Quando o post sobre a tal High Society foi lido, pipocaram discussões aqui e ali sobre economia - várias por email.
Uma coisa curiosa - curiosa pra mim, desde de sempre - foi a forma como as pessoas sugeriram resolver essa pendenga de preço de prova de triathlon.
Acho que não estou muito errado se dizer que 99,9% das pessoas acham que o problema se resolve com mais concorrência, pois os preços altos seriam consequência de muita demanda e pouca oferta.
Acho que não estou muito errado se dizer que 99,9% das pessoas acham que o problema se resolve com mais concorrência, pois os preços altos seriam consequência de muita demanda e pouca oferta.
O Guilherme na área de comentários disse o seguinte:
Mas para mim está claro que se trata da mais pura Lei de Oferta e Demanda.(....) O que está aí não é nada mais nada menos do que a regra mais antiga de satisfação da vontade alheia. Quer algo? O preço é x. Muita gente quer este mesmo algo? O preço é y. Muita muita muita gente quer esta mesma coisa e não tem pra todo mundo? O preço é X+Y+Z. Fácil.
Ou o Emiliano
Acredito que o aumento de preços se dá pela demanda: Enquanto as inscrições esgotarem em minutos, o preço sobe, pois há procura..
Acho que eles tiveram a felicidade de sintetizar o que a maioria das pessoas pensam sobre o assunto.
O texto tem duas partes. A segunda é dispensável.
A primeira, também! ;-)
Eu aconselho a quem passa por aqui a seguir aquela máxima do Ciro, que eu adapto para tudo "entre ficar lendo blog e correr, eu prefiro correr".
Mas se você ainda está ai, parada na frente do computador, então vamos lá....
Mas se você ainda está ai, parada na frente do computador, então vamos lá....
Concorrência é uma fórmula muito comum que funciona como uma lei natural na cabeça das pessoas.
Seria mais ou menos assim: se a demanda pelos produtos do "setor X" cresce em ritmo maior que o da oferta, os preços sobem. Por ser assim, esse setor atrai novos produtores, o que aumenta a quantidade de produtos disponíveis e, consequentemente, há uma queda de preços. Essa queda se dá até que se alcance um "preço de equilíbrio".
Preço de equilíbrio não é uma medida objetiva, tal como a gente faz quando olha a temperatura em um termômetro, mas um preço na qual os produtores se sentem motivados ofertar um produto qualquer e os consumidores a adquirí-lo.
Muita gente acha que isso é um "preço justo".
Muita gente acha que isso é um "preço justo".
Nesse sentido, a "concorrência" é o elemento regulador da economia, uma "lei" que põe produtos nas prateleiras na quantidade certa e preços compatíveis com o poder de compra dos consumidores.
A gente acha isso tão natural que parece que já nasceu sabendo.Ou quando vê na faculdade, parece que não precisa estudar.
É uma idéia muito popular porque é muito intuitiva.
Em um mundo muito complexo e dinâmico, a gente costuma se apoiar em algumas supostas verdades universais por se sentir mais seguro.
Primeiro e antes de tudo, vamos supor que a "lei da concorrência" é realmente uma lei.
Entretanto, para funcionar essa lei precisa que alguns pressupostos sejam cumpridos. É o que consta em qualquer manual de economia.
O primeiro é que os consumidores conhecem todos os preços. Ou seja, se você escolheu abrir uma conta em um determinado Banco, supõe-se que você tem conhecimento dos preços dele e de todos os outros bancos (taxa do cartão, preço dos extrato da conta corrente, talão de cheques etc).
O segundo é que nenhuma empresa domina o mercado e não existe monopólio. Assim, você pode escolher um banco entre tantos outros.
Terceiro é que os produtos são homogêneos.
Oi?
Os produtos não tem diferenciação. Se eu vou abrir uma conta ou comprar um serviço em um Banco, o pressuposto é que não pode ter serviço prime. Não há diferenças de qualidade ou o que se chama "diferenciação de produto".
Na teoria da concorrência perfeita, todos os produtos são, portanto, iguais - sem cor, cheiro, distinção social ou os cambáu!
E decorrente desse último, temos o quarto pressuposto:
As leis da oferta e da procura funcionam em mercados em que as empresas concorrem via preços.
Outra coisa: não existe o que chamamos de "barreiras a entrada", isto é, qualquer empresa pode entrar no segmento bancário, apenas para citar um exemplo.
Ou a "concorrência perfeita" é uma abstração, uma idéia muito genérica que a gente só usa em aulas para mostrar um conceito ideal em um mundo igualmente ideal que só existe plenamente no manual de economia.
Outra coisa: não existe o que chamamos de "barreiras a entrada", isto é, qualquer empresa pode entrar no segmento bancário, apenas para citar um exemplo.
Ou a "concorrência perfeita" é uma abstração, uma idéia muito genérica que a gente só usa em aulas para mostrar um conceito ideal em um mundo igualmente ideal que só existe plenamente no manual de economia.
Para não dizer que sou radical, vou até dar uma aliviada.
No mercado de pizzas, por exemplo, até que esse troço funciona razoavelmente bem. Você vai ver que, na média, os preços da pizzas de mussarelas são bem semelhantes em qualquer bairro da sua cidade e isso não é porque os donos de pizzaria se reúnem uma vez por mês para determinar qual será esse preço.
Na verdade, os consumidores conhecem os preços e ligam até encontrar o preço mais razoável. Os donos de pizza delivery que estiverem muito acima desse patamar médio não vão receber chamadas.
Ou seja, é o consumidor que informa a cada empresário se o preço dele está fora ou dentro do mercado. E ele tem que se encaixar nesse patamar. Se ele não consegue vender pizzas a R$ 19,00, isso significa que ele deve compatibilizar os custos dele com o custo médio do mercado.
Mas, observe: não é ele que dita o preço e nem ninguém. O "preço" é resultado da chamada "mão invisível" do mercado, pois monopólio de pizza de mussarela é uma coisa totalmente insana de se pensar;
Mas do leite que você toma em casa ao carro que você usa, a maior parte dos produtos que você adquire não são produzidos em mercados de concorrência perfeita tal como os de pizza delivery.
Mas do leite que você toma em casa ao carro que você usa, a maior parte dos produtos que você adquire não são produzidos em mercados de concorrência perfeita tal como os de pizza delivery.
E muito menos os eventos como as provas de distância Ironman.
Queria chegar nesse ponto.
Queria chegar nesse ponto.
Ouço gente dizendo "Ah, mas se a tivesse outras empresas", "se o percurso fosse mais difícil" ou "se a prova tivesse menos aventureiros"...enfim, tem argumento para todo os gostos, mas a conclusão para qualquer um desses argumentos é: o número de inscritos cairia e, consequentemente, os preços se ajustariam a demanda menor - ou seja, os preços se ajustariam para baixo.
Coisa muito simples pelo que se vê.
Mas tem um probleminha ai,pois o mercado de provas no Brasil não é concorrencial.
Como a franquia Ironman é um monopólio, o "preço" não pode ser um reflexo dos "custos médios" de outros fornecedores do mesmo serviço.
O preço é apenas um patamar para que ela a franquia segmente o mercado de consumidores que ela deseja explorar: e ele faz isso usando diferenciação de produto e muito marketing.
O preço é apenas um patamar para que ela a franquia segmente o mercado de consumidores que ela deseja explorar: e ele faz isso usando diferenciação de produto e muito marketing.
O Ricardo Veras fez um levantamento muito legal sobre os preços para inscrições provas da franquia Ironman e algumas de suas concorrentes (HITS e Challenge, principalmente). Se você consultar o Blog dele (veja aqui), note como existe grande semelhança de preços em lugares totalmente diferentes no mundo inteiro.
O que isso indica é que essas empresas trabalham com um referencial de preços internacional e querem um público de "classe mundial" com um perfil de consumo compatível com o status dessas marcas.
Quando a TriStar entra no Brasil ela já tem esses referencias e usa para estabelecer seus preços e não para "concorrer" com provas similares porque ela já sabe qual o tamanho do mercado. É só pegar a tabela de inscritos no GP ou no Long Distance.
E caso tivessemos provas da REV3 ou do Circuito Challenge no Brasil, seria a mesmíssima coisa.
E caso tivessemos provas da REV3 ou do Circuito Challenge no Brasil, seria a mesmíssima coisa.
Mais: ainda que metade as inscrições do IM 2013 fosse cancelada, a Latin Sports não teria autonomia para mexer nos preços do IM de 2014 a fim de atrair consumidores que estariam dispostos a pagar menos.
Pelo contrário: ela poderia até aumentar o preço das inscrições de forma elitizar ainda mais o perfil dos consumidores.
Por isso é que não dá para falar que a "concorrência" vai resolver os problemas.
O mundo não funciona assim...
O mundo não funciona assim...
O que falta na verdade é um outro circuito de provas mais baratas que ofereceram um outro produto - simplesmente uma competição em que as pessoas queiram nadarpedalarecorrer sem o status dessas marcas mundiais, como o Mdot.
Até hoje eu não entendi como as empresas de eventos não abriram espaço para esse "nicho".
Tô falando de eventos simples, mas bem organizados.
Bom, cansei desse assunto! Parei de vez...
Agora, depois de tudo isso, tenho certeza que você vai refletir profundamente e tirar a seguinte conclusão: acho que vou dar uma corridinha na rua...;-))))
Um comentário:
Eu até entendi, mais ou menos o que vc quis dizer.... mas comecei a pensar que isso ja é mais do que apenas economia ou teoria da economia.
É uma adaptação ao sistema.
Ja tem vida própria
É um organismo que nasceu, e esta crescendo....e esta longe de morrer.
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