quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Fotografias....

Recentemente fiz uma incursão pelo Instragam. Curiosidade.

E já fui desconfiado.

Sempre que se fala em fotos me vem à mente o massacre dos albúns de casamento ou de festas de crianças. Aqueles que aparecem no seu colo quando você faz visitinhas sociais despretensiosas de "meia-hora".

É aquela adrenalina, sabe? :-(

E nem adianta mostrar interesse fingido porque não funciona.

A mulher senta do seu lado, bem pertinho, para fazer o papel de "comentarista".

E comenta mesmo.

Ai você educadamente meio que pula uma foto, mas ela percebe, pega na borda página e volta porque tem "um detalhe" na anterior que você precisa ver...

E tem gente que filma. Eu não sei se é pior...

Não, acho que é pior...

Porque só usando força fisica para pegar o controle remoto e colocar velocidade quatro.

Eu tenho problema com esse negócio de tirar foto. Têm os traumas da infância.

Sou de uma época em que se você era menino e tinha muitas primas na casa, como era o meu caso, foto pelado com tudo de fora é o que não falta.

De frente e com os braços pra cima.... :-(

Acho que é por isso que quando alguém pega uma câmera e diz "vamos tirar uma foto" eu faço cara de assustado...

Mas a despeito das brincadeiras, filmes ou álbuns de fotos resguardam parte dos nossos laços que, não fosse por eles, se perderiam fora da nossa memória para sempre. Nós temos vínculos com os momentos que deixamos para trás porque eles nos fazem lembrar de onde viemos e com quem estávamos.

Como dizia Walter Benjamin, as fotografias são dotadas de "aura", isto é, um objeto que nos dá a sensação de presença próxima de algo sempre muito distante.

Poucos no Instagram conseguem capturar esses laços emocionais no instante em que eles afloram. Um número menor ainda utiliza uma câmera pelo prazer de retratar a vida nas ruas, no transporte, nos parques tal como os pintores de paisagem faziam antes de câmeras fotográficas surgirem.

É uma pena.

Não dá para deixar de notar que uma parte significativa das pessoas fazem do Instagram uma boutique virtual para exibicionistas e voyeurs de photoshop.

Entre as coisa que me chamaram a atenção, estão as centenas de garotas mostrando o abdômen  no elevador, exibindo-se no espelho da academia ou fazendo caretas provocantes para elas mesmas.

Sou totalmente desavizado ou isso virou uma cultura?

Parece que montaram um esquema hierarquizado de autoflagelo.

No topo, as "garotas fitness" que mal disfarçam a intenção que de servirem de chamarizes para o mercado de assessorias de corrida, academias ou personal trainners. São mulheres que parecem desenhadas com a mão, embora pouco do que está sendo visto se explica unicamente por treinamento e o uso de anabolizantes é evidente nos traços masculinizados do rosto e coxas de jogadores de futebol.

Já a um degrau abaixo na evolução, estão as meninas um tanto mais mirradinhas que curtem tirar fotos na academia "levantando peso" ou correndo. É uma cadeia de egos alimentada por outras meninas muito parecidas e que transformam o Instagram repetição infinita de imagens, tal como um espelho colocado de frente para outro espelho.

Não vou particularizar.

Tem gente que dá como certo que essas meninas são aquele tipo manjado de "loiras ou morenas burrinhas de gosto duvidoso que posam com a bunda arrebitada e gostam de mostrar o braço definido e as costas largas porque são vazias e superficiais."

Não sei se é bem assim. Não dá para saber.

Porque entendo que existem aquelas que se dedicam ao corpo para mostrar disciplina e uma vontade inquebrável ou estão dispostas a mostrar alguma coisa que tem sentido para elas. Pode ser uma tentativa de perder peso, resgatar a auto-estima ou reconquistar a confiança depois de uma fase difícil na vida.

Mas por quê embrulham essas qualidades pessoais em um pacote que não reflete esse interior?

Que história as pessoas contam falando "da conquista" de gominhos na barriga?

A isso chamamos "lógica de açougue", para usar a feliz expressão de uma atleta fora do comum chamada Marília Coutinho. Se as meninas acham que "levantam peso" deveriam dar uma zoanhada no Blog dela.

Parece que as mulheres estão a procura de "serviços de oficina" para mudar partes do corpo que lhes parecem deficitárias em relação ao tipo ideal que vêem nesses modelos de parafina.

E são correspondidas por profissionais que repassam exercícios focalizados para remodelamento de nadegas, coxa, barriga - mas os tais profissionais que vendem esses serviços de funilaria são bastante comedidos em expor que essa remodelagem tem alcance extremamente limitado.

Como tudo parece uma questão de vontade, as pessoas que "falham" interiorizam a culpa por acharem que não se esforçaram o bastante.

Afinal, se "anything is possible", como poderia ser diferente?

Tenho lá minhas dúvidas se, ao invés de passarem uma mensagem de grande força de vontade, empenho e dedicação, essa lógica de esquartejamento não acaba servindo para alimentar os mais arraigados estereótipos que estão na base da educação sexual masculina - ou o pior lado dela.

Isso entre os homens.

Entre as mulheres fico pensando no efeito demonstração.

Quem vai adentrar a um mundo cuja porta de entrada é uma aterrorizante funil na qual só tem o ingresso meninas aparentemente perfeitas que parecem sair de uma propaganda de margarina?  Essa modelagem fake pode levantar comparações fora de contexto, dando a mulheres um sentimento de inferioridade e fracasso porque não reduzem o abdômen, eliminam a celulite ou apagam as estrias.

Sei lá.

Tenho duas sobrinhas e não gostaria que elas vissem o esporte ou a atividade física como meio para entrar na patota de habitues de shopping centers e de academias abarrotados de outras meninas produzidas por hormônios, dietas malucas e implantes precoces, sem falar nos transtornos psicológicos como depressão ou bulimia e nos desdobramentos negativos para a saúde reprodutiva delas.

Quando essa inflação de imagens têm algum sentido (muitas não têm), a intenção é mostrar aquela idéia radiante de felicidade aparente.

Mas no fundo a gente sabe que com as imagens até almas mortas podem parecer felizes.

3 comentários:

simplifique disse...

Tb odeio foto de casamento. PQP !!!
Eu só queria foto, mas nao queria filmagem. Subo para a igreja e dou de cara para uma camera. Fala para minha esposa (entramos juntos, ja que ja moravamos juntos ha anos), que porra é essa? E ela disse: Relaxa e vamos fugir deles. Foi o que aconteceu, passamos a festa inteira brincando de fugir da filmagem. ô troço chato.
É cumpadi, o instagram está cheio dessas meninas.

3 ATHLON NA VEIA disse...

Com um determinado foco (as fotos) vc acabou dizendo muito sobre uma geração que privilegia apenas e tão somente as aparências, custe o que custar.
Cérebro e espírito ficam à margem.

Max disse...

Bessa, o nome do aplicativo já diz tudo: o que é mostrado ali reflete um instante, por mais eterno que ele possa parecer. Vamos ver as fotos dessas mesmas pessoas daqui a dez, quinze anos. Aí as mascaras terão caido e vai sobrar a verdade.