mais elásticos para que você tenha condições para aguentar o tranco que vem depois; na fase seguinte há uma mistura de treinos de intensidade e treinos de endurance, mas com o predomínio dos chamados "longões".

Olhando o meu caso especificamente,  acho que o Rodrigo mudou um pouco e inovou na periodização: ele primeiro me deu uma planilha para "Aprender a sofrer" e essa agora, cujo título deixo para a imaginação de cada um....  ;-))

Essa primeira planilha não foi fácil. Logo de cara ele me pediu que arrumasse um local plano para pedalar.

Pensei na base de Guarulhos. Pensei na USP. Pensei na Ciclovia do Pinheiros. Por sugestão do Flávio Ayra, do Beto Nitrini e depois de uma conversa com o Edú, optei por essa última. Não me arrependi, mas pedalei na parte recém inaugurada porque o restante, a parte mais antiga, me lembrava a raia da USP ou coisa pior.

Não é o ideal, pois o trecho é relativamente curto. Só que dá para treinar com mais qualidade porque o piso é o melhor que já vi e tive pouquissimos problemas com outros ciclistas - mesmo os que estão por ali apenas para passear.

Esse pedal entre quatro e cinco horas na Ciclovia do Pinheiros e a corrida que se seguia nas ruas da USP ao meio-dia me deixavam com uma sensação de espancamento que poucas vezes senti na vida. Expiei muitos pecados nesses treinos (mas pelo andar das coisas, sinto que ainda faltam outros tantos....;-)).

Mas foi necessário. Os problemas que eu encontrei foram justamente os fatores que me deixaram quebrado no Iron ano passado.

Acostumado com o tobogã dos treinos de pedal no Riacho Grande sempre imaginei que pedalar no plano seria "fácil" - tal como achava que seria fácil no Texas porque tinha lido que lá era "planinho".

E todo mundo viu o que aconteceu.

Desde de então faço questão de não imaginar mais nada de coisa alguma, sabe?

Tomei um nó daqueles para acertar o pedal na Ciclovia do Pinheiros, principalmente para me adaptar a combinação entre cansaço muscular, vento frontal e hidratação. E nesse ítem apanhei feio: uma hora era pouca água e pouco hidrólito; outra, pouca água e muito hidrólito - a boca ficava seca; na terceira, foi o inverso - saia para correr com a sensação de barriga cheia porque bebi água demais e hidrólito de menos.

Como o pedal no Texas consiste em apenas uma volta naquele interiorzão quente que Deus-me-livre-guarde, acertar esse balanço é critico para eu ir lá e não passar pelo que já passei.

Fiz tudo que foi pedido dentro das minhas limitações e passei por essa fase sem capotar o meu sistema imunológico. Tive boa recuperação de treino para treino tanto que, apesar desse pedal pesado no sábado, consegui fazer os longos de corrida progressivos de duas horas no domingo e recomeçar tudo novamente na segunda.

Agora, para essa reta final, o Rodrigo construiu uma estratégia com outra planilha em que os treinos longos ficaram mais longos e os treinos curtos, mais curtos.

Embora corra o risco de simplificar as coisas, a inserção de treinos curtos tem pelo menos dois objetivos: prover um balanço hormonal mais equilibrado, pois os treinos longos são de natureza catabólica  (metabolismo destrutivo) e os curtos de natureza anabólica (metabolismo construtivo) e, em segundo lugar, contribuir para o desenvolvimento e manutenção das fibras rápidas que, apesar de serem utilizadas predominantemente em provas curtas e de maior intensidade, também podem ser recrutadas para aumento força muscular em provas de endurance.

Por isso, caso seu técnico tenha esses treinos curtos na sua planilha, não os troque pelo seu sofá com a desculpa que "descanso também é treino", pois eles tem um papel importante para o seu processo de recuperação.


Esses treinos curtos, tirando a fase de aquecimento e soltura, não ultrapassam 60 minutos e são feitos em dois períodos entre segunda e quinta-feira.

Essa dosagem é um cuidado que tenho que tomar porque eu não sou das pessoas mentalmente mais fortes para lidar com treinos de intensidade. Acho que melhor descrição do inferno que alguém pode me dar é dizer que, chegando lá, tem uma piscina para eu passar a eternidade dando tiros de 100 metros para @1:35, uma bike estática para fazer Time Trial de 15 minutos "no talo" e gel de quiabo com leite moça para fazer reposição energética. ;-)

Acho que isso se deve ao fato de que, diferentemente da corrida forte, na piscina e na bike eu não consiga respirar direito e a sensação de afogamento pra mim é quase insuportável.

O Diário é mais ou menos assim:

Segunda começa com natação pela manhã, com aquecimento e alguns educativos, mas o núcleo do treino é  um intervalado de dez tiros de 100 metros que tenho que fazer para @2 minutos com um palmar - uso um da TYR que é excelente, pois é pequeno e pouco vasado, o que me permite fazer força sem prejuízo de um ritmo mais acelerado de braçadas

Não é tão difícil, mas é "meio coisado", sabe? ;-)

Já a noite tenho corrida na esteira - aquecimento e intervalados de um quilômetro com ritmo de 13,3 km/hora e elevação progressiva da altimetria (2 x 1km a 0%, 2 x 1km a 1% e 2 x 1km a 2%). Faço esse treino meio que gemendo baixo no começo, mas vai piorando bem até o final - as meninas que ficam nas outras esteiras me olham de lado e, a maioria, de looooongeee....;-)

No meu caso, esteira é como oficina de balanceamento e alinhamento. As vezes eu faço longos e no final é tanto desgaste que a técnica sofre  - tal como ocorre no domingo. Ai vou lá, faço a corrida com a biomecânica correta e recoloco tudo no lugar.

Terça é dia de pedalar no rolo em duas sessões. Pela manhã, um 2 x 15 minutos no Big Gear moderado seguido de 4 x 5 minutos de Big Gear forte - ou seja, aprenda a fazer as coisas com as pernas cansadas; já a noite é um treino que me deixa na minha zona de conforto: aquecimento de 15 minutos, 60 minutos em ritmo de IM e mais 15 para soltar.

Quarta, volto para a piscina pela manhã para um treino mais longo e estruturado: aquece 300 metros, seguem-se mais 400 com palmar e flutuador respirando 3x 1, 5 x 1, 3 x 1 e 7 x1 e fecho a primeira parte com 100 de pernada com pé de pato. A segunda parte dói um pouco mais 16 x 50 com tiro na quarta repetição, 12 x 50 com tiro na terceira, 8 x 50 com tiro a cada segunda e fecho com 4 x 50 forte todas as vezes - entre a séries varia ainda o tempo de descanso.

A noite corrida. São 15 minutos de aquecimento, seguido por 9k variando-se ritmo entre 4:30 e 5:30 a cada quilômetro. Esse fartelek faço com prazer ou...melhor, deixa eu reformular: faço com "prazer" quando não tem garoa e vento naquele breu que é o Campo de Marte a noitona.

Quinta-feira é um treino curto no rolo - cinco vezes 3 minutos forte e depois um Time Trial de 20 minutos. Parece facinho, né? Curtinho, né? Até o momento tentei duas vezes e não consegui fazer esse treino até o final. Eu simplesmente quebro como um galho seco.

Falei com o Rodrigo e dividimos os 20 minutos em duas partes, com dois minutos de intervalo.

Já a noite volto para o rolo para 60 minutos de pedal leve. Procuro fazer sem intensidade e dentro um ritmo realmente confortável - até para dar um refresco mental.

Na sexta-feira começam os longos. E começa pela natação. São mil metros, depois 2 x 500 com palmar e flutuador, depois 4 x 250 só com palmar, 10 x 100 com palmar+flutuador+fita nos pés para @ 2minutos. Ai tira tudo e faz um Time Trial de 400 e solta 100. Dá 4,5 Km.

Esse treino eu não falo para o Rodrigo porque tenho medo que ele mude, mas é bico. Como agora estou com um cronômetro que também conta as piscinas, vou em velocidade de cruzeiro em respiração bilateral de forma confortável e não me preocupo com mais nada. Só é duro os 400 finais porque os braços já estão fadigados e tenho que fazer o máximo que puder.

A noite eu treino descansar...;-)

Sábado é o dia do pedal e o  coach pediu para voltar para o Riacho Grande.

O Riacho foi minha base de treinos em todos os Irons que fiz até hoje. Mesmo sozinho, considero que estou treinando junto com os amigos, pois é um lugar de encontro de muita gente que se cruza a todo momento correndo ou pedalando em uma circuíto morrado de 16 km.

Pode ser o pessoal forte do Marcelo Ortiz, outras assessorias fazendo o simulado do Julio Vicunhã ou a moçada de mountain bike que está girando por ali, mas a maioria das pessoas se cumprimenta com uma aceno com cabeça ainda que todos não se conheçam e tem um clima de amizade muito bacana entre os que pedalam por lá a mais tempo. Até hoje não tenho com agradecer ao Luiz Grilo e ao Marden Mota por eles terem vencido a minha teimosia e me convencido a sair da USP e ir pedalar no Riacho(ve), como diz a Claudia Aratangy. ;-)

Em contrapartida...

Fazer longos de seis horas em circuito curtos é de uma exigência mental que vou te contar, ainda mais considerando o agravante de que as subidas vão te consumindo aos poucos.

Perto do final do treino você para de contar o número de voltas e pensa só quantas vezes mais vai ter que escalar a subida que mais te dói (e acho que cada pessoa tem uma...).

Estou fazendo os longos de seis horas. Já foram três. O Rodrigo pediu que as duas horas iniciais fossem fáceis e as quatro seguintes divididas entre 40 minutos em ritmo de 70.3 e 20 minutos fáceis.

E mesmo sendo duro fazer aquelas subidas com carga leve, os treinos estão cada vez melhores: eu que nunca consegui uma média de 30km/hora nos treinos de cinco ou seis horas, mas esse ano já cheguei a 31,3 km/hora.

Ou seja, o inicio mais tranquilo e as variações de ritmo parecem uma forma mais eficiente de pedalar que tentar uma média mais homogênea, tal como eu fazia antes.

Conta ainda o fato de eu estar com outra bike de carbono, quadro maior e coroa oval?

Talvez isso tudo tenha alguma contribuição, mas não tenho nenhuma idéia do que ajuda o quê.

No domingo tenho um longo de três horas. Faço no Campo de Marte muito cedo e, dada a minha vocação de garoto de apartamento para brincar em espaços pequenos e confinados, corro o tempo todo lá dentro.

São duas horas fáceis e uma com variação de ritmo, com alteranância do pace de 10k (4:30) para um "tranquilo" pace de Iron (5:30).

Tentei duas semanas, tivemos que fazer ajustes porque o desgaste físico dessas duas horas iniciais é grande pra mim e, consequentemente, por mais que eu me esforce, não tenho aceleração para 4:30.

Então o Rodrigo calibrou e me pediu "apenas" um 5:30 na última hora com algumas acelerações mais curtas distribuídas aleatoriamente.

Funcionou! :-)

Bem, colocar os treinos não teve a intenção de impactar ninguém com números que a primeira vista podem parecer impressionantes, embora se você olhar bem vai ver que não são.

Por isso não compreendo frases do tipo "nado o que muitos pedalam, pedalo...blá, blá, blá...."

Manipular palavras para criar uma auto-imagem pretensiosa que nos coloca como indivíduos acima da média, além de bastante antipático e estreito, ignora que o fato de que o tamanho de cada desafio só pode ser entendido dentro de uma ótica estritamente pessoal - seja iniciar um programa de caminhada para redução de peso, correr cinco quilômetros, uma maratona ou um fazer um triathlon com a distância ironman.

O que eu gostaria de insistir é que uma preparação para o Iron não é exatamente uma cartilha onde se escreve na capa "Caminho Suave", mas vamos deixar de lado esse folclore que olha tudo pela ótica imaginária de volumes insanos feitas por pessoas imbuidas de uma força de vontade implacável ou capacidade de superação fora do comum - embora pareça isso já que pouca gente conta a história toda.

Ninguém gosta muito de falar sobre o que não deu certo e expor a dimensão de nossas limitações físicas e mentais. Como um tal Fernando Pessoa escreveu "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todo os meus conhecidos têm sido compeões em tudo".

Olha....

Há dias em que não consigo subir três andares de escada no trabalho sem chegar no último deles bufando e outros em que não tenho força para rodar a minha sobrinha do colo quando ela vem brincar comigo. Há dias que me sinto tão extenuado que não consigo dormir e vejo o relógio angustiado, pois ele vai despertar para eu voltar para a piscina e eu não fechei os olhos a noite inteira.

Frente a esse quadro alguém poderia perguntar que espécie de doido varrido gosta de fazer isso e o porquê.

E pode aparecer um doido varrido para começar a falar achando que tem resposta para pergunta tão cabeluda.

Tenho um amigo que sempre trata um assunto polêmico inicia a fala dele assim: "Acho que existem boas e más razões..."

Sem me preocupar em ser imparcial, no meu entender o saldo de um desafio chamado "Ironman" é positivo a favor das boas razões.

Apesar torcermos o nariz sobre a síndrome de posers narcisistas os egos inchados que se proliferam no triathlon, acho que existe diferença importante entre "individualismo" e "desenvolvimento individual" para o qual a gente nem sempre está atento.

Quando falo em "desenvolvimento individual", falo de uma experiência que pode proporcionar crescimento, valorizar nossa identidade pessoal e nos preparar para suportamos melhor a vida - porque, bem,  não sei se alguém te avisou, mas a felicidade só parece coisa inata à natureza humana em post de FB e foto do Instagram.

Uma jornada que nos desafia, seja ela qual for, não é um martírio vazio, mas um etapa capaz de nos abrir uma janela para entendermos a natureza que nos define e uma oportunidade de autorrealização pelo esforço próprio. Ela nos blinda da autodepreciação imposta por ocupações monótonas, burocracias estúpidas, chefes medíocres ou professores sem vocação que limitam nossas potencialidades  individuais continuamente e em todos os aspectos. 

Ao mesmo tempo melhora nossa vida, pois pode nos defender da infelicidade decorrente das coisas sob a qual não temos controle, nos ensinar que a paciência é um aprendizado e a persistência uma habilidade a ser adquirida; nos educar para nos tornarmos mais auto-confiantes ao lidarmos com frustrações inevitáveis e também otimistas quando a vida fecha o sinal e você tem que esperar que ele volte a abrir para continuar.

Nietzsche dizia que a plenitude individual seria resultado da fé na potencialidade humana e da obstinação para alcancá-la. Para ilustrar esse pensamento fazia uso metáforas alpinas, pois as montanhas expressavam simbolicamente o crescimento individual pelo sacrifício que as escaladas exigiam. Há um lindo trecho que ele diz:

"Eu traço círculos em torno de mim e fronteiras sagradas; sempre mais raros são os que comigo sobem montanhas sempre mais altas." 

Se é assim, entre a linha de largada e o pórtico de chegada a única distância que realmente importa é aquela em que superamos o caminho entre o que nós somos e o que nós queremos ser.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Um post que era para ter sido outro

Já vai tempo que não falo de treinos...

Vou confessar que esse assunto não é lá o meu forte.

Mas nessa época do ano casa com o clima do Iron e algumas pessoas se interessam em falar do tema.

O que é super compreensível, já que existem aqueles que estão em busca de um parâmetro e querem tomar opiniões ou simplesmente trocar algumas idéias.

Mas o que seria uma coisa tranqüila logo se transforma em um cabo de guerra entre dois grandes grupos de opinião: há os que incentivam relatos como forma de compartilhar experiências, enquanto outros acham que colocar os treinos na rede é só um exercício de gente descaradamente exibicionista.

O curioso é que aqueles que acham que é exibicionismo não tiram os olhos do FB e do Twitter, quando poderiam simplesmente ignorar a vida alheia; já uma parte dos querem saber tudo e se mostram mais receptivos em um primeiro momento, com o tempo começam a fazer comparações, ficam ansiosos e estressados, quando não diminuídos - e reclamam....

Não, diz pra mim se é moleza....;-)

Talvez o problema seja a forma com que passamos cada um nosso recado ou a falta de credibilidade de treinos tão absurdos que custa mesmo acreditar.

Porque tirando esses os exageros, acho bacana, sim, falar daquele treino em se quebra um recorde pessoal, do cumprimento de uma sequência dura de natação, as fotos de final de semana com a moçada que sai para pedalar junto, a descoberta de um novo lugar  pra correr ou até mesmo uma inovação que estou achando super interessante: as pessoas que gostam de passar um tempo na cozinha estão compartilhando as receitas e trocando informações sobre energéticos naturais ou produtos sem glúten.

Mas a idéia de comparar as coisas pode trazer problemas se não for acompanhada de certos cuidados.

Um deles aparece quando se comparam treinos de técnicos diferentes. O outro, quando são iguais.

Há as pessoas pegam os treinos dos outros para olhar e se esquecem que aquilo deveria ser apenas e tão somente uma referência distante.

Nesse grupo, os mais inseguros e ansiosos vêem as planilhas e se espantam com o volume.  Consequentemente, acham que ainda não estão treinando o suficiente, impressão reforçada por váááários posts do Facebook tagarelando longos incríveis de 180km em cinco horas. Ai começam a ficar desconfiados, aumentam o volume por conta própria ou passam treinar com a moçada que vai para a estrada.

Uma roubada, pois é melhor fazer valer a confiança no seu técnico do que ficar sambando entre o que ele pede e o treino dos seus amigos.

E outra coisa que pode acontecer é você afundar mais ainda sua auto-estima quando vai acompanhar esses treinos.

Existem certas assessorias cujos técnicos incentivam a competitividade dentro dos próprios treinos - talvez nem incentivem, mas acontece.

Quando rola aquele pedal coletivo ou um simulado sempre tem o perigo de você se sentir pior ainda ao ver o ritmo da moçada, principalmente dos cavalos paraguaios que, infelizmente, você não sabe que são  leões de treino.

Ou o caras são bons mesmo, vai saber...

Por isso agradeço de coração e me sinto lisongeado quando as pessoas me convidam para treinar junto nessa época do ano, mas nem se a Fernanda Cândido de Oliveira chegasse na hora do meu treino no Riacho Grande e dissesse, olhando nos meus olhos,

"E ai cabeção, tem jeito esse pedal ou vai ficar ai se maquiando porra? Vai fazer pra quanto hoje?"

Outra confusão ocorre quando as pessoas começam a comparar os treinos do mesmo técnico.

Um dia um grupo de amigos estávamos comentando que muitas assessorias disponibilizam planilhas idênticas para os atletas. Dai segui-se uma acalorada discussão sobre o lado "embromation" das  "planilhas tudo igual".

Sei que muitos não concordam, mas na minha opinião não é bem assim.

No fundo, os planos  "personalizados" não tem a personalização tão esperada porque o núcleo mais importante dos treinos é idêntico para a maioria das pessoas mesmo.  Só que persistimos nessa implicação com os técnicos por achar que esses deveriam desenhar planilhas tal qual alfaiates confeccionam roupas sob medida.

Obviamente existem aqueles que precisam de atenção especial, seja porque têm talento e precisam treinar ainda mais forte para se diferenciar de forma competitiva daqueles que são igualmente talentosos como eles, seja porque apresentam dificuldade em particular em uma das três disciplinas do triathlon ou, outra hipótese, estão aptas para realizar os treinos em um patamar um pouco acima da média porque já acumularam um histórico de anos de treinamento.

Mas, tirando situações como essas, não há muito o que inventar, sabe?

Mesmo que a sua planilha tenha detalhes impossíveis de serem encontradas em qualquer outra e você possa colher benefícios incrementais aqui e ali, as mudanças de fundo são de longo prazo com os grandes blocos de treinos de endurance, intensidade, velocidade, VO2 e por ai vai.

Pois não existem truques, cartas na manga e muito menos "fórmulas de sucesso" ou aquelas sacadas sensacionais que poderiam ser publicadas na Triathlete Magazine e que vão tornar você um ciclista poderoso ou incrementar em 20% a sua velocidade na corrida de uma hora para outra.

Essa fixação por resultados rápidos está longe de ser algo exclusivo do campo esportivo - de onde você acha que vem o sucesso desses trambolhos que pregam vida fácil tais como "A Pilula da Liderança" ou programas de línguas tais como "Aprende inglês em três meses enquanto dorme"??? ;-)

O bom é que você não vai encontrar nenhum "Triathlon Minuto" na prateleiras das livrarias para levar para casa.

Na média, atletas amadores não precisam nada tão especial como treinos personalizados conforme o  DNA, mas de pessoas com conhecimento e experiência que nos proponham um plano de treinamento e nos dêem um dialogo, parceria e amizade.

Pois a gente sabe que para fazer o básico o caminho já não é fácil.

Caso esteja na busca um treinador, não tire conclusões apenas pela planilha que você cata de um atleta dele que é seu amigo. Você corre o risco de cometer um engano monumental porque fez uma escolha olhando só um lado da questão.

Treinadores não deveriam ser escolhidos por "amostra grátis".

Existe uma diferença entre "treinadores" e a de "coach", mas para facilitar, eu uso um pelo outro, tal como permite a tradução em inglês.

A idéia de "coach"é culturalmente mais ampla e rica, tal como a de um tutor, alguém experiente que se responsabiliza pela transmissão conhecimento e valores.

Mas ao longo do tempo vem sendo reduzida a um significado mais restrito, pobre e utilitarista, muito associado a uma certa ideologia de (super) mercado e organização de empresas.

Hoje até "coach terapeuta" existe por ai.

Esse trechinho mal escrito pra burro do Wikipédia, por exemplo:

Coaching é um processo definido com um acordo entre o coach (profissional) e o coachee (cliente) para atingir a um objetivo desejado pelo cliente, onde o coach apoia o cliente na busca de realizar o objetivo, ou seja as diversas metas que somadas levam o coachee ao encontro ao seu desejo maior estabelecido dentro do processo de coaching. Isso é feito por meio de reflexões e posterior análise das opções e da identificação e uso das próprias competências, como o aprimoramento e também o adquirir novas competências, além de perceber, reconhecer e superar as crenças limitantes, os pontos de maior fragilidade.

Essa visão corporativa e burocrática de treinamento caiu como uma luva em assessorias de gente bacana que tem uma certa mídia. Essas assessorias tratam seu filiados com linguagem de marketing esportivo, vêem cada pessoa como peixe que caiu na rede por meio relações de "fidelização" e preenchem o vazio de princípios com técnicas e slogans de motivação.

O problema desse tipo de "coach" é que ele repete incansavelmente que você tem que "ir além", mas não explica muito bem o que você vai encontrar quando chegar nesse "além".

Uma espiada em alguns filmes já seria suficiente para mostrar que existe um repertório mais profundo de valores para a gente pensar no assunto.

Para quem viu, valem lembrar dois deles.

Em "Carruagens de Fogo" é a luta contra o status quo que permeia cumplicidade entre dois personagens marginalizados em seus respectivos mundos: Sam Mussabini, um jornalista inglês de ascendência turca, italiana, arábe e francesa que passara de especialista em bilhar a técnico de corrida pago em mundo dominado pela mentalidade amadora que até então dominava as regras olimpicas e Harold Abrahams, corredor judeu que se confrontava contra o anti-semitismo do establisment aristocrático inglês.

Se você viu o filme e achou que a questão de fundo era a rivalidade entre Eric Liddell e Abrahams, não é não, viu?

Ma acho que nos identificamos mais com "Menina de Ouro", que capta a relação de um treinador de Boxe envelhecido e rejeitado pela filha, interpretado por Clint Eastwood, e uma garota, Hilary Schank, que sente a falta do pai e vive isolada em meio à pobreza e uma família de gente exploradora e deplorável que pouco se importa com ela. Morgan Freeman faz um personagem e é também o narrador da história.

Ela tem determinação, força bruta e teimosia típica das pessoas que na vida não tem mais o que arriscar, mas lhe fogem os fundamentos mais elementares do Boxe.

- Deus do céu, o que você está fazendo?

- Estou  treinando no saco Boss.

- Pois parece que é o saco que está treinando em você.

Ele, por sua vez, tem a história do esporte perpetuada na sua vida pessoal como empresário e treinador, mas não contava com nenhum momento de realização.

Essa mistura de personalidade fortes e atores de primeira linha dá a história certas sutilezas que estão além dos filmes convencionais sobre esportes. Os personagens falam por olhares, expõem sentimentos com pequenas mudança de expressão e, por vezes, passam mensagens com sinais trocados.

Não é uma narrativa convencional de um coach que ensina Boxe e encoraja uma atleta pobre e despreparada a fazer uma travessia rumo a um campeonato mundial.

É uma história de amor e retribuição de duas pessoas solitárias.

Embora seja ele carrancudo, de pouca conversa e aparentemente rude, e ela a garota de voz doce, sorriso largo e cheia de ternura, não se engane: quem carrega a coragem na relação é ela, pois o medo de arriscar e o instinto protetor o paralisava de tal forma que ele nunca expunha seus lutadores a um embate final.

É na ousadia da garota que ele encontra a coragem dele.

Mas ele também conhece os caminhos da alma dela.

Há uma cena em que ela está no ringue apanhando feio de outra lutadora e reclama que não sabe o que fazer.

Diz ele sem nenhuma emoção.

"Sabe por quê? Ela é melhor que você. Ela é mais jovem, mais forte e tem mais experiência. Agora, o que você vai fazer?"

Ela não diz uma palavra, levanta e soca a menina em três segundos.

Nocaute.

Ele não faz nenhum elogio. Apenas sorri.

Mas uma das seqüências que mais gosto é essa:

- Estou respirando direito?

- Não está, porque está nocauteando no primeiro assalto.

- Achei que o objetivo era esse.

- O objetivo é lutar bem. Não será boa se continuar nocauteando no primeiro assalto.

 - Por quê só pego lutas com quatro assaltos?

- Porque você não tem pulmões para seis assaltos.

- Tenho, se continuar nocauteando no primeiro....

O coach arruma outra luta de quatro assaltos "só para que ela soubesse quem era o Boss".

Em resposta ela novamente finaliza a luta no primeiro assalto, levanta os ombros e pede "desculpas".

Diz o narrador com ironia....

 "E Maggie não deixou dúvidas quem era...".

Sabendo que ela era assim, o coach cobra trabalho duro não com o objetivo de domar ímpeto natural e a personalidade da garota, mas corrigir os vícios e lhe ensinar os fundamentos gestuais do boxe.

"Não basta dizer a eles para esquecerem tudo. Você precisa fazer com que eles esqueçam de verdade. Canse-os tanto, para que só ouçam você, só a sua voz...para que só façam o que você diz e nada mais. Então você precisa mostrar tudo de novo. De novo e de novo...até eles acharem que nasceram daquele jeito".

Vendo o filme você se convence que os técnicos autênticos são realmente de outro naipe.

Não são consultores contratados que se esbaldam em anglicismos exagerados para ajudá-lo a "realizar o seu sonho" por meio de conversas com hora marcada que mal disfarçam sessões de auto-ajuda.

Bons treinadores tem uma angústia de realização pessoal, uma briga particular, um demônio dentro deles e enchergam outro dentro de você.

O que você pode estar se perguntando agora é em que cáspita de lugar você vai encontrar alguém assim ou se não é uma viagem muito grande ficar olhando filme e achar que a vida da gente é a mesma coisa.

Mas se pensar bem, vai descobrir que no fundo os "coachs" são personagens sem nomes empolados e que povoaram ou povoam a sua vida sem você notar dessa forma.

São as suas referências.

Pode ser  aquele professor de português que te mostrou o valor da literatura, o técnico de natação que plantou em você uma ambição que só ele enxergava ou um corredor com tantas histórias que fez que você se apaixonasse não por um esporte, mas por uma tradição repleta de biografias edificantes.

Bom, se você acompanha os textos e sem foco desse blog já deve estar acostumado com esse ziriguidum antes do tocar no assunto que proponho escrever.

Eu comecei dizendo "Já vai tempo que não falo de treinos..."

E pelo visto vou continuar não falando....;-)))

Tenho uma amiga que diz que faço isso em tudo.

Vou falar ou escrever e começo com algo tipo " Tem três coisas importantes. A primeira é isso...."

Depois de nove horas de conversa ou 47 páginas de email eu continuo " A terceira coisa...."

Ai ela diz "Espera, e a segunda?"

Eu, "Segunda?????".

"Sim, não eram três coisas?"

"Não, pensando bem acho que a segunda era a terceira..."

"E a segunda seria qual?"

"Acho que a primeira...."

"????????"

Eu ia falar sobre os treinos para o Iron. Ai um assunto vai levando ao outro, o Rodrigo me deu um toque para falar de algo no meio do caminho, me empolguei e,  púmba, me perdi em outro tema!

Óbvio que ninguém percebeu....;-)

Treinos ficam para o próximo.