sexta-feira, 24 de maio de 2013

Finish line à Esquerda

Em uma das várias conversas que tive com o Dalton Cabral ao longo dos últimos anos, não me recordo quando ou em qual delas, ele me dizia sobre o sentimento de se ouvir a frase "Finish line à esquerda".

Ela é dita por um ou dois voluntários quando você, de posse das pulseiras, pode finalmente adentrar por um pórtico estreito à área que dará acesso ao Pórtico principal do Ironman.

Será o último momento em que estará sozinho, antes dos aplausos e do merecidíssmo glamour do tapete, telão, fotógrafos e alguém dizendo em alto e bom som que "Você é um Ironman".

É o meu momento preferido, porque é ali que a gente se acerta com a gente mesmo e, por isso, se permite chorar um pouco por dentro antes de colocar todas as emoções para fora.

Esse pequeno portal  me lembra um trecho muito bonito da Biblia e que cito por licença poética.

"Porque é estreita a porta, e apertado o caminho que leva a vida, e poucos há que a encontrem" (Mateus 7:14).

Espero que os amigos em Floripa e os impetuosos Solomen tenham um domingo extraordinário.

Boa Sorte a todos!

quinta-feira, 23 de maio de 2013

IM Texas 2013

Algumas pessoas me mandaram email perguntando sobre a prova no Texas.

Comecei a escrever um texto tão logo a prova acabou, como que procurando desafogar das idéias contraditórias que passam pela cabeça da gente quando se termina um Ironman.

Por um golpe de sorte pude publicá-lo no site do MundoTri, que havia me consultado sobre um depoimento pessoal.

E fazendo assim, achei descortesia usá-lo aqui.

Caso alguém se interesse em ler o final da história, o link está abaixo.

http://www.mundotri.com.br/2013/05/quando-so-resta-a-carcaca-do-peixe-um-depoimento-sincero-sobre-o-durissimo-ironman-texas/


quinta-feira, 16 de maio de 2013

IM Texas Reloaded


Bem....

Depois de uma viagem longa e em meio a vários desencontros estou eu aqui e as coisas seguem porque, como diz aquela frase "aí de mim se não fosse eu".

As duas semanas do polimento foram tão complicadas mental do que fisicamente que os treinos pesados. Eu não consigo curtir essa fase. Esse ano em todas as provas que fiz não teve polimento e gostei do resultado final.

Mas, tudo bem - as provas não eram pra valer no sentido que não eram provas foco.

Então também não me sentia "cobrado" - apesar de estar fisicamente um tanto cansado, mentalmente as coisas eram fáceis.

Agora não. No polimento a balança inverteu.

Esse ano somatizei uma tensão que conscientemente eu não percebia.

Exemplos...

Tive tosse seca e um problema na garganta, uma "bolha" que não me deixava engolir nem água direito.

Amigo meu, médico,  disse que a tosse era questão de mudar o clima. Choveu um pouco e melhorou - embora ela esteja aqui comigo até agora, fraquinha.

Sobre a dificuldade de engolir, não havia Infecção e gânglios inchados no pescoço. Ele me disse que o lance era estresse. Que cada um coloca isso pra fora de um jeito e que de um dia pra outro essa bolha sumiria.

Quase pulei do pescoço dele aos gritos dizendo que era impossível eu estar estressado. ;-)

Mas não é que foi do jeitinho que ele falou?

Só que não era estresse. É angústia.

O modo de lidar um pouco com o desconforto foi, primeiro, escrever esse blog. Poucas pessoas sabem como escrever ajuda. Porque fico pensando em um leitor com quem eu converso. E esse tipo de dialogo não é quando estou na frente do computador, mas quando estou fazendo coisas triviais.

A outra alternativa seria falar sozinho na rua. Que tal? :-)

Nesse sentido, pensar que existe alguém ai do outro lado me dá uma certa sanidade e se há pessoas que tiram algum proveito desses blog, vou confessar que proveito maior tenho eu delas.

Sendo assim, obrigado.

Outra saída foi trabalhar até o ultimo momento e adiar o pensamento sobre a prova treinando todos os dias  - treinei até a manhã do vôo e só arrumei as malas duas horas antes de sair de casa.

Aí vc vai dizer eu sou doido, que certamente iria esquecer alguma coisa.

Bom, eu iria esquecer "alguma coisa" do mesmo jeito...

Poderia levar quatro horas arrumando tudo, mas certamente iria deixar algo para trás.

E, olha, mesmo sendo uma viagem internacional, estou levando a mesma bagagem que levaria para Caiobá. Apenas algumas peças de roupa a mais.

Ano passado eu trouxe um arsenal que daria para ir a dois casamentos e fazer uns três Irons sem precisar comprar um gel.

Pensei que não poderia agir do mesmo jeito. Se eu vou nadar, pedalar e correr eu preciso de coisas para fazer apenas isso. Já escrevi sobre isso: se a gente fica muito preocupado com as coisas que cercam a prova só arruma mais motivo para ficar preocupado.

E, nossa, com é bom simplificar - uma mala  a menos se comparado com essa mesma prova em 2012.

Conversei um pouco com o Rodrigo sobre essa angustia. Até porque eu nunca me senti assim antes, nem ano passado, em que eu desconhecia totalmente a prova.

Disse para ele uma história que já contei aqui.

No primeiro Iron, o Vinnie chamou a mim e o Ronaldo de lado e, apontando para uma mesa onde estavam o Topan, o Leonardo, Bruno Góes entre outros disse algo mais ou menos assim "Eles devem ficar preocupados com os detalhes porque querem disputar a prova em outro nível. Vocês dois não precisam pensar em nada além de vencer a distancia".

Claro que eu hoje não tenho pretensão de fazer a prova no nível desses caras. Mas também não estou mais naquela fase "confortável" dos primeiros Irons quando vc se acomoda dentro coisas que são perfeitamente razoáveis ao longo do tempo, como vencer a distancia, primeiro, e terminar a prova em menos de 11 horas, depois.

Por isso a resposta do Rodrigo foi "olha, mas vc tá angustiado porque agora pode almejar  um desempenho pessoal melhor?  Aposto que também não era feliz quando olhava os caras na outra mesa e pensava que estava a milhões de anos luz deles..."

Pois é, eu gosto do Rodrigo porque ele não diz uma verdade fácil e nem tem a pretensão de me dar "respostas".

 Até porque, de fato, quem tem que resolver as coisas sou eu.

Como leio esse texto dele?

Pois é, é exatamente disso que se trata, de se sentir assim.

Portanto, o que pega não é a história do ano passado, mas o fato de já ter alcançado alguns objetivos e que esse ano treinei mais e melhor que em todos os outros - portanto, me cobro mais.

E a cobrança pessoal é uma serpente dentro da gente.

No fundo, eu sei que estou preparado. Eu sei que tenho experiência. Eu sei que  não devo me cobrar. Eu sei que devo me divertir.

Eu sei tudo e não adianta nada.

Porque sentimentos não se refutam. Você pode ou não aceitar idéias, mas sentimentos como a angústia são diferentes. Diferentemente do medo, para o qual existe um perigo real, a angústia é um perigo imaginário que não tem um objeto claro. A gente apenas sente....

E qual a alternativa senão conviver com ela?  Qual a alternativa senão tomar fôlego e atravessa-lá?

Como li no avião, o melhor antídoto contra a angústia é a realidade. E a realidade será em um dia de ventania, quente, abafado e sofrido.

Vamos a ele.













segunda-feira, 6 de maio de 2013

Confissões de um Triatleta de Boutique


Ultimamente há certos "pegas" nas redes sociais nas quais as pessoas estão caprichando no tiroteio.

Entre as discussões que mais dão audiência no ibope do feicebuque estão aquelas que lembram a pouca sintonia entre o desempenho dos atletas amadores e o que eles usam para treinar e competir.

Quem faz uma discussão mais qualificada levanta a bola colocando em questão se os equipamentos mais caros  ou aerodinâmicos são realmente necessários ou mais adequados para iniciantes e pessoas com desempenho mediano - falam em mais treino e menos consumo.

Já os que discordam têm outros bons argumentos, ponderando qual seria a fórmula que mede isso, isto é, qual é a linha que demarca um desempenho específico para alguém ter uma superbike, rodas de carbono ou usar capacete aero e, mais importante, quem tem legitimidade para dizer que é o dono da régua.

Como não consigo tomar posição por um lado ou por outro, penso caso por caso e assim vou levando: posso andar bem com uma bike que está longe de ser a mais cara de todas, mas se for usar uma meias em uma prova, prefiro as dos cara que correm em Kona porque não vão me dar bolhas nos pés.

Mas o que seria apenas um boa série de apontamentos e sugestões costuma virar um salseiro porque, infelizmente, essas discussões não raro descambam para um bate-boca atravessado, da qual se tira apenas o que há de mais superficial no debate de pontos de vistas conflitantes: a necessidade de rotular grupos a partir das suas preferências de consumo e do seu estilo de vida.

Se existe de fato uma certa exacerbação de um estilo de vida, porque nós não começamos olhando para nós mesmos?

O meu caso, por eexemplo.

Eu já zombei de uma imagem caricata quando escrevi algo sobre "triatletas de boutique" - aqueles entre nós que curtem um mundo fashion a parte, principalmente no que diz respeito a roupas, polainas de compressão, óculos espelhados e capacete aero usados com exagero.

Mas mesmo com pouco senso crítico é possível notar que somos todos parte desse teatro.

Quando o pessoal chega no final da madrugada e cruza comigo de saída para um treino aqui na garagem do prédio, por exemplo. Um sujeito com bermuda de elastano, camisa de sete cores, bike na mão e uma muchila de transição.

Esse povo pensa exatamente o quê?

Quantas vezes já me peguei tomando café com óculos dentro da cozinha antes de correr?  E saindo para correr ainda no prédio tô no elevador colocando o cinto de hidratação.

O que será o que o porteiro que fica olhando as câmeras de vigilância pensa?

Na academia?

Quando está frio, estou com um dos meus quatro agasalhos que comprei nas feiras do Iron. A mochila que eu uso é simplesinha e funcional, mas esta marcada com letras garrafais Ironman Texas.

A touca de nataçao já me entrega de cara.

Corro na esteira é com a mesma bermuda que pedalo e com alguma camisa do internacional de santos, long distance ou do IM.

Bem, não é exatamente com um atleta de Jiu-Jitsu que o pessoal que corre na esteira do meu lado vai me confundir.

Será que o povo da academia me vê como um cara exibicionista?

Meia de compressão no Supermercado?

Antes de começar esse texto fui à padaria com um tênis e bermuda cujas marcas são identificada com o triathlon, um óculos da franquia Ironman e uma camisa de finisher do 70.3 de 2011.

Em resumo, só eu não me mancava que eu também sou um triatleta de boutique.

Então, pensando em tudo isso, não seria mais sensato julgar os outros depois que a gente refletisse se o que vemos como atitude ridícula também não faz parte do nosso comportamento no dia a dia?

E, se faz, qual o problema? Por qual motivo a gente perdeu a capacidade de rir de nós mesmos?

Todas as pessoas bacanas que conheço e as quais eu gostaria de ter por perto são aquelas que riem de si mesmas - porque elas nos doam suas experiências pessoais para refletirmos sobre os absurdos do nosso estilo de vida com a mais aberta generosidade.

Falam de si em público ou com os amigos com desprendimento, tem auto-critica e conseguem dar uma conotação leve até para aquela situação patética que a gente não contaria nem pra nós mesmos, imagina para os outros.

E quando você por ventura conta um vexame, ela conta um maior ainda.

O riso de si mesmo é o reconhecimento de que não somos imunes ao ridículo e, mais que isso, podemos compartilhar tudo que existe de precário na existência humana, fazendo com que os momentos tristes ou as pequenas humilhações não nos machuquem tanto.

Ou não nos leve a brigar por tão pouco....

Agora faça o teste e seja sincero se esse video não fala algo de você...