terça-feira, 9 de agosto de 2011

Back to Basics?

Dizer que o triathlon é um "estilo de vida" é uma coisa que parece um tanto inusitada quando você está conversando com alguém que não é familiarizado com o tema.

Embora seja possível reconhecer pessoas que praticam certos esportes em função de traços físicos e hábitos culturais, o que inclui um gosto musical particular ou por um certo jeito de se vestir, acho que ninguém diz que pratica futebol, corre, joga vôlei, basquete ou...sei lá, golfe, enfim, ninguém pelo menos que eu conheço diz que seu esporte preferido é um "estilo de vida".

Conversando com a Lisandra no Chile e contando sobre meu desejo de um dia poder fazer o Ultra Trail Du Mont Blanc, ela me chamou a atenção para o fato dos corredores de montanha serem talhados fisicamente pelo esporte que escolheram e pelo meio em que vivem - os olhos profundos, a pele grossa imune ao frio, os rostos envelhecidos e a expressão vigorosa. Pernas enormes. Uma relação quase metafísica com as alturas e a natureza.

O "estilo de vida" desses corredores emerge de uma emersão completa na vida cultural.

Para eles, vencer as distâncias tem um significado maior. "It's not about Running", parafraseando o Armstrong.

Fico me perguntando: o triathlon não seria algo mais que "nadarpedalarecorrer" também?

As vezes, fico pessimista quando percebo que nosso "estilo de vida" pode ser apenas uma ilusão construída por um padrão de consumo baseado na ostentação e sem valores comuns, cujo resultado é aquela imagem caricata dos "triatletas de boutique" - figura que se empeteca com um capacete aero, óculo oakley, macaquinho 2xu e monta em sua bike cérvello para ir na padaria.

Eu não sei. Recentemente vi uma discussão totalmente insana entre uma triatleta que fez uma prova insana e um sujeito insano que disse palavras insanas e ouviu coisas insanas de quatrocentas outras pessoas....bem, advinhem!

Insanas...

As pessoas desaprenderam a expressar solidariedade ou é impressão minha?

E, depois, ficam "sensibilizadas"com o Dick e o Rick Hot?

Claro, não sejamos inocentes - isso acontece também em outras esferas da vida e os triatletas não estão fora de um contexto social mais amplo.

Reconheço também que em outros esportes o mesmo ocorre de forma tão ou mais truculenta.

Só que não adianta. Julgar o defeitos dos outros por meio dos nossos próprios defeitos é um péssimo argumento.

Já assumindo meu erro por ser tão genérico e injusto em querer julgar um mundo de gente que não se encaixa nesse perfil que tracei, gostaria de perguntar: esse nosso esporte não deveria agregar a vida das pessoas, além de hábitos saudáveis, valores que as tornassem minimamente cordiais?

Acho que antes de pensar em suplementos, bikes, capacetes, o preço das provas, pneus clincher ou tubular, descanso ativo etc etc etc, poderíamos nos perguntar "quando aqueles caras criaram o Ironman, o que eles queriam provar mesmo?"

5 comentários:

Joel dos Santos Leitão disse...

Essa futilidade toda a que você alude já sentimos no período de eleições, meu caro Vagner.
Sinto-me até envergonhado de ter ficado perplexo com os comentários que li aqui e acolá, inclusive de muitos dos nossos.
E me sinto envergonhado porque fui ingênuo ao ponto de me distanciar tanto da vida real ao estabelecer contato com os corredores nas redes sociais e esquecer que através de 140 caracteres não conseguimos conhecer ninguém.
Mas penso que esse assunto não pode fugir muito do contexto da sociedade em que vivemos - concordo com você. Aqui e acolá a ostentação vai continuar, os valores serão invertidos, e a cegueira mencionada por Brecht (o analfabeto político) continuará em ritmo de epidemia.

Cintia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
simplifique disse...

Acho que é isso que me angustia tanto e tanto me incomoda.
Mas, como vc falou, é apenas um reflexo da sociedade em que vivemos.

Andre da Hora disse...

Vagner, excelente post! Comecei a praticar triathlon em janeiro do ano passado, e antes disso já havia corrido algumas maratonas, muitas meias e diversas corridas de aventura e provas de mtb. Nas corridas de aventura, por serem feitas em equipe e onde a navegação, com bússola, é muito importante, há um espírito de cooperação, respeito, dependência, confiança... na hora do cansaço, no meio da noite, o cara que encontra o "norte" certo salva a equipe, resgata o emocional. Sinto falta disso no triathlon, talvez por ser um esporte que se corre sozinho, mas que certamente se treina em equipe!
Abraços,

FREE ATLETA disse...

Bessa essa coisa é geral, no surf tb rola isso. Mas vejo que o triatlon é o mais forte nesse papo, não sei pq, mas sei que é...rs Por isso eu gosto das ultras...kkk Resumindo acho que o Xampa ta certinho e é o que eu penso. Belo post, bela reflexão rumo a Ultra Trail Du Mont Blanc, mas antes vou para Comrades...Ahuuuuuuuuuuuuu Abração mestre !!!