sábado, 31 de dezembro de 2011

2012 - Into the Night

"Into de Night" é quase um cult movie da sessão da tarde, mas um filme um tanto esquecido da boa safra dos 80.

Conta a história de um cara, interpretado pelo Jeff Goldblum, que leva uma vida modorrenta, sofre de insônia e tem um emprego insuportável.

Uma vida tão deprimente que ele sequer encontra ânimo para reagir a traição que a mulher (medonha) lhe impõe com o próprio chefe.

E quando as coisas estão monótonas e deprimentes, parecem que duram uma eternidade.

Até que....

Até que dirigindo para o aeroporto ele dá de cara com uma contrabandista que está sendo perseguida por iranianos.

A tal contrabandista, nada mais, nada menos, é interpretada Michelle Pfeiffer.

A noite que ele vão passar juntos é a antítese da vida medíocre e acomodada que ele aceitou com naturalidade durante anos.

As vezes a vida da gente parece ser um tempo muito longo de desamparo e desesperança...

Mas casualmente pode aparecer uma Michelle Pfeiffer fugindo de uns caras maus, precisando desesperadamente de alguém...

E ai as coisas podem mudar...

Você só precisa estar disposto a encarar certos perigos

Se arriscar.... :-)))))

Ótimo 2012!!!!







domingo, 11 de dezembro de 2011

Poema em Linha Reta

Ouvi esse poema pela primeira vez quando foi declamado pelo meu professor de língua e literatura portuguêsa no cursinho do Universitário.

Serve para diferentes leituras, diferentes perspectivas...

No meu caso, ajuda a me perdoar quando isso parece impossível, ou a dar o primeiro passo, quando o medo de arriscar e parecer ridículo me paralisa.

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


sábado, 3 de dezembro de 2011

O Pulo do Gato

Neste Blog, tenho o hábito de não responder aos comentários apenas por convenção.

Ela vem da época que eu perdia meu tempo escrevendo para jornais. Sempre ficava puto quando no painel do leitor a tal “resposta da redação” tinha mais espaço que as cartas dos assinantes do jornal.

Da mesma forma que um jornal, entendo que o autor do Blog tem um grande espaço e todas as ferramentas para opinar, enquanto a área de comentários é relativamente reduzida, além de ser de leitura opcional e de pouca visibilidade.

A exposição dos argumentos acaba ficando desigual, sempre a favor do Blogueiro.

Esse não é um modelo mais bacana – na verdade, até gosto mais do Blogs do Xampa, Wlad, Max ou Ana Oliva e tantos outros, na qual há uma interação simpatica entre o autor dos textos e os leitores, com troca de experiências dos dois lados.

Já eu, por outro lado, fico preso as minhas manias.

Quando tenho algo pendente, se tiver o email, escrevo para a pessoa.

E foi o que ocorreu no caso do Max.

Acho que não interessaria para as pessoas explicitar o conteúdo dessa conversa nos termos em que ela foi feita – porque uma parte desses emails são assim: “eu não falei isso, não falei aquilo”, “mas eu não disse que você falou”, “só que ficou parecendo que você falou”.

O que interessa é a parte que eu falei mesmo e ele também….:-))))

A principio, a fim das pessoas terem mais informação sobre o assunto, combinamos que eu publicaria o texto do Max, que está na área de comentário, nesse espaço e uma tréplica minha e quantas "réplicas" fossem necessárias.

Nesse meio tempo, o Max fez um texto, que achei mais estruturado e mais claro que o depoimento que ele deixou aqui no Blog.

Além das próprias idéias do autor, recomendo a leitura do texto em função do debate que seguiu no espaço dos leitores. Lá estão depoimentos e informações valiosas que complementam a linha de pensamento dele.

Clique aqui para ver o texto.

No caso da nossa discussão, achei bastante oportuna a discordância. Ele me tratou com deferência e gostaria de retribuir no mesmo sentido.

Embora as pessoas possam ler as próximas linhas como um texto onde as diferenças se acirram ainda mais, na prática meu movimento tem se dado no sentido inverso.

Então por quê prosseguir com a discussão?

Porque aprofundar a troca de idéias, expor dúvidas e problematizar argumentos é minha forma de expressar respeito a uma pessoa que me deu a oportunidade de um debate que, seguramente, me tirou da minha zona de conforto.

Bons combatentes querem adversários a altura.

Não sei se estou nesse nível, mas vou tentar pelo menos sair das cordas....

Então vamos a mais um round....;-))))

Acho que nenhum de nós dois discordou sobre o seguinte: informação sem contexto, sem interpretação torna qualquer equipamento que gera estatísticas um brinquedo caro.

A discussão não se resume, portanto, não é o "uso", mas o "uso eficiente" de qualquer equipamento que chamo de "máquinas de calculo", que vão de monitores cardíacos a potenciômetros.

Embora tenham funções e propriedades distintas, para a minha linha de raciocínio, isso é irrelevante.

Mas deixa eu azedar a conversa um tantinho.

Em primeiro lugar, a comparação entre potenciômetro ou monitores cardíacos, com rodas Zipp ou aerobar, tênis ou óculos, é uma discussão que não cabe.

São coisas que não estão no mesmo nível.

O "custo" (monetário ou não) de umáquina de calculo do quilate de um potenciômetro não se reduz ao que você paga "na boca do caixa", mas também o que você precisa fazer (e conhecer) para usar de forma eficiente as informações que esses aparelho produz.

A questão dos medidores de potência é infinitamente mais complexa, pois exige que você agregue ao seu uso competência para a interpretação dos dados - se você (ou o seu técnico) não faz isso, esse equipamento vale menos que o discutível guidão de carbono - esse você põe na bike e o benefício (na hipótese de existir um) é imediato.

Embora exista, sim, uma diferença importante entre esses equipamentos, no sentido de que com alguns deles você "compra" performance e, com outros, você se torna mais consistente, isso é verdadeiro apenas se você saber usá-los corretamente.

Se não for assim, ao adquirir um MP você pode ter comprado caixa de pandora.

Nesse sentido, e discordando do Max, considero o medidor de potência complexo demais como a primeira compra depois da bike.

Não que ele não tenha razão sobre a pobreza de perspectiva de um sujeito gasta uma fortuna comprando recursos ergonômicos, como capacete aero, pedais mais leves ou rodas de carbono quando poderia estar preocupado com a consistência da sua condição física e atlética.

A minha preocupação é que o pleno aproveitamento desses recursos envolve conhecimentos específicos, sobretudo sobre campos relativamente complexos para leigos, como fisiologia, nutrição, mecânica, fisica e metodologias de treinamento.

Bem mais útil, na minha opinião, seria um rolo ou, antes disso, uma boa assessoria ou, antes disso uma academia onde se pudesse praticar exercícios funcionais ou, antes disso, acesso a uma fisioterapeuta ou, antes disso, um nutricionista ou, antes disso.....

Enfim, se o foco é o indivíduo, há várias coisas que podem ser feitas depois que se compra uma bike e antes que se adquira um potenciômetro.

Mas, convenhamos, pode-se argumentar que isso não precisa ser assim. Não sendo o comprador da bicicleta ou atleta um autodidata, sempre há a possibilidade de se delegar essa tarefa de análise ao coach.

Então um ponto importante é o seguinte: quantos profissionais podem lidar com esses equipamentos no Brasil?

No seu Blog, o Max indicou quatro. Ainda é pouco.

Na minha opinião, a disseminação dos medidores de potência só será efetivamente útil se for acompanhado por um programa de capacitação de técnicos e atletas, tanto com o equipamento, quanto com os softwares que permitem a organização das informações para o planejamento dos treinos.

E esse é um gargalo considerável, embora de jeito nenhum uma barreira impossível de ser vencida.

Mas que tal esperarmos mais profissionais com conhecimento sobre o assunto para comprarmos esse equipamento?

E, agora, vou me arriscar e colocar outro ponto: eu acho que a gente está com o foco errado.

Como questionar a pertinência ou não desses equipamentos sem discussão prévia sobre metodologia de treinamento?

Imagine uma cena insólita: voltamos ao tempo, no ano de 1948, oferecemos nosso mais poderoso Garmin do século XXI a um corredor romântico chamado Emil Zatopec, que estava ali naquelas paradas da Europa Oriental fazendo seus treinos intervalados pela manhã e a tarde.

Ele certamente ficaria curioso. Iria examinar o aparelho. Explicaríamos a ele os recursos do monitor e todas correlações estatísticas entre VO2, lacto, recrutamento de fibras e por ai vai.

Tudo isso, claro, pressupondo que ele fizesse treinos baseados em freqüência cardíaca.

O "detalhe" é que essa metodologia ainda não tinha sido inventada e esquecemos de trazer um treinador do século XXI para poder utilizá-la.

Houston, we have a problem...

Certamente, aquele corredor ficaria com o relógio, até acabar a bateria - depois ele voltaria ao seu velho e eficiente relógio de ponteiro.

O que quero dizer com isso é que a questão não são "monitores cardíacos".

Eles são ótimos!

A questão central é o que temos a dizer sobre treinos baseados em zonas de freqüência cardíaca.

Trocar o debate sobre métodos de treinamento pela utilidade ou não de máquinas de calculo significa transformar esses aparelhos em "fetiches" - defensores e detratores projetam nesses objeto como quê poderes mágicos, negativos ou positivos, que podem nos salvar ou nos levar a pro buraco.

No meu entender, a chave que abre todas as portas não são gadgets, mas a filosofia de treinamento.

Quanto a gente não tem clareza sobre isso, fazemos um sururu por nada...

Isso fica explicito quando aqueles que defendem os medidores de potência (ou monitores cardíacos) não conseguem aceitar que os indivíduos tenham outro tipo de conhecimento ou feedback sobre seus treinos que não seja em Watts.

É comum a frase "Ahhh, sujeito treina no escuro", que expressa uma tal falta de bom senso que dispensa discussões.

E, muito sinceramente, para não dizer que sou (totalmente) parcial, tão ruim quanto esse raciocínio, é o seu oposto, que afirma que aqueles que usam instrumentos de medição abdicam totalmente do seu autoconhecimento.

Esse debate é estéril.

O pano de fundo de tudo que se discute sobre gadgets é outro.

Pelo menos até onde consigo enxergar as coisas, existe uma bifurcação de filosofias de pensamento que se colocam em lados opostos pessoas favoráveis e não favoráveis ao uso desse tipo de tecnologia.

Há uma escola, captaneada pelo Brett Sutton e atletas como Chrissie Wellighton, Chris MacComack e toda uma linha de pensamento que daria oriem a metodologia do Ironguides por meio do trabalho do Marc Becker. Essa vertente tem por base a percepção de esforço.

Nessa perspectiva, a sensibilidade sensorial é uma capacidade que deve valorizada. É a nossa sensibilidade que mantém nosso contato com a realidade.

Tudo bem que alguns ironizam e dizem que nessa corrente o Brett é um pouco peculiar - os indivíduos tem seu próprio nível de percepção de esforço, mas se ele não concorda ela, a última palavra é dele. :-)

Bom, nesse linha, atletas que tem sua sensibilidade aguçada são mais confiantes, improvisam e são capazes de assumir mais riscos que aqueles que correm em ritmo pré-definido.

Para o Macca, por exemplo, se ele "sente" que pode partir para uma fuga, ele não olha para o relógio - ele simplesmente "sabe" que pode.

Isso coloca em questão o raciocínio do Max, que cria uma disjuntiva questionável entre uma perspectiva competitiva baseada no uso de potenciômetros e outra, não competitiva, baseada no uso dos sentidos.

A segunda escola, mais quantitativa, é utilizada por técnicos com Hunter Allen e atletas do naipe de um Jordan Rapp e Andy Potts.

E, muito interessante, enquanto o primeiro time é mais radical e homogêneo, o segundo tem uma abordagem mais variada e flexível (e mais rica, na minha opinião).

De forma geral, advogam que o desenvolvimento das habilidades relativas a percepção de esforço levam tempo, quando não anos, e os gadgets podem dar um feedback mais rápido do que realmente aconteceu, permitindo avaliar como o treinamento está progredindo e quais os ajustes necessários para o atleta tentar ultrapassar suas metas ao longo de uma temporada.

Mas há opiniões diferentes também de como usar os MP entre seus defensores.

John Cobb afirma que os números produzidos pelos medidores de potência deveriam ser lidos apenas pelos coachs, enquanto os atletas deveriam se ater as provas ou, mais especificamente, aos aspectos táticos da competição sem esses equipamentos.

Já Rapp vê no potenciômetro uma vantagem competitiva se usado tanto em treinos quanto em provas.

O balanço disso?

No meu modo de ver, o "pulo do gato" seria a superação dessa dualidade entre Sensibilidade x Gadgets, entre o Mundo Vivido x Mundo dos Sistemas.

Como diz o Vance Store, um defensor dos gadgets, "Ferramentas que fornecem dados sobre sessões de treinamento são o feedback mais puro que existe, e quando usadas em conjunto com o feedback do atleta, torna-se ainda mais poderoso".

Agora, gostaria de dar um depoimento honesto sobre essa discussão toda.

Porque eu não queria esse Blog fosse lugar para uma análise fria de correntes teóricas, tal como um artigo acadêmico.

Eu assumo minha parcialidade como uma posição pessoal.

Ela existe, sim. É fato.

E toda a parcialidade nos impõe "pontos cegos".

Os meus costumam ter a dimensão de um buraco negro... ;-)))

Quando questionei o uso desse equipamento com o Felipe Amante, começamos uma discussão muito didática (pra mim) sobre o assunto.

Discussão que, na ponta do lapis, ele mostrou ter mais razão que eu, diga-se.

No final, como já escrevi em algum lugar, joguei a toalha e aleguei a ele que a minha resistência no fundo tem razões pessoais, já que meu trabalho é com estatísticas.

Eu sei exatamente o significado de "trabalhar com dados".

Ao envolver "dados" no esporte significa tratá-lo como objeto de análise.

Significa transformá-lo em um prolongamento do meu oficio.

Eu não sei se quero "treinar melhor" e de "forma mais eficiente" se o custo de fazer isso for esse.

Mas tenho certeza que quero nadarpedalarecorrer.

Se o triathlon fosse apenas medido em watts, muito pouco restaria pra mim.

No meu caso, mesmo "competir" é também uma coisa lúdica.

Minha sanidade e meu prazer com o esporte depende de um lugar em que posso fazer algo que não seja medido por "taxas", "indices", "indicadores", "bits" ou "watts".

Isso faz parte do rol de questões para explicar o meu "romantismo".

Em um sociedade em que tudo somente é valorizado enquanto é medido e se chega ao cúmulo de almejar um "PIB da Felicidade", tal atitude envolve uma certa negação de valores dominantes.

Assim como fazem aqueles que, em uma sociedade mercantil e utilitarista ao extremo, se dizem mais preocupados com o "Ser" do que com o "Ter".

No fundo, nós todos somos românticos ;-)))))

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Último Romântico?




Nessas últimas semanas, dentro de um pequeno circulo de amigos que trocam e-mails sobre triathlon ou provas de Ironman, veio à tona uma tema que vem ganhando espaço considerável nas rodinhas “triatléticas” – o uso de potenciômetros.

Mas não se tratava de uma discussão sobre o melhor equipamento ou o mais preciso. A questão de fundo foi colocada pelo Eduardo Carvalho a partir da provocação do Felipe Amante sobre feedback de performance.

“Vejo que os equipamentos como Garmin com GPS e agora os medidores de potência podem dar uma real avaliação se a performance individual mudou ou não, coisa que até hoje não consegui de nenhum método de treinamento ou assessoria que freqüentei. (Pois) só na prova projetando o tempo final é f%$#@#, porque muita coisa pode acontecer quando você junta tudo, mais a condições climáticas. Por mais que seja a mesma prova no mesmo lugar, nunca uma prova é igual à outra”

Obviamente, essa discussão deu uma rachada no grupo. Minha “verve” Ironguides veio a tona e argumentei que a assessoria não tinha método quantitativo para a aferição de desempenho, mas que eu “vinha melhorando” pelos resultados que experimentei entre 2010 e 2011 e que isso seria suficiente pra mim.

Num átimo, tomei um petardo na testa!

“O que te leva a dizer que “anda melhorando”? Feeling? Tempo de prova? Como o Edú lembrou, ainda que a prova seja feita no mesmo lugar, sempre há condições diferentes, como correntes marítimas, vendo, calor, etc. Você conseguiu seu melhor tempo de Caiobá e do IM Brasil nesse ano. E daqui pra frente? O que te dirá que você “melhorou”? Pegue, por exemplo, o pedal com vento do 70.3 de Miami. E se você andou abaixo da sua capacidade? O que pode te dizer isso?”

Esse “feeling?”, citado como foi, para uma mente cartesiana como a minha, dói como um direto no estômago.

“Salvo engano, você mesmo disse no seu Blog, em uma época de treinos desgastantes de Iron, que a mente pode pregar peças. Ou seja, a percepção de esforço pode falhar. Há dias em que a mente quer, mas o corpo não vai. E vice-versa. A verdade é: como o medidor de potência isso continuará a acontecer. Só que você saberá se o corpo realmente não está respondendo ou se a sua percepção está falhando.”

Eu me vi como um lutador de telequete no meio de um campeonato de UFC .

Porque, bom, eu tinha dito isso mesmo. E agora não dava para dizer “não era bem assim..."

Tá vendo porque escrever Blog é uma merda? (rs)

Parecia que meu ego estatístico tinha desencarnado e virado um triatleta de carne e osso com vida própria e estava me esmurrando ;-)))

De fato eu mesmo não tenho respostas para questões muito simples apenas por meio da minha percepção.

Exemplo? Quando passei a usar o capacete aero, tive a sensação de que esse recurso realmente me ajudou a pedalar mais rápido.

Mas o quanto desse ganho pode ser atribuído ao capacete e o quanto ao fato de que fiz alguns treinos específicos no rolo?

Não sei.

Ou seria um acaso, pois que eu já vinha perdendo peso e meus treinos começaram a fazer efeito justamente quando comecei a usar esse novo "casco"?

Pode ser. Mas também não sei.

Enfim, se alguém me perguntar se é recomendável um capacete, digo que sim.

Só que reconheço que é um "sim" muuuuuitoooooo meia-boca.

Ah, eu falo logo!

Bem, não vou dar detalhes dessa discussão que se prolongou por dias e me deixou estirado na lona depois de um massacre de (ótimos) argumentos e uma aula sobre potenciômetros digitais.

Mas é uma boa oportunidade para escrever sobre algo mais abrangente, isto é, sobre o bullying ....ops...digo, sobre o potenciômetro e todos os equipamentos de medição que tem preenchido a vida da gente.

Apesar de trabalhar com estatísticas, vou dizer algo da qual certamente posso me arrepender facinho facinho daqui a dois dias: o nosso problema começa quando a gente acredita piamente que números representam o caminho mais fácil para o conhecimento de algo.

Para dar um exemplo, todo mundo sabe que a mortalidade infantil é alta no país, mas também é verdadeiro que ela vem caindo nas últimas décadas. E você saberia explicar o por quê?

Nós temos todos os dados possíveis e imagináveis para para entender isso, mas não podemos afirmar com certeza.

Você vai dizer que as condições de saúde melhoraram no Brasil? Ou serão os investimentos em saneamento básico e a melhoria das condições médico-sanitárias? Ou o determinante é a elevação da renda das famílias? Ou o aumento escolaridade da mãe? Ou seriam os programas assistenciais de atenção as mulheres.

Como tudo isso acontece ao mesmo tempo, uma boa explicação se torna um pesadelo para os estatísticos.

Números nos dão hipóteses.

E muitas vezes temos que dizer o seguinte: com tantas informações e dados, ainda assim, nós não sabemos muita coisa sobre questões que você ai julgaria "óbvias".

Voltando ao nosso assunto, o uso de potenciômetros faz parte de uma discussão mais ampla que incorpora ainda os monitores cardíacos, medidores de cadência, velocímetros e os equipamentos de GPS.

Mas a pergunta que se coloca pra mim é – esses equipamentos contribuem para o aumento do nosso conhecimento?

Não estamos confundindo dado, informação e conhecimento?

Espera, qual a diferença entre isso tudo, ou seja, o que estou chamando de dados, informação e conhecimento.

Vou dar uma simplificada.

Por “dados” entenda-se os números, tal como a velocidade registrada no seu velocímetro, por exemplo.

Quando esses dados são organizados ou manipulados em gráficos e tabelas, com outros dados ou não, adquirem um sentido e, com isso, transformam-se em “informação”. É o que você faz quando despeja os dados do seu relógio em um software que registra seu pace, cadência média, velocidade máxima e mínima, faixas de batimentos cardíaco, altimetria etc etc etc.

Já o conhecimento se distingue da informação quando adquire algum propósito ou utilidade.

Sabe aquele seu monitor cardíaco super bacana que a gente compra? Além do hardware e do software, você tem a disposição um conjunto de fórmulas que te dá informações que vão desde a queima de calorias até o VO2 máximo. O bichano diz até quando você não deve ir treinar.

Essas fórmulas foram baseadas em anos de estudos de especialistas para as quais você não pagou e, acredite, ao contrário do que as revistas “especializadas” de corrida dizem, tem um alto grau de confiabilidade para a grande maioria da população - mesmo a famosa “220 – menos a idade”.

O problema é interpretar esses dados.

O Felipe teve uma análise bastante feliz da complexidade de se transformar dados e informações em conhecimento.

“De nada adianta ver os números pipocando na tela: 180W, 220W, 150W. Isso não é nada sem os conceitos de análise. Com um pouco de leitura e um tempinho de treino, todo mundo consegue pegar o beabá de média de potencia, potencia normalizada, FTP, andar na Z2 ou na Z3, etc. O difícil, ao meu ver, é, em primeiro lugar, saber estimar corretamente o FTP. Há uma série de testes e fórmulas, mas, não é tão simples assim. Depois q isso for feito, as outras informações virão automaticamente com um bom programa de análise. A segunda dificuldade na parte de análise dos dados é saber o q fazer depois. Ou seja, o atleta já consegue entender bastante coisa dos gráficos, números, etc. Mas, a questão chave é: P/ treinar p/ uma prova X, o q devo fazer? Faço série no limiar? Faço longões? Tiros mais curtos? Misturo tudo? E, principalmente nessa parte, é q acho q precisamos de um bom técnico! Alguém q tenha um planejamento macro, periodização, etc. (nesse campo, já não estamos falando só de potencia...)”

Ou seja, trabalhar com potenciômentros nesse nível que ele fala envolve um trabalho adicional de interpretação dos dados que não é desprezível.

A não ser que você se dedique ao assunto, tal como ele faz, ou arrume um técnico craque para fazer isso pra você, poderá ficar anos acumulando dados e informações dos seus treinos e provas sem chegar a lugar nenhum.

De um ponto de vista mais geral, o que vejo por ai é que nós estamos adquirindo uma parafernália eletrônica muito sofisticada, apenas para colecionarmos dados, satisfazendo nossa curiosidade com gráficos bacanas que permitem o cruzamento de muitas informações.

Mas conhecimento que é bom, neca de pitibiriba.

É como aquele dono de loja que tem todo um sistema super-ultra-mega informatizado na empresa para controle de estoques, entrada e saída de mercadorias, gestão de fluxos, controle de caixa etc etc etc.

Ele deveria ver esse sistema como uma ferramenta para ajudá-lo a tomar decisões importantes, mas de tudo isso só usa mesmo o leitor ótico para evitar erros de digitação e agilizar as filas.

Eu mesmo já fiz isso. Todo santo dia, durante anos, colocava lá no software que veio junto com do S725X os dados dos meus treinos e das minhas provas.

A tela do computador ficava cheia de curvas e retas. Eu podia fragmentar todo percurso de bike ou de corrida para medir minha freqüência cardíaca, velocidade e cadência em um dado trecho.

Era legal no começo, mas depois ficou no automático. Meu computador virou um depósito de “informações legais”, mas sem utilidade.

E depois fiquei me perguntando que cáspita explicava porque tanta gente conseguia uma evolução significativa sem nada disso e eu, com aquele aparato todo, não.

Talvez porque nós estejamos com fome demais de números e fome de menos de conhecimento.

Me desfiz do monitor, apaguei o software e até hoje uso apenas um relógio de pulso com cronômetro.

A partir dai, tudo resulta de um longo e sofrido processo de aprendizagem, baseado na regularidade (por isso a importância dos treinos repetitivos) e "tentativas-e-erro" - a cada repetição eu observo os resultados e removo os erros até atingir o melhor possível.

Eu poderia ir por outro caminho, mais científico e sofisticado, trocando as noções "rudimentares" e "subjetivas" de "forte", "moderado"e "fraco" por medições de esforço e potência precisas?

Poderia.

Mas ai, parafraseando o Ciro, “entre ficar estudando números e correr, eu prefiro correr”.

Será que sou o último romântico?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

70.3 de Miami




Bom, antes de tudo: o texto ai embaixo ficou enorme e difícil de ler.

Porque as vezes a gente escreve para as pessoas que gostaríamos que estivessem conosco na viagem, fazendo um relato mais detalhado pensando em sermos os olhos delas, enquanto em outras há o medo de se deixar passar algo importante que não se quer esquecer - mesmo sem ter a certeza de que esse "algo" é tão importante assim.

E também confesso que estou cada vez mais prolixo mesmo.

Bem, como devo ter contado em algum lugar, quando terminei o IM Brasil, conversei com o Rodrigo Tosta sobre um outro IM ainda esse ano, pensando particularmente Cozumel.
Dentro do que ele pensava para minha evolução, dois IMs seguidos não seriam muito produtivos. A idéia seria continuar trabalhando minha velocidade e, para isso, poderíamos fazer duas provas com a distância 70.3, intercalando com alguns olímpicos em 2011.
Daí a proposta de fazer o 70.3 de Penha e outra prova, que ficaria entre o 70.3 de Miami e o Long Distance de Pirassununga.
Como ele iria para Miami e outros amigos estavam aportando por lá esse ano, para mim seria uma boa trocar Pira por uma viagem aos EUA, o que me agrega uma experiência que não tenho - além do fato que não agüento mais apanhar do sol do Pirassununga para depois me plantar na frente do computador cheio de queimaduras e escrever que “foi à prova mais difícil que já fiz na minha vida...”
Em que pese esse planejamento, as coisas não foram tão bem executadas em função de problemas que tive pelo caminho. Passei o segundo semestre todo fazendo fisioterapia; primeiro, em função da lesão da panturrilha, depois, uma lombalgia.
Mas a vivência com esses problemas me ensinou que a trocar o pneu com o carro andando.
(e considerar a possibilidade de pisar no acelerador)
Depois do PB de Penha, o Rodrigo achou por bem que até o 70.3 de Miami os treinos seriam voltados para a manutenção do condicionamento, sem nenhum tipo de sobrecarga, intensidade (a exceção dos treinos na água) ou grande volume
Basicamente, meus treinos foram mais ou menos da seguinte forma.
Natação pelas manhas as segundas (intensidade), quartas (técnica, com natação com fita nos pés e respiração frontal) e sexta-feiras (volume).
A corrida foram as segundas, quartas, sextas e sábados. Em nenhum dia havia mais de uma hora de treino, o pace mais forte seria o ritmo do 70.3 e o foco eram as variações de ritmo. A única exceção foram os treinos de deep running aos sábados, que fiz na Area com o Fabiano, que me esfolou vivo para mostrar que deep não é só fisioterapia. ;-))))
Em relação as bike, realizei apenas um treino no Riacho entre os 70.3 de Penha e Miami. Todos os outros foram no rolo, se limitando à uma hora na terça (treino técnica e velocidade), outra quinta (Time Trial) e três no domingo (leve na primeira hora, ritmo do 70.3 na segunda e um pouco mais forte na terceira).
Como se nota, nada de Junk Miles, como gosta de falar o Xampa.
Obviamente, chorei um pouco porque queria correr mais, pois a corrida é a minha a base – mas o Rodrigo ponderou minha lesão recente e, mesmo dizendo que estava me sentido bem, achou melhor nos precavermos.
Em termos de expectativas, eu sou sempre um pessimista teórico e um otimista na prática - seria difícil melhorar em relação à Penha, pois eu não conhecia o trajeto, a prova seria em um clima mais quente do que aquele que estava acostumado e meus treinos não tiveram como finalidade um recorde pessoal.
Mas isso tudo é a teoria, porque na prática eu fui mesmo para fazer abaixo de cinco horas...;-)))
Miami
A viagem de oito horas foi dolorida. Eu não consigo dormir direito naquelas poltronas apertadas de avião e passei o tempo todo entre acordado e pequenos cochilos (que mais pareciam desmaios).
Esperei a Deise Jancar e o Rodrigo Tosta no aeroporto e ali nos separamos já em Miami. A Deise tinha alugado um carro e conseguimos um Van de seis lugares da Chrysler. O carro tinha tudo...menos GPS.
Ai o GPS da viagem ficou sendo a leitura que a Deise fazia da sinalização cidade, daquelas coisas estranhas tipo “você pega a 1 WS e vai até 67 North, depois volta pela 44 até cair na...”.
Bom, a primeira coisa foi procurar a Bike Tech Miami para montar as bicicletas. A Deise tinha a loja como referencia e havia trocado e-mails com eles para compra de alguns acessórios para instalar na bike.
Chegando lá, minha primeira impressão foi péssima.
Primeiro, apesar da dificuldade para tirar as malas-bikes do carro e entrar na loja, nenhum funcionário veio, sequer, segurar a porta.
Em segundo, a loja me lembrava em tudo a Fast Runner...
Chiiiiiii.....
Para piorar, o dono queria nos entregar as bikes na sexta-feira pela manhã (estávamos quarta), mesmo que insistíssemos que teríamos um treino para o dia seguinte e precisávamos delas. E os acessórios que a Deise tinha encomendado não era os que ela queria.
Eu sei, você sabe e todo mundo sabe que montar uma bike para qualquer mecânico é coisa de 20 minutos. O dono, ainda assim, foi irredutível.
Sem opção, deixamos a bike lá. E decidimos dar um rolê pela cidade.
Ai fomos para a Swinbikerun, que era pertinho.

Ao olhar a loja por fora, sei lá o porquê, já gostei.
Entramos e fomos atendidos pelo proprietário, que contava com dois mecânicos e nos promoteu as bikes montadas ainda para aquela tarde.
Fosse eu, talvez não tivesse coragem de voltar na Bike Tech para resgatar as bicicletas – mas a Deise...bem, vocês sabem como mulher é safa para essas coisas.
Voltamos, pegamos as bikes e, olhem que interessante – quando retornamos a SwinBikeRun, logo ao abrirmos a porta do carro, dois mecânicos da loja saíram, sem serem chamados por nós, para levar os mala-bikes para a oficina.
A loja voltada especificamente para o triathlon, tem uma organização que nunca vi no Brasil – ao invés daqueles ambiente das “lojas conceitos” com tudo bem distribuído, muito espaço e prateleiras que valorizam cada produto individualmente, como se o produto fosse uma “estrela”, a loja é relativamente compacta e lembra muito aqueles ambientes de “garagem”.
É o típico ambiente para quem gosta de fuçar.
O atendimento é realizado pelo dono e alguns funcionários que tem perfil bem diferente daqueles vendedores na maioria das lojas aqui no Brasil, que fazem treinamento para ficar repetindo frases feitas sobre tênis, quadros, selins, óculos para te empurrar coisas que você não precisa.
Não tem ninguém para te explicar o que é pisada pronada, supinada ou neutra, mas se você precisa de um produto que não vê na loja, o dono pode arrumar.





Fomos a outra loja, a Mack Cycle, que é mais especializada em ciclismo com vários produtos para triathlon. Os mecânicos falam português e revendem produtos Specialized.
O que nos deixou meio embasbacados foi encontrar, logo na entrada da loja, várias cestos abarrotados de roupas, tal como se você estivesse no Brás. A diferença é que os cestos estavam com tops e macaquinhos da....ZOOT!!!

E original, viu?
O atendimento foi bacana e recomendo uma passagem pela loja também.
Antes da prova, fizemos um treino na quinta-feira pela manhã para verificar se as bikes estavam ajustadas. E fomos para a Ciclovia que fica Key Biscayne.
A ciclovia é segregada na auto-estrada apenas por uma marcação a tinta no chão. Os carros não trafegam em alta velocidade.
O contraste com São Paulo é evidente. Em uma cidade onde até garis são mortos no meio do trabalho por motoristas bêbados e endinheirados, incentivar as pessoas para usar a bike na rua é uma coisa que não entra na minha cabeça.
Mas, voltando ao pedal, você vai pela auto-estrada e desemboca em no meio de um condomínio e, nesse, em trilhas com asfalto em ótimo estado – onde se pode correr, pedalar ou ficar olhando para os pássaros com cara de abobado, como eu na foto ai do lado.
Recomendo um treino por lá para todo mundo que for fazer a prova no próximo ano. Achei seguro e o caminho tem uma bela paisagem.
Bom, a essa altura já estávamos craques em andar pela cidade (ou pelo menos a Deise estava).




A organização urbana da cidade é relativamente simples: há apenas um distrito comercial e financeiro (Downton Miami, onde, aliás, ficava meu hotel) e vários pólos comerciais com shoppings a céu aberto localizados ao longo das grandes avenidas. As auto-pistas são perfeitas, super bem sinalizadas e interligam os bairros nas áreas Norte, Sul, Leste e Oeste da cidade.
A cidade é multicultural dado o trânsito constante de latinos, mas bem segregada: pode-se passar uma semana lá e não ver a casa dos trabalhadores com as quais se interage nas nos pontos turísticos.
Um dos pontos mais interessantes que visitamos foi o Wynwood Art District, um local ao lado de Downton que abriga galerias de arte, empresas de criação e publicidade ao lado de pequenas fábricas de produção de artigos de couro (bolsas e sapatos).
Mas o que chama mesmo a atenção em Wynwood é o grafismo em grandes murais, tal como se vê nas fotos que estão (muito mal) distrubuidos pelo texto.




A Prova
Antes da competição, muito se comentava sobre a possibilidade do Furacão atingir a cidade justamente no dia da prova. Havia, sim, a possibilidade de cancelamento.
Depois vieram alertas sobre tornados...
E uma profunda questão me veio a mente: o que é que se faz quando se anuncia que um tornado vai passar na sua porta?
Quando eu era criança e tinha chuva forte, como muito relâmpago, minha mãe pegava a gente é óh, corria pro banheiro.
Coisa de gente que morou no interior...
Mas um tornado?
O que faria se da varanda você visse um tornado vindo na direção do seu prédio?
Juro que ficar no banheiro passou pela minha cabeça.
Só que eu não ia pagar esse mico. Muito menos perguntar para o pessoal da recepção sobre o assunto...
Mas pelo sim, pelo não, só para garantir, dormi com a cortina fechada...:-))))
O que rolou mesmo foi uma chuva intermitente que começou no dia anterior da prova e se estendeu durante toda a madrugada e começo da manhã.
Cheguei na área de transição as 5:30, sendo minha largada as 7:44. Arrumei minha coisas, tentando deixar tudo na melhor posição possível e fui procurar a Deise para ver se estava tudo bem com ela, que tinha chegado mais cedo.
A largada seria por faixa etária, com intervalo de cinco minutos entre elas. Acho que esse sistema apresentou bem mais vantagens que desvantagens.
Quando a Deise foi para a largada dela, que seria por volta das 7:14, me abrigaguei em um puxadinho absolutamente ensopado (claro, como todo mundo) para esperar a minha.
A sorte foi que não estava tããããão frio e, mesmo com as roupas molhadas, a temperatura era suportável.
Natação
Depois de tanto esperar, fui para a largada e me postei junto com o bloco de pessoas da minha faixa etária, que ia lentamente caminhando para o píer – ao melhor estilo a “Marcha dos Pinguins” (ou a passagem que a gente faz entre as linhas verde e amarela no metro no final da tarde aqui em São Paulo, tanto faz).
Quando olhei para o mar, achei que ainda estava escuro e não conseguiria ver as bóias. Isso me deixou um pouco preocupado.
O Rodrigo já tinha dado um toque para a necessidade de se prestar sobre o momento de entrar no mar, assim como a Deise e o Ronaldo Pacca, pois você deve pular de um píer...e tem uma fila de gente atrás de você.
Gente “nervosa”, se é que vocês me entendem....
O Rodrigo contou que ano passado ele mal estava emergindo do mergulho e um cara veio de cima para baixo com um míssil que por pouco não acertou a cabeça dele.
Bom, na minha vezm, pulei.
Na hora que subi e cheguei a superfície, pensei “ufá”.
Mas ai um daqueles americanos típicos, bem crescidos e alimentados, com 1,90 e uns 120 quilos, pulou na água na minha na minha frente, tal como fazem aqueles meninos malas que se atiram na piscina do clube agarrando os joelhos para molhar todo mundo que está tomando sol.
Ai olhei para o píer e gritei algo como “Wait ai, stop, stop ai hein”.
“Wait ai, stop, stop ai hein”????????
"Stop ai, hêêêin"??????
Bem, a largada dentro da água lembra muito o do TB na USP. E eu, que sou covarde demais e tenho dificuldade de realizar um dos principais fundamentos da natação no triathlon, que é nadar forte logo de saída, fui atropelado por quem larga lá trás – que normalmente é aquele sujeito que fica dizendo “vou na boa” durante meia hora antes da largada para Deus e o mundo, mas quando é dada a largada, sai como doido....
A primeira coisa que me surpreendeu muito positivamente foi que tínhamos muitas bóias intermediárias demarcando o trajeto. Ao ultrapassar uma, você facilmente localiza a seguinte, o que facilita demais a orientação no mar.
E comecei a nadar realmente forte, me sentido bem e sem hiperventilar.
Mas ai a gente começa a encontrar os retardatários das outras faixas etárias. As vezes, bolsões de nadadores muito mais lentos. Como sou ruim de ultrapassagem, fico atravancado atrás de um bolo de gente e me atraso.
Comecei a perder tempo, mas meu pior erro foi mais a frente.
Lembro que o Wagner deu um toque para evitar a corrente do canal que despeja água no mar no sentido contrário a bóia que devíamos alcançar – ao contornar a penúltima delas, o truque era mirar no Hotel Continental e nadar em direção a ele.
Mirei e fui.
Fui em direção a uma bóia amarela, mesmo sabendo que as que deviam ser contornadas eram as vermelhas. Ao chegar nela fui contornar e, ao olhar para frente....“êita, cadê todo mundo?”.
Putz, fui muito para a direita. Olhei e viu centenas de nadadores indo para a outra bóia, essa sim vermelha, mais ao fundo.
Percebi que meu erro tinha me custado uma “barriga” daquelas.
Quando finalmente cheguei na bóia e contornei, era “só” nadar reto.
Teóricamente "nadar reto".
Sei lá se sou eu, sei lá se são os outros, não consegui nadar sem sofrer o esbarrão de trocentas pessoas que nadavam em zigue-zague (ou eu nado assim e preciso de um GPS urgente!).
Tomando pancada dali e daqui, fechei a natação sem ter percebido o prejuízo, que foi grande: 41 minutos, 100 colocação na faixa etária e 977 no total.
Apesar dos tempos na água estarem todos altos, foi mal...
Bike
O Rodrigo fica sempre me chamando a atenção que preciso melhorar minhas transições. Acho que ele não liga que eu faça um 70.3 em nove horas, mas se demorar quatro minutos para me arrumar ele quer morrer...:-))))
No 70.3 de Miami não tem sacolinhas e dá para fazer uma transição tal como no Internacional de Santos ou o Long Distance Caiobá.
A minha foi de 4:13, mas espera que eu tenho uma desculpa: a gente tem que correr muito entre a saída da água e as bikes. Demora mesmo.
Sai para pedalar e o chão molhado. Só olhar a Deise saindo para o pedal... ai embaixo. Sai pouco depois dela...

No trecho urbano, várias poças de água e muitos ciclistas de outras faixas etárias em ritmo mais lento em um trajeto perigoso, demarcado por cones e em que só trafegam duas bikes.
O primeiro objetivo era não cair. Fui bastante conservador e pensei naquele momento que a prova não era para PB, mas para tentar “competir”, isto é, avaliar o desempenho em relação a colocação na faixa etária.
E, antes de entrar na estrada, uma coisa que me deixou um pra lá de chateado, conforme comentei no fórum do Ironbrothers. Ao me aproximar dos trilhos, havia um ciclista caído e alguns outros em volta observando a gravidade do tombo.
Diminui, mas não perdi o foco. Mas uma menina, na minha frente, foi olhar, se distraiu e, ao passar pelos trilhos molhados, perdeu o equilíbrio e caiu. Achei que caiu feio...
Qualquer ser humano do planeta faz o quê? Para.
É intuitivo...
Mas não parei. Não importa que houvesse uma ambulância já a poucos metros do local...não dá para dar essa desculpa.
Porque, sinceramente, se não houvesse a ambulância, eu também não teria parado.
Depois isso me fez ficar pensando que a gente empresta capacete, dá dicas em Blog, fala sobre lojas, inscrições em provas...enfim, “a gente é legal”.
Mas na hora que a coisa fica feia, é difícil ser solidário com as pessoas nas coisas realmente importantes.
E isso troca do quê? De alguns minutos que não vão fazer diferença nenhuma em nada. Nada mesmo.
Bem, acabou o clima para continuar falando da prova, não é? Essa coisas são uma merda.
Mas vamos lá...
Depois do trecho urbano, todos entramos em uma estrada. Ali o piso era mais abrasivo e nem parecia que tinha chovido.
Bem mais seguro para pedalar!
Só que quando fui olhar o cateye, ele estava apagado. Tentei ligar. Nada.
Engraçado, mas em um almoço que o Rodrigo organizou para o pessoal que estava lá com a gente, comentávamos justamente como as pessoas se condicionam muito com medidores de potencia, monitores cardiacos, gps e toda uma parafernália de gadgtes a ponto de perderem suas referencias mais subjetivas em relação a sua percepção de esforço.
Quando algo dá errado com esses brinquedinhos, é como se tivessem apagado luz.
Well, isso não me estressa. Eu levo comigo um relógio com cronometro de 50 pilas para marcar o tempo em que tenho que me alimentar e fiquei na boa.
Liguei o reloginho e ficou por isso mesmo.
Entrei na estrada me sentido bem, mas muuuitoooo bem.
Coloquei uma relação pesada, no Big Gear, e fui subindo como se estivesse em Time Trial.
Vento, sim. Frontal, um pouco. Mas principalmente lateral.
Como sou relativamente pesado, o vento lateral puxava a bike, mas em nenhum momento temi perder o controle.
Fui passando filas enormes de ciclistas e, detalhe, SEM PELOTÕES!!!!!!
Ai, lá pelas tantas, percebo pela minha sombra no asfalto um...um...um o quê, hein?
Acho que era fita que prendia o meu número tinha se soltado e se transformou em uma rabiola....
Fiquei com medo de levantar e a fita ir embora levando junto o meu número junto.
Mas passei por um ciclista ele falou algo como “cadarço”.
Cadarço? Entedi direito?
Bom, deixei para lá e fui tocando...
Só que quando fui pegar a caramanhola....espera aiiiiiii!
Eu estava com a bermuda da 2XU, não estava?
Sim.
Preta?
Sim.
Toda preta?
Sim.
Mas então que raios eram aqueles frisos verdes?
Clipei de novo...
Frisos verdes...frisos verdes...onde é que eu vi isso mesmo???
De repente, desclipei....
Olhei para a bermuda, olhei para frente, olhei para bermuda, olhei para frente...
Ai deu um estalo...
E não é que eu tinha esquecido de tirar o speedsuit e estava pedalando os 90 km com ele vestido até a cintura!!!!!
Tudo bem que acontece nas melhores famílias, mas no décimo 70.3 esquecer de tirar o speedsuit é %$$#@$#$#.
Tirando o ridiculo da coisa toda, procurei não pensar no assunto. Só que aquele "rabinho"do cadarço para lá e cá enchia o saco...
Será que muita gente notou?
Se forem menos de 500 pessoas, eu me conformo...;-)
Ao chegar na transição para a corrida tive a percepção do melhor pedal que já fiz.
Mas foi “quase”. Depois da prova, fiquei um pouco decepcionado com o resultado: 90 k em 2:35:48, um tantinho mais lento que Penha.
Ponderando depois, vi que fiz um pedal muito defensivo no inicio e não fui capaz de ser rápido no trecho urbano no retorno volta.
Esse fator indicava que resultado do pedal foi muito bom – porque no 70.3 de Penha é só estrada, sem necessidade de desacelerar, e fiz um tempo parecido.
Em termos de colocação na prova, consegui avançar para a 62 colocação na faixa etária e para na 465 no geral.
Fiz uma transição de 2:57...
Tá, tá, tá...eu não esqueci de tirar o raio speedsuit para correr. Ha-Ha-Ha...tô morrendo de rir...:-((((
A Corrida
Sai para correr tomando cuidado com o piso em certos trechos, porque o newton escorrega fácil em piso de cerâmica.

E senti algo que raramente percebo quando nessa situação: a musculatura das pernas meio travada, principalmente a da coxa.
Depois as coisas foram entrando nos conformes e até que estavam indo bem – não fosse o vento.
Acho que todo mundo já ouviu reclamação de triatleta e ciclista sobre vento no pedal.
Mas na corrida?
Pois é, na corrida.
O percurso era relativamente plano, não fosse a passagem por um viaduto onde o vento era tão forte que eu mal conseguia correr com a cabeça erguida sem que ele arremessasse minha viseira longe.
E, em algum momento daquele sistema de marcação em milhas, quebrei. Nem sei onde, mas quebrei....
E tinha que subir e descer aquele viaduto do cão mais duas vez.
Cruzei com o Luquinhas, Mariana Borges (vaaaamúúúúú Vagnêêêêêrrrrrr rsrsrs), Wagner e o Caio – que me escreveu posteriormente dizendo não falava muito comigo porque eu “estava muito concentrado”.
Depois comentei com ele que de concentrado aquilo não tinha nada - estava jogado no brejo das almas, isso sim...
Sinceramente, se pintasse o sol que o pessoal comentou ano passado durante a prova, acho que eu não terminaria.
Comecei a ter como metas andar apenas nos postos de hidratação. Não era uma questão de alimentação – não adiantava comer mais.
Olhei para o relógio e vi 1:40 e chutei que ia terminar em 2:05. E, olha, isso sendo otimista.
Só que, sem mais nem menos, lá estava eu na reta final para fechar a maratona em 1:48, bem antes do que tinha pensado.
Isso é uma coisa que a gente treina muito no Ironguides – antes de ficar com bobagens mentais, repetindo mantras que servem para boi dormir, a gente deve trabalhar para conseguir nadarpedalarecorrer muito degastado e, ainda assim, alcançar uma velocidade decente.
Isso é treino, não é força de vontade.
Não quero ofender ninguém, mas eu me sinto um estúpido só de pensar em ficar repetindo coisas tipo "Be Strong", "Nunca desista" e "O dor é passageira, o orgulho da vitória é para sempre"....
A não ser que se considere que palavras ou frases do tipo "&%#@%$#$@#" sejam mantras...

Ai vou mudar de opinião e dizer que uso bastante...:-)
Fechei a prova em 5:12:29, chegando a 44a posição na categoria e 398 entre todos que fizeram o 70.3 de Miami.
Ai acabou? Pra mim nunca acaba tão logo passo o pórtico...
E vou dizer algo aqui que vocês podem achar o cúmulo do elitismo, mas eu tenho coragem de falar (já que falei do speedsuit, né? Pior não vai ficar....)
Deus do céu, quando termino uma prova, como queria ter um Staff só para mim!!!
Não, dois Staffs!!!!
Um para ir pegar as minhas coisas na transição e outro, para me levar para o Hospital!!!
Porque, pô, depois de cinco horas de prova ainda tenho que juntar toda aquela roupa molhada, sapatilha e tênis com barro e carregar a bike para o hotel?
Mêêêêêuuuu, sou um ser humano! Eu preciso de um Staff como qualquer outro ser humano desse planeta!!!!! ;-)))))))
E dentro do Staff em provas nos EUA poderia haver alguém para cozinhar, porque apesar de bem organizada, não entendi como aquele povo consegue oferecer arroz com alecrim, carne e linguiça de porco na área de dispersão. Só faltou bacon, ovo e batata frita!
E tem gente que come!!!
Depois da Deise comentou com aquela comida toda era também para os parentes e amigos que acompanhavam a prova.
Mas que tinha gente que fez a prova e estava traçando um pratinho com arros, feijão e linguiça, tinha!!!
Tinha que eu vi! :-)
Bom, para finalizar nem tenho o que falar das pessoas que estavam lá com comigo. A Deise planejou a viagem e todos os lugares legais que fomos visitar sem reclamar, por um segundo que fosse, do fato de que só ela estava dirigindo. As fotos aqui no Blog também saíram da máquina dela.
Encontrar o Rodrigo Tosta sempre é bacana porque e a gente pouco se vê durante o ano e nem sei como agradecer a ele, que me torna capaz de fazer coisas que nem eu mesmo acredito....até fazer.
E dois caras sensacionais com quem convivemos lá por poucos dias, mas que com dois minutos de conversa parecem conhecidos com quem a gente tem anos e anos de amizade: o Wagner Araújo e o Cristiano Santos.
Bááááááhhhhhh, como se faz Bike Fit no sul mesmo Cristiano? ;-)))))