sábado, 16 de junho de 2012

A Micro e a Macro Economia do Triathlon


Quando o post sobre a tal High Society foi lido, pipocaram discussões aqui e ali sobre economia - várias por email.

Uma coisa curiosa - curiosa pra mim, desde de sempre - foi a forma como as pessoas sugeriram resolver essa pendenga de preço de prova de triathlon.

Acho que não estou muito errado se dizer que 99,9% das pessoas acham que o problema se resolve com mais concorrência, pois os preços altos seriam consequência de muita demanda e pouca oferta.

O Guilherme na área de comentários disse o seguinte:

Mas para mim está claro que se trata da mais pura Lei de Oferta e Demanda.(....) O que está aí não é nada mais nada menos do que a regra mais antiga de satisfação da vontade alheia. Quer algo? O preço é x. Muita gente quer este mesmo algo? O preço é y. Muita muita muita gente quer esta mesma coisa e não tem pra todo mundo? O preço é X+Y+Z. Fácil.

Ou o Emiliano

Acredito que o aumento de preços se dá pela demanda: Enquanto as inscrições esgotarem em minutos, o preço sobe, pois há procura..

Acho que eles tiveram a felicidade de sintetizar o que a maioria das pessoas pensam sobre o assunto.

E como não perco a mania de ser sempre é o sujeito "do contra", resolvi explorar esse tema mais um pouco.

O texto tem duas partes. A segunda é dispensável.

A primeira, também! ;-)

Eu aconselho a quem passa por aqui a seguir aquela máxima do Ciro, que eu adapto para tudo "entre ficar lendo blog e correr, eu prefiro correr".

Mas se você ainda está ai, parada na frente do computador, então vamos lá....

Concorrência é uma fórmula muito comum que funciona como uma lei natural na cabeça das pessoas.

Seria mais ou menos assim: se a demanda pelos produtos do "setor X" cresce em ritmo maior que o da oferta, os preços sobem. Por ser assim, esse setor atrai novos produtores, o que aumenta a quantidade de produtos disponíveis e, consequentemente, há uma queda de preços. Essa queda se dá até que se alcance um "preço de equilíbrio".

Preço de equilíbrio não é uma medida objetiva, tal como a gente faz quando olha a temperatura em um termômetro, mas um preço na qual os produtores se sentem motivados ofertar um produto qualquer e os consumidores a adquirí-lo.

Muita gente acha que isso é um "preço justo".

Nesse sentido, a "concorrência" é o elemento regulador da economia, uma "lei" que põe produtos nas prateleiras na quantidade certa e preços compatíveis com o poder de compra dos consumidores.

A gente acha isso tão natural que parece que já nasceu sabendo.Ou quando vê na faculdade, parece que não precisa estudar.

É uma idéia muito popular porque é muito intuitiva.

Em um mundo muito complexo e dinâmico, a gente costuma se apoiar em algumas supostas verdades universais por se sentir mais seguro.

Primeiro e antes de tudo, vamos supor que a "lei da concorrência" é realmente uma lei.

Entretanto, para funcionar essa lei precisa que alguns pressupostos sejam cumpridos. É o que consta em qualquer manual de economia.

O primeiro é que os consumidores conhecem todos os preços. Ou seja, se você escolheu abrir uma conta em um determinado Banco, supõe-se que você tem conhecimento dos preços dele e de todos os outros bancos (taxa do cartão, preço dos extrato da conta corrente, talão de cheques etc).

O segundo é que nenhuma empresa domina o mercado e não existe monopólio. Assim, você pode escolher um banco entre tantos outros.

Terceiro é que os produtos são homogêneos.

Oi?

Os produtos não tem diferenciação. Se eu vou abrir uma conta ou comprar um serviço em um Banco, o pressuposto é que não pode ter serviço prime. Não há diferenças de qualidade ou o que se chama "diferenciação de produto".

Na teoria da concorrência perfeita, todos os produtos são, portanto, iguais - sem cor, cheiro, distinção social ou os cambáu!

E decorrente desse último, temos o quarto pressuposto:

As leis da oferta e da procura funcionam em mercados em que as empresas concorrem via preços.
Outra coisa: não existe o que chamamos de "barreiras a entrada", isto é, qualquer empresa pode entrar no segmento bancário, apenas para citar um exemplo.

Ou a "concorrência perfeita" é uma abstração, uma idéia muito genérica que a gente só usa em aulas para mostrar um conceito ideal em um mundo igualmente ideal que só existe plenamente no manual de economia.

Para não dizer que sou radical, vou até dar uma aliviada.

No mercado de pizzas, por exemplo, até que esse troço funciona razoavelmente bem. Você vai ver que, na média, os preços da pizzas de mussarelas são bem semelhantes em qualquer bairro da sua cidade e isso não é porque os donos de pizzaria se reúnem uma vez por mês para determinar qual será esse preço.

Na verdade, os consumidores conhecem os preços e ligam até encontrar o preço mais razoável. Os donos de pizza delivery que estiverem muito acima desse patamar médio não vão receber chamadas.

Ou seja, é o consumidor que informa a cada empresário se o preço dele está fora ou dentro do mercado. E ele tem que se encaixar nesse patamar. Se ele não consegue vender pizzas a R$ 19,00, isso significa que ele deve compatibilizar os custos dele com o custo médio do mercado.

Mas, observe: não é ele que dita o preço e nem ninguém. O "preço" é resultado da chamada "mão invisível" do mercado, pois monopólio de pizza de mussarela é uma coisa totalmente insana de se pensar;

Mas do leite que você toma em casa ao carro que você usa, a maior parte dos produtos que você adquire não são produzidos em mercados de concorrência perfeita tal como os de pizza delivery.

E muito menos os eventos como as provas de distância Ironman.

Queria chegar nesse ponto.
Ouço gente dizendo "Ah, mas se a tivesse outras empresas", "se o percurso fosse mais difícil" ou "se a prova tivesse menos aventureiros"...enfim, tem argumento para todo os gostos, mas a conclusão para qualquer um desses argumentos é: o número de inscritos cairia e, consequentemente, os preços se ajustariam a demanda menor - ou seja, os preços se ajustariam para baixo.

Coisa muito simples pelo que se vê.

Mas tem um probleminha ai,pois o mercado de provas no Brasil não é concorrencial.

Como a franquia Ironman é um monopólio, o "preço" não pode ser um reflexo dos "custos médios" de outros fornecedores do mesmo serviço.

O preço é apenas um patamar para que ela a franquia segmente o mercado de consumidores que ela deseja explorar: e ele faz isso usando diferenciação de produto e muito marketing.

O Ricardo Veras fez um levantamento muito legal sobre os preços para inscrições provas da franquia Ironman e algumas de suas concorrentes (HITS e Challenge, principalmente). Se você consultar o Blog dele (veja aqui), note como existe grande semelhança de preços em lugares totalmente diferentes no mundo inteiro.

O que isso indica é que essas empresas trabalham com um referencial de preços internacional e querem um público de "classe mundial" com um perfil de consumo compatível com o status dessas marcas.

Quando a TriStar entra no Brasil ela já tem esses referencias e usa para estabelecer seus preços e não para "concorrer" com provas similares porque ela já sabe qual o tamanho do mercado. É só pegar a tabela de inscritos no GP ou no Long Distance.

E caso tivessemos provas da REV3 ou do Circuito Challenge no Brasil, seria a mesmíssima coisa.

Mais: ainda que metade as inscrições do IM 2013 fosse cancelada, a Latin Sports não teria autonomia para mexer nos preços do IM de 2014 a fim de atrair consumidores que estariam dispostos a pagar menos.

Pelo contrário: ela poderia até aumentar o preço das inscrições de forma elitizar ainda mais o perfil dos consumidores.

Por isso é que não dá para falar que a "concorrência" vai resolver os problemas.

O mundo não funciona assim...

O que falta na verdade é um outro circuito de provas mais baratas que ofereceram um outro produto - simplesmente uma competição em que as pessoas queiram nadarpedalarecorrer sem o status dessas marcas mundiais, como o Mdot.

Até hoje eu não entendi como as empresas de eventos não abriram espaço para esse "nicho".

Tô falando de eventos simples, mas bem organizados.

Bom, cansei desse assunto! Parei de vez...

Agora, depois de tudo isso, tenho certeza que você vai refletir profundamente e tirar a seguinte conclusão: acho que vou dar uma corridinha na rua...;-))))

sábado, 9 de junho de 2012

A High Society Triatlética

Passada a fase de inscrições para o IM 2013, ferve por uma discussão bem acalorada sobre o preço, forma de pagamento e as condições de inscrição - um processo que ano a ano vem se tornando mais estressante em todos os sentidos.

Pelo que andei percebendo nos fóruns, as pessoas gastam horas discutindo o comportamento das outras pessoas. Ai a discussão descamba até sobre a bicicleta que o sujeito tem.

Não é porque as pessoas se abrem um pouco no Facebook que isso nós dá o direito questionar as bicicletas caras "daquele sujeito que não anda nada" ou fato dos individuos "x", "y"ou "z" serem pouco solidários porque não boicotaram a inscrição para aquela prova "que é caríssima".

O Face é uma oportunidade para se conhecer as pessoas, mas uma janela muito estreita para podermos tirar conclusões sobre a vida delas.

Como as pessoas no Brasil tem um nível de politização "zero", certamente parece mais lógico ficar discutindo o comportamento alheio do que se comprometer com mudanças de longo prazo.

Vamos comecar pelo seguinte: há muitas que pessoas que só ficaram "críticas" do "comércio que virou o Ironman" quando, por um motivo ou por outro, não conseguiram fazer a inscrição para a prova.

Ai é fácil. Sabe aquele sujeito que torce para o time de futebol que ganha o último campeonato? Uma hora ele é palmeirense, outra é flamenguista, depois vira corinthiano e por ai vai...

O segundo ponto é: as pessoas vivem no capitalismo, votam em partidos que defendem o capitalismo, não suportam aquele outro partido que apóia Cuba, mas reclamam das empresas que comercializam a "essência de um sonho" e tem lucro com isso!!!

Não entendi...

O capitalismo vive de criar e conquistar sonhos alheios pra quê? Carros e televisores são produzidos com o mesmo principio que a franquia Ironman faz seus eventos.

Agora, quero ver se alguém abre mão de ter um automóvel ou uma tela plana em casa para criticar o capitalismo da Ford ou da Sony.

Hã-hã....

Já dizia Adam Smith que a evolução do capitalismo resulta do egoísmo dos indivíduos quando esses buscam o lucro. Dizia ele "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu "auto-interesse".

Essa discussão sobre ganância e lucro não tem coerência.

Ora, ao invés de questionar as atitudes das pessoas ou o comportamento das empresas de eventos, não seria melhor a gente procurar entender o que acontece e a partir dai procurar alternativas?

Nem de longe esse post do Blog vai dar conta disso. Eu só gostaria de "pensar alto" para que as pessoas pudessem direcionar suas angústias e frustrações para algumas opções realmente viáveis.

E por ai vou logo dizendo: esse texto é chato, é antipático e é metido.

É daqueles que eu uso para fazer "papo-cabeça", sabe? Tipo "discutir a relação".

Não, espera: aí também não - "discutir a relação" é insuperável! ;-)

No Brasil, todos sabemos que as empresas que organizam as provas de triathlon mais importantes no país tem uma estrutura muito diferenciada em termos de organização. De um lado, a NA Sports e a Cia de Eventos. De outro, a Latin Sports.

Em relação as duas primeiras, sejamos justos: essas entidades desbravaram um espaço onde antes não existia nada. Você pode não gostar do Núbio, mas o Internacional de Santos é uma prova de importância inquestionável em termos históricos para o triathlon latino-americano.

O circuito Long Distance, apesar de hoje bastante reduzido, também também marcou época no Triathlon nacional. O Longo Distance de Pirassununga é o batismo de fogo de qualquer triatleta que almeja vôos maiores.

Só que ao longo do tempo, o universo de praticantes cresce e a demanda por uma organização de qualidade também. Mas o modelo de empresa que organiza esses eventos aqui não se renovou e ainda funciona nos moldes das "lojinhas de varejo" - não no sentido pejorativo que esse termo possa ter, mas no sentido de que são muito dependentes dos donos.

No ultimo Internacional de Santos tive um problema bobo, falei comum fiscal, mas veio o Núbio me atender. Uma coisa completamente dispensável, mas estava lá o dono da empresa para resolver o meu problema.

Não é assim também a Cia de Eventos? O Célio faz todos os papéis dentro da organização de uma prova. Ele está na retirada do kit, na moto do fiscal e na premiação do última pessoa do age group. No meu primeiro Long Distance, quando fui falar com quem poderia reclamar de uma penalização, ele disse "quem arbitra sobre isso aqui sou eu. Pode falar comigo mesmo".

Uma outra vez tive que pedir para trocar minha camisa de finisher. Advinha quem autorizou?

Bidú....

Você pode argumentar é bom falar "diretamente com quem manda" quando a gente quer reclamar, mas tenho lá minhas dúvidas se bate-boca é medida de bom atendimento.

Mas faça o seguinte: escreva um email para eles bem fundamentado, dando contribuições criticas no sentido de melhorar as provas.

Aí volta uma resposta lacônica ou um texto que nem sequer passa por uma revisão ortográfica.

Ou seja, essas empresas de eventos não tem gente especializada em atendimento!

E como elas personalizam tudo pelo lado delas, nós personalizamos tudo pelo nosso lado também.

Mas isso não é muito produtivo.

Deixa eu dar um exemplo.

Quando eu cai no Internacional de Santos porque um rapaz em uma bicicleta furou o bloqueio e entrou na área reservada aos atletas, a responsabilidade era do controle de tráfego e quem deveria responder por isso seria a prefeitura de Santos - mas como pago a inscrição para a NA Sports, eu avalio que a responsável pelo problema é ela.

Como atleta, isso é muito natural. Você cobra para quem você paga.

Mas, se a gente faz uma analise mais fria, vê que nao é bem assim.

No fundo, se o Internacional de Santos e o Troféu Brasil vem perdendo qualidade ao longo do tempo, a responsabilidade não é exclusiva da NA Sports, mas também da prefeitura de Santos, que não faz investimentos em infraestrutura que permitam à cidade oferecer condições para uma prova de qualidade.

Mas tenho certeza que você não sabe o nome do prefeito da cidade e muito menos do secretário de esportes do município, sabe? ;-))))

E por quê a Latin Sports erra menos? Porque eles seguem um fórmula pronta, cuja engenharia foi feita e testada por uma empresa de marketing internacional que impõe padrões de qualidade. Fazer uma prova da franquia Ironman no Brasil ou no Texas é como entrar em um MacDonalds lá ou aqui - você dificilmente nota alguma diferença entre um e outro.

Nesse modelo não tem espaço para jeitinho ou improvisos. O esquema de organização é mais profissionalizado e, consequentemente, impessoal.

E a TriStar, que entra agora no Brasil, vai no mesmo modelo.

Agora vamos ver essas questão dos preços.

O que se argumenta é que no Brasil essas empresas perderam patrocionadores de porte que ancoravam os custos mais significativos, o que joga para os atletas um ônus maior para o financiamento das provas.

Mas não acho que seja isso. Porque o que explicaria o fato de que as provas, mesmo ocorrendo em lugares tão diferentes e organizadas por empresas diferentes, tenham preços tão semelhantes?

Não é o cáspita isso?

No fundo, acho que os preços das inscrições não tem relação apenas com os custos dos eventos.

Acho que a conta é outra.

As empresas colocam preços altos porque querem que seu produto seja um produto elitizado.

Mesmo que os custos dos eventos fossem hipoteticamente mais baixos, ainda assim as empresas fariam uso de uma estratégia descarada de "segmentação de preço": se o preço for baixo, seu produto vai circular em um mercado de massa; se for um preço alto, a meta são os consumidores afluentes e endinheirados.

E, deixa eu te dizer: o mundo do consumo do triatlhon está ali, na beiradinha do mercado de produtos de luxo, viu?

Ou você acha que bikes que custam mais de quinze mil reais são o quê?

Faça uma conta: me diga o quanto se soma em termos de valor as bikes que ficam na área de transição do Ironman Brasil.

Fez?

Sentiu?

Olha, pensa aqui comigo: como se explica que a limpeza de uma bicicleta custe mais que a limpeza de um carro?

Você acha que isso tem alguma relação com "custo"????

Para, né?

O preço de inscrição do produto "Ironman" está ai nesse pacote...

Certamente você vai xingar a minha mãe, dizer que não faz parte da patota de ricos e endinheirados porcaria nenhuma e que entra nesses eventos dando duro, trabalhando mais, fazendo economia, abrindo mão de outras prioridades etc...

Verdade.

Mas acho que somos poucos nesse pedaço da "high society triatlética".

Por isso é que se tem a impressão de que "todo mundo reclama", mas quando as inscrições do Ironman acabam em minutos você se sente frustado e traído "pela classe".

Ué, onde estava aquele "todo mundo" mesmo?

Na verdade, o "todo mundo" é um mundinho de gente que teima em ir para uma festa para a qual não foi convidado.

Mas por outro lado ter chiliques nao adianta.

Segmentação por preço não tem nada de "sacanagem".

Tem lógica alguém entrar em uma loja do Shopping Iguatemi pra comprar um terno Ermenegildo Zenga e ficar reclamando do preço? Que o custo do tecido não justifica o que está sendo cobrado?

Que é sacanagem???

Então, o raciocínio é o mesmo. É o capitalismo no seu estado mais feroz...

Trata-se uma uma lógica de exclusão explicita.

Se você vai em festa de rico, não reclama do preço do convite.

Mas existem outra alternativas?

Teóricamente, sim.

A gente poderia ver o que acontece lá fora.

Por incrível que pareça, é justamente nos países mais ricos que você encontra as soluções mais simples e mais convenientes para amadores - o que me leva a pensar que ter apenas opcões caras para fazer provas de triathlon é coisa de país pobre e subdesenvolvido.

Na Inglaterra, Austrália ou nos EUA, por exemplo, os circuitos de provas são muito mais diversificados, como muitos e muitos eventos voltados apenas para triatletas amadores.

Os preços não visam segmentar o mercado e os custos são menores por fatores que são fáceis de apontar: as provas são realizadas em na zona rural sem a necessidade de fechamento do tráfego ou pagamentos de taxas de uso para as autoridades locais; o staff de voluntários é composto por familiares dos atletas; não há kit; não há premiação em dinheiro; e a infra-estrutura é mínima, ficando a cargo dos participantes se responsabilizar pela sua própria alimentação.

Mas lá, como aqui, também há provas caras.

O problema é que no Brasil inexiste uma divisão entre circuitos de provas mais elitizado e outro mais "popular". Uma pessoa que pretende fazer sua estréia em uma prova de Triathlon vai direto para um evento como o Troféu Brasil, enquanto no exterior essa mesma pessoa poderia fazer uso de provas mais baratas para montar sua base atlética e ir ganhando mais experiência antes de partir para torneios mais elitizados.

Buscar as provas das federações estaduais de triathlon, que são organizações sem "fins econômicos" seria uma maneira de corrigir esta distorção. Apesar de se concentrarem na distância sprint, são ótimas opções para quem vai começar - com a vantagem de que isso se refletiria no aumento do número de atletas federados.

Aproveitar as estruturas já existentes para promover eventos, outra!


Nos EUA há provas organizadas por "grupos de triathlon" que no Brasil seriam semelhantes (semelhantêêêêêssss, não iguais) as nossas assessorias. É mais ou menos como utilizar a estrutura dos simulados do Julio Vicuña aqui em São Bernardo para promover pequenos campeonatos entre um grupo de amigos.

Já na distância meio-iron e iron reside o problema de fundo, pois a demanda cresce justamente onde realmente há poucas opções.

Uma alternativa seriam eventos organizados por amadores. Atualmente, existe um grupo de triatletas que estão discutindo a organização de um Soloman com a distância Ironman em 2013 como alternativa ao IM Brasil. A idéia é promover o evento sem perspectivas comerciais com um formato mais simplificado.

O grupo tem um desafio gigantesco, já que provas de longa distância geram expectativas grandes e pequenos erros podem ter impactos enormes em termos de sucesso.

Embora existam experiências bem sucedidas em moldes mais simples em outros esportes, como o Audax no ciclismo e as varias oportunidades de ultramaratonas entre os corredores, vale lembrar que essas provas tem tradição, há uma organização, regulamento, não tem demanda reprimida, há apoios e restrição do número de participantes.

Entretanto, a proposta é um alento e tanto em um deserto de boas idéias que é o triathlon no Brasil. Caso se mostre realmente factível, vai abrir um leque de oportunidades não apenas para um esporte, mas para uma filosofia.

Quem quiser conhecer o projeto e participar com ideias e sugestões, pode fazê-lo, já que ele tem um fórum específico.

O endereço é.

https://www.facebook.com/groups/393618024023896/





sábado, 2 de junho de 2012

Desabafo

O que você faz quando pega uma matéria da VO2 chamada "Receita Campeã", feita por duas nutricionistas, que pinçam uma frase da Fernanda Keller que diz assim "a alimentação dos triatletas deve ser testada e definida nos treinos, independentemente do tamanho da prova".

Ai você pega um artigo do Mark Allen, que começa da seguinte forma:

"Here is a scenario that many triathletes have experienced in long races. They use the same sports drink that has worked wonders in training only to find that it causes them to get nauseated, bloated or even throw up. How can that be? A popular piece of advice is to try out in training what you will use in a race, and if it works in training it will work during a race. Correct? Not so with fluid replacement (...)"


Ai eu pergunto para quem fez prova domingo e passou mal, qual texto faz mais sentido?


Obviamente, não é atribuição minha entrar em uma discussão em que há profissionais muito mais capacitados para apontar se o Mark Allen, não sendo nutricionista, pode ou não pode escrever o que ele escreveu.

O que me interessa saber é se ele está correto ou não está correto. Se eu tenho que chegar para o nutricionista que me orienta e perguntar se o eletrólito que tomo nos treinos vai ser realmente efetivo quando for usado na prova.

A tempos venho me batendo contra o senso comum nas "revistas especializadas". Quanto mais eu leio, mais eu aprendo mesmisse que reina por ai.

Conforme me chamou a atenção um grande treinador e amigo meu, o triathlon vem crescendo horrores no país e tem gente abocanhando esse crescimento fazendo uso material de qualidade discutível.

É gente que não faz triathlon, nunca fez triathlon e que vê nesse público uma oportunidade de negócio.

Exemplo? Tá na mão....

Uma vez a V02 fez uma chamada de capa sobre Ironman. Letras garrafais...

E coloca na capa uma atleta fazendo uma prova com a distância olímpica e na matéria interna fotos de uma etapa do Troféu Brasil ou do Internacional de Santos.

??????????

Não, diz pra mim...

Exceções? Claro - basta ver a ótima matéria sobre medidores de potência feita pela Ana Lidia Borba em um número anterior na mesma revista.

Todo mundo sabe que não morro de amores por medidores de potência, mas reconheço que aquela matéria poderia ser publicada na Triathlete Magazine sem problema algum.

Mas são exceções. E eu tô cansado das "exceções"...

Recentemente, tive oportunidade de discutir com o George Volpão, que me fez a mesma observação olhando as revistas de corrida dizendo o seguinte: se a gente não tem acesso a blogs e revistas eletrônicas aqui e no exterior, a gente fica completamente no escuro.

A gente sabe que o mercado é pequeno, que temos poucos produtos e ter o melhor é caro porque é necessário importar.

Tudo bem...

Agora, informação? Informação tá disponível em qualquer lugar da internet. Basta ter vontade de pesquisar...

Antes de ficar falando sobre a "Receita Campeã", vamos abaixar a bola um pouco. É melhor falar que esse assunto é discutível, que existem pontos de vista conflitantes, que pesquisas não são conclusivas...

Vamos nos dar a liberdade de dizer "não sei..."