segunda-feira, 6 de maio de 2013
Confissões de um Triatleta de Boutique
Ultimamente há certos "pegas" nas redes sociais nas quais as pessoas estão caprichando no tiroteio.
Entre as discussões que mais dão audiência no ibope do feicebuque estão aquelas que lembram a pouca sintonia entre o desempenho dos atletas amadores e o que eles usam para treinar e competir.
Quem faz uma discussão mais qualificada levanta a bola colocando em questão se os equipamentos mais caros ou aerodinâmicos são realmente necessários ou mais adequados para iniciantes e pessoas com desempenho mediano - falam em mais treino e menos consumo.
Já os que discordam têm outros bons argumentos, ponderando qual seria a fórmula que mede isso, isto é, qual é a linha que demarca um desempenho específico para alguém ter uma superbike, rodas de carbono ou usar capacete aero e, mais importante, quem tem legitimidade para dizer que é o dono da régua.
Como não consigo tomar posição por um lado ou por outro, penso caso por caso e assim vou levando: posso andar bem com uma bike que está longe de ser a mais cara de todas, mas se for usar uma meias em uma prova, prefiro as dos cara que correm em Kona porque não vão me dar bolhas nos pés.
Mas o que seria apenas um boa série de apontamentos e sugestões costuma virar um salseiro porque, infelizmente, essas discussões não raro descambam para um bate-boca atravessado, da qual se tira apenas o que há de mais superficial no debate de pontos de vistas conflitantes: a necessidade de rotular grupos a partir das suas preferências de consumo e do seu estilo de vida.
Se existe de fato uma certa exacerbação de um estilo de vida, porque nós não começamos olhando para nós mesmos?
O meu caso, por eexemplo.
Eu já zombei de uma imagem caricata quando escrevi algo sobre "triatletas de boutique" - aqueles entre nós que curtem um mundo fashion a parte, principalmente no que diz respeito a roupas, polainas de compressão, óculos espelhados e capacete aero usados com exagero.
Mas mesmo com pouco senso crítico é possível notar que somos todos parte desse teatro.
Quando o pessoal chega no final da madrugada e cruza comigo de saída para um treino aqui na garagem do prédio, por exemplo. Um sujeito com bermuda de elastano, camisa de sete cores, bike na mão e uma muchila de transição.
Esse povo pensa exatamente o quê?
Quantas vezes já me peguei tomando café com óculos dentro da cozinha antes de correr? E saindo para correr ainda no prédio tô no elevador colocando o cinto de hidratação.
O que será o que o porteiro que fica olhando as câmeras de vigilância pensa?
Na academia?
Quando está frio, estou com um dos meus quatro agasalhos que comprei nas feiras do Iron. A mochila que eu uso é simplesinha e funcional, mas esta marcada com letras garrafais Ironman Texas.
A touca de nataçao já me entrega de cara.
Corro na esteira é com a mesma bermuda que pedalo e com alguma camisa do internacional de santos, long distance ou do IM.
Bem, não é exatamente com um atleta de Jiu-Jitsu que o pessoal que corre na esteira do meu lado vai me confundir.
Será que o povo da academia me vê como um cara exibicionista?
Meia de compressão no Supermercado?
Antes de começar esse texto fui à padaria com um tênis e bermuda cujas marcas são identificada com o triathlon, um óculos da franquia Ironman e uma camisa de finisher do 70.3 de 2011.
Em resumo, só eu não me mancava que eu também sou um triatleta de boutique.
Então, pensando em tudo isso, não seria mais sensato julgar os outros depois que a gente refletisse se o que vemos como atitude ridícula também não faz parte do nosso comportamento no dia a dia?
E, se faz, qual o problema? Por qual motivo a gente perdeu a capacidade de rir de nós mesmos?
Todas as pessoas bacanas que conheço e as quais eu gostaria de ter por perto são aquelas que riem de si mesmas - porque elas nos doam suas experiências pessoais para refletirmos sobre os absurdos do nosso estilo de vida com a mais aberta generosidade.
Falam de si em público ou com os amigos com desprendimento, tem auto-critica e conseguem dar uma conotação leve até para aquela situação patética que a gente não contaria nem pra nós mesmos, imagina para os outros.
E quando você por ventura conta um vexame, ela conta um maior ainda.
O riso de si mesmo é o reconhecimento de que não somos imunes ao ridículo e, mais que isso, podemos compartilhar tudo que existe de precário na existência humana, fazendo com que os momentos tristes ou as pequenas humilhações não nos machuquem tanto.
Ou não nos leve a brigar por tão pouco....
Agora faça o teste e seja sincero se esse video não fala algo de você...
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5 comentários:
Huuuummm, tanta coisa para falar.
Bem, em relação ao consumo, sou bem reticente em relação a gastar 3/4/5 mil em um par de rodas se o cara não vai ter o benefício delas. Acho muito grana.
No caso das bikes tb penso assim, o troço é caro e o cara tem que passar por umas fases.
Agora, cada um sabe o qto pode gastar no seu vício/hobby.
Agora, sobre usar roupa "estranha" para treinar ou ir com elas a padaria. Não tem jeito. Acho que tem um pouco de simbologia envolvida, vc usa tanto aquela roupa que chega uma hr em que vc não acha mais ridículo e tb chega a um ponto que vc tem tanta roupa de prova que acaba até usando de pijama.
Eu que corro poucas provas, já tenho tantas.
Bessa, e essa ainda vale lembrar que este vestuário na estrada, fez eu te perguntar .. pow, vc treina com o Rodrigo da Ironguides?/ sim treino sim, sou o Vager Bessa, prazer ../ o do BLOG do Bessa ? rs ... sensacional texto .. Como diz a música:
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
[]´s
Vagner,
Já pensei "n" vezes em postar sobre esse assunto e não consegui ter o saco que você teve de colocar as coisas, digamos, em seus devidos lugares.
Parabéns.
Queria acrescentar mais algumas comparações e comentários:
- Eu, particularmente, quando vou pegar alguma camiseta para qualquer fim (treino, saída, etc) me deparo com quase 100% de camisetas de provas.
- Equipamentos - Ficamos "regulando" se o cara tem pedal para usar determinada bike muuuuito cara. Qual o problema ? O dinheiro não é dele ? O que dizemos sobre quem tem um carro que pode chegar a 300km/h no Brasil ? E daí ?
Existem em todos os grupos sociais exemplos extremamente positivos e negativos. Gente que por ter poder econômico pensa que tem o direito de tripudiar em cima dos demais. E gente que mesmo tendo um bom poder econômico usa apenas o necessário ou nem isso.
Cada um, cada um.
Importante mesmo é nos sentir bem do jeito que somos.
Abraço
Cara, muito apropriado...
Eu outro dia vi umas fotos de um pedal que fiz em 2003. Uma trip de 2 dias, uma galera legal. E eu lá de calção e uma bermuda de lycra por baixo, pra 'esconder'. A camiseta era de algodão.
Hoje em dia não tenho problema nenhum em descer todo fantasiado no prédio... me jogar na piscina com bermuda de lycra com 'absorvente feminino' ou 'faldra geriátrica' acoplada, quando tá cheio de gente.
Quando eu comecei a escalar usávamos calça comprida de lycra. Uam coisa ridícula. E aí ficávamos andando de ônibus, sendo alvo de olhares estranhos kkk.
Tribos, cada um na sua, e manias a parte.
Aquele vídeo que publiquei com o pedal em Urubici, pensa num ser estranho sendo fuzilado pela galera de lá, tenho certeza que acharam que eu era o próprio alien com aquele capacete bisonho e meia de compressão correndo feito louco depois de guardar a bike no carro.
E complementando o comentário lá no blog (valeu !), será que somos assim anormais :-) ????
Abração
Bessa, já escrevi minha opinião no Blog (sem tantos assessos quando o seu nem tão bem escrito, mas segue o link para quem tiver interesse (http://www.bnitrini.blogspot.com.br/2013/02/o-equipamento-esta-ligado-ao-nivel-do.html)
Acho que se cada um cuidasse da SUA VIDA, DOS SEUS TREINOS, DA SUA PERFORMANCE não estaríamos discutindo isso aqui.
Acho que há uma mistura de recalque e inveja nas críticas aos atletas que usam os melhores equipamentos e não tem as melhores performances (aliás quem julga as melhores performances??).
Desculpe a assertividade excessiva!
Abração!
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