sábado, 31 de dezembro de 2011
2012 - Into the Night
domingo, 11 de dezembro de 2011
Poema em Linha Reta
Ouvi esse poema pela primeira vez quando foi declamado pelo meu professor de língua e literatura portuguêsa no cursinho do Universitário.
Serve para diferentes leituras, diferentes perspectivas...Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
sábado, 3 de dezembro de 2011
O Pulo do Gato
Neste Blog, tenho o hábito de não responder aos comentários apenas por convenção.
Ela vem da época que eu perdia meu tempo escrevendo para jornais. Sempre ficava puto quando no painel do leitor a tal “resposta da redação” tinha mais espaço que as cartas dos assinantes do jornal.
Da mesma forma que um jornal, entendo que o autor do Blog tem um grande espaço e todas as ferramentas para opinar, enquanto a área de comentários é relativamente reduzida, além de ser de leitura opcional e de pouca visibilidade.
A exposição dos argumentos acaba ficando desigual, sempre a favor do Blogueiro.
Esse não é um modelo mais bacana – na verdade, até gosto mais do Blogs do Xampa, Wlad, Max ou Ana Oliva e tantos outros, na qual há uma interação simpatica entre o autor dos textos e os leitores, com troca de experiências dos dois lados.
Já eu, por outro lado, fico preso as minhas manias.
Quando tenho algo pendente, se tiver o email, escrevo para a pessoa.
E foi o que ocorreu no caso do Max.
Acho que não interessaria para as pessoas explicitar o conteúdo dessa conversa nos termos em que ela foi feita – porque uma parte desses emails são assim: “eu não falei isso, não falei aquilo”, “mas eu não disse que você falou”, “só que ficou parecendo que você falou”.
O que interessa é a parte que eu falei mesmo e ele também….:-))))
A principio, a fim das pessoas terem mais informação sobre o assunto, combinamos que eu publicaria o texto do Max, que está na área de comentário, nesse espaço e uma tréplica minha e quantas "réplicas" fossem necessárias.
Nesse meio tempo, o Max fez um texto, que achei mais estruturado e mais claro que o depoimento que ele deixou aqui no Blog.
Além das próprias idéias do autor, recomendo a leitura do texto em função do debate que seguiu no espaço dos leitores. Lá estão depoimentos e informações valiosas que complementam a linha de pensamento dele.
Clique aqui para ver o texto.
No caso da nossa discussão, achei bastante oportuna a discordância. Ele me tratou com deferência e gostaria de retribuir no mesmo sentido.
Embora as pessoas possam ler as próximas linhas como um texto onde as diferenças se acirram ainda mais, na prática meu movimento tem se dado no sentido inverso.
Então por quê prosseguir com a discussão?
Porque aprofundar a troca de idéias, expor dúvidas e problematizar argumentos é minha forma de expressar respeito a uma pessoa que me deu a oportunidade de um debate que, seguramente, me tirou da minha zona de conforto.
Bons combatentes querem adversários a altura.
Não sei se estou nesse nível, mas vou tentar pelo menos sair das cordas....
Então vamos a mais um round....;-))))
Acho que nenhum de nós dois discordou sobre o seguinte: informação sem contexto, sem interpretação torna qualquer equipamento que gera estatísticas um brinquedo caro.
A discussão não se resume, portanto, não é o "uso", mas o "uso eficiente" de qualquer equipamento que chamo de "máquinas de calculo", que vão de monitores cardíacos a potenciômetros.
Embora tenham funções e propriedades distintas, para a minha linha de raciocínio, isso é irrelevante.
Mas deixa eu azedar a conversa um tantinho.
Em primeiro lugar, a comparação entre potenciômetro ou monitores cardíacos, com rodas Zipp ou aerobar, tênis ou óculos, é uma discussão que não cabe.
São coisas que não estão no mesmo nível.
O "custo" (monetário ou não) de umáquina de calculo do quilate de um potenciômetro não se reduz ao que você paga "na boca do caixa", mas também o que você precisa fazer (e conhecer) para usar de forma eficiente as informações que esses aparelho produz.
A questão dos medidores de potência é infinitamente mais complexa, pois exige que você agregue ao seu uso competência para a interpretação dos dados - se você (ou o seu técnico) não faz isso, esse equipamento vale menos que o discutível guidão de carbono - esse você põe na bike e o benefício (na hipótese de existir um) é imediato.
Embora exista, sim, uma diferença importante entre esses equipamentos, no sentido de que com alguns deles você "compra" performance e, com outros, você se torna mais consistente, isso é verdadeiro apenas se você saber usá-los corretamente.
Se não for assim, ao adquirir um MP você pode ter comprado caixa de pandora.
Nesse sentido, e discordando do Max, considero o medidor de potência complexo demais como a primeira compra depois da bike.
Não que ele não tenha razão sobre a pobreza de perspectiva de um sujeito gasta uma fortuna comprando recursos ergonômicos, como capacete aero, pedais mais leves ou rodas de carbono quando poderia estar preocupado com a consistência da sua condição física e atlética.
A minha preocupação é que o pleno aproveitamento desses recursos envolve conhecimentos específicos, sobretudo sobre campos relativamente complexos para leigos, como fisiologia, nutrição, mecânica, fisica e metodologias de treinamento.
Bem mais útil, na minha opinião, seria um rolo ou, antes disso, uma boa assessoria ou, antes disso uma academia onde se pudesse praticar exercícios funcionais ou, antes disso, acesso a uma fisioterapeuta ou, antes disso, um nutricionista ou, antes disso.....
Enfim, se o foco é o indivíduo, há várias coisas que podem ser feitas depois que se compra uma bike e antes que se adquira um potenciômetro.
Mas, convenhamos, pode-se argumentar que isso não precisa ser assim. Não sendo o comprador da bicicleta ou atleta um autodidata, sempre há a possibilidade de se delegar essa tarefa de análise ao coach.
Então um ponto importante é o seguinte: quantos profissionais podem lidar com esses equipamentos no Brasil?
No seu Blog, o Max indicou quatro. Ainda é pouco.
Na minha opinião, a disseminação dos medidores de potência só será efetivamente útil se for acompanhado por um programa de capacitação de técnicos e atletas, tanto com o equipamento, quanto com os softwares que permitem a organização das informações para o planejamento dos treinos.
E esse é um gargalo considerável, embora de jeito nenhum uma barreira impossível de ser vencida.
Mas que tal esperarmos mais profissionais com conhecimento sobre o assunto para comprarmos esse equipamento?
E, agora, vou me arriscar e colocar outro ponto: eu acho que a gente está com o foco errado.
Como questionar a pertinência ou não desses equipamentos sem discussão prévia sobre metodologia de treinamento?
Imagine uma cena insólita: voltamos ao tempo, no ano de 1948, oferecemos nosso mais poderoso Garmin do século XXI a um corredor romântico chamado Emil Zatopec, que estava ali naquelas paradas da Europa Oriental fazendo seus treinos intervalados pela manhã e a tarde.Ele certamente ficaria curioso. Iria examinar o aparelho. Explicaríamos a ele os recursos do monitor e todas correlações estatísticas entre VO2, lacto, recrutamento de fibras e por ai vai.
Tudo isso, claro, pressupondo que ele fizesse treinos baseados em freqüência cardíaca.
O "detalhe" é que essa metodologia ainda não tinha sido inventada e esquecemos de trazer um treinador do século XXI para poder utilizá-la.
Houston, we have a problem...
Certamente, aquele corredor ficaria com o relógio, até acabar a bateria - depois ele voltaria ao seu velho e eficiente relógio de ponteiro.
O que quero dizer com isso é que a questão não são "monitores cardíacos".
Eles são ótimos!
A questão central é o que temos a dizer sobre treinos baseados em zonas de freqüência cardíaca.
Trocar o debate sobre métodos de treinamento pela utilidade ou não de máquinas de calculo significa transformar esses aparelhos em "fetiches" - defensores e detratores projetam nesses objeto como quê poderes mágicos, negativos ou positivos, que podem nos salvar ou nos levar a pro buraco.
No meu entender, a chave que abre todas as portas não são gadgets, mas a filosofia de treinamento.
Quanto a gente não tem clareza sobre isso, fazemos um sururu por nada...
Isso fica explicito quando aqueles que defendem os medidores de potência (ou monitores cardíacos) não conseguem aceitar que os indivíduos tenham outro tipo de conhecimento ou feedback sobre seus treinos que não seja em Watts.
É comum a frase "Ahhh, sujeito treina no escuro", que expressa uma tal falta de bom senso que dispensa discussões.
E, muito sinceramente, para não dizer que sou (totalmente) parcial, tão ruim quanto esse raciocínio, é o seu oposto, que afirma que aqueles que usam instrumentos de medição abdicam totalmente do seu autoconhecimento.
Esse debate é estéril.
O pano de fundo de tudo que se discute sobre gadgets é outro.
Pelo menos até onde consigo enxergar as coisas, existe uma bifurcação de filosofias de pensamento que se colocam em lados opostos pessoas favoráveis e não favoráveis ao uso desse tipo de tecnologia.
Há uma escola, captaneada pelo Brett Sutton e atletas como Chrissie Wellighton, Chris MacComack e toda uma linha de pensamento que daria oriem a metodologia do Ironguides por meio do trabalho do Marc Becker. Essa vertente tem por base a percepção de esforço.
Nessa perspectiva, a sensibilidade sensorial é uma capacidade que deve valorizada. É a nossa sensibilidade que mantém nosso contato com a realidade.
Tudo bem que alguns ironizam e dizem que nessa corrente o Brett é um pouco peculiar - os indivíduos tem seu próprio nível de percepção de esforço, mas se ele não concorda ela, a última palavra é dele. :-)Bom, nesse linha, atletas que tem sua sensibilidade aguçada são mais confiantes, improvisam e são capazes de assumir mais riscos que aqueles que correm em ritmo pré-definido.
Para o Macca, por exemplo, se ele "sente" que pode partir para uma fuga, ele não olha para o relógio - ele simplesmente "sabe" que pode.
Isso coloca em questão o raciocínio do Max, que cria uma disjuntiva questionável entre uma perspectiva competitiva baseada no uso de potenciômetros e outra, não competitiva, baseada no uso dos sentidos.
A segunda escola, mais quantitativa, é utilizada por técnicos com Hunter Allen e atletas do naipe de um Jordan Rapp e Andy Potts.
E, muito interessante, enquanto o primeiro time é mais radical e homogêneo, o segundo tem uma abordagem mais variada e flexível (e mais rica, na minha opinião).
De forma geral, advogam que o desenvolvimento das habilidades relativas a percepção de esforço levam tempo, quando não anos, e os gadgets podem dar um feedback mais rápido do que realmente aconteceu, permitindo avaliar como o treinamento está progredindo e quais os ajustes necessários para o atleta tentar ultrapassar suas metas ao longo de uma temporada.
Mas há opiniões diferentes também de como usar os MP entre seus defensores.
John Cobb afirma que os números produzidos pelos medidores de potência deveriam ser lidos apenas pelos coachs, enquanto os atletas deveriam se ater as provas ou, mais especificamente, aos aspectos táticos da competição sem esses equipamentos.
Já Rapp vê no potenciômetro uma vantagem competitiva se usado tanto em treinos quanto em provas.
O balanço disso?
No meu modo de ver, o "pulo do gato" seria a superação dessa dualidade entre Sensibilidade x Gadgets, entre o Mundo Vivido x Mundo dos Sistemas.
Como diz o Vance Store, um defensor dos gadgets, "Ferramentas que fornecem dados sobre sessões de treinamento são o feedback mais puro que existe, e quando usadas em conjunto com o feedback do atleta, torna-se ainda mais poderoso".
Agora, gostaria de dar um depoimento honesto sobre essa discussão toda.
Porque eu não queria esse Blog fosse lugar para uma análise fria de correntes teóricas, tal como um artigo acadêmico.
Eu assumo minha parcialidade como uma posição pessoal.
Ela existe, sim. É fato.
E toda a parcialidade nos impõe "pontos cegos".
Os meus costumam ter a dimensão de um buraco negro... ;-)))
Quando questionei o uso desse equipamento com o Felipe Amante, começamos uma discussão muito didática (pra mim) sobre o assunto.Discussão que, na ponta do lapis, ele mostrou ter mais razão que eu, diga-se.
No final, como já escrevi em algum lugar, joguei a toalha e aleguei a ele que a minha resistência no fundo tem razões pessoais, já que meu trabalho é com estatísticas.
Eu sei exatamente o significado de "trabalhar com dados".
Ao envolver "dados" no esporte significa tratá-lo como objeto de análise.
Significa transformá-lo em um prolongamento do meu oficio.
Eu não sei se quero "treinar melhor" e de "forma mais eficiente" se o custo de fazer isso for esse.
Mas tenho certeza que quero nadarpedalarecorrer.
Se o triathlon fosse apenas medido em watts, muito pouco restaria pra mim.
No meu caso, mesmo "competir" é também uma coisa lúdica.
Minha sanidade e meu prazer com o esporte depende de um lugar em que posso fazer algo que não seja medido por "taxas", "indices", "indicadores", "bits" ou "watts".
Isso faz parte do rol de questões para explicar o meu "romantismo".
Em um sociedade em que tudo somente é valorizado enquanto é medido e se chega ao cúmulo de almejar um "PIB da Felicidade", tal atitude envolve uma certa negação de valores dominantes.
Assim como fazem aqueles que, em uma sociedade mercantil e utilitarista ao extremo, se dizem mais preocupados com o "Ser" do que com o "Ter".
No fundo, nós todos somos românticos ;-)))))
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
O Último Romântico?
Nessas últimas semanas, dentro de um pequeno circulo de amigos que trocam e-mails sobre triathlon ou provas de Ironman, veio à tona uma tema que vem ganhando espaço considerável nas rodinhas “triatléticas” – o uso de potenciômetros.
Mas não se tratava de uma discussão sobre o melhor equipamento ou o mais preciso. A questão de fundo foi colocada pelo Eduardo Carvalho a partir da provocação do Felipe Amante sobre feedback de performance.
“Vejo que os equipamentos como Garmin com GPS e agora os medidores de potência podem dar uma real avaliação se a performance individual mudou ou não, coisa que até hoje não consegui de nenhum método de treinamento ou assessoria que freqüentei. (Pois) só na prova projetando o tempo final é f%$#@#, porque muita coisa pode acontecer quando você junta tudo, mais a condições climáticas. Por mais que seja a mesma prova no mesmo lugar, nunca uma prova é igual à outra”
Obviamente, essa discussão deu uma rachada no grupo. Minha “verve” Ironguides veio a tona e argumentei que a assessoria não tinha método quantitativo para a aferição de desempenho, mas que eu “vinha melhorando” pelos resultados que experimentei entre 2010 e 2011 e que isso seria suficiente pra mim.
Num átimo, tomei um petardo na testa!
“O que te leva a dizer que “anda melhorando”? Feeling? Tempo de prova? Como o Edú lembrou, ainda que a prova seja feita no mesmo lugar, sempre há condições diferentes, como correntes marítimas, vendo, calor, etc. Você conseguiu seu melhor tempo de Caiobá e do IM Brasil nesse ano. E daqui pra frente? O que te dirá que você “melhorou”? Pegue, por exemplo, o pedal com vento do 70.3 de Miami. E se você andou abaixo da sua capacidade? O que pode te dizer isso?”
Esse “feeling?”, citado como foi, para uma mente cartesiana como a minha, dói como um direto no estômago.
“Salvo engano, você mesmo disse no seu Blog, em uma época de treinos desgastantes de Iron, que a mente pode pregar peças. Ou seja, a percepção de esforço pode falhar. Há dias em que a mente quer, mas o corpo não vai. E vice-versa. A verdade é: como o medidor de potência isso continuará a acontecer. Só que você saberá se o corpo realmente não está respondendo ou se a sua percepção está falhando.”
Eu me vi como um lutador de telequete no meio de um campeonato de UFC .
Porque, bom, eu tinha dito isso mesmo. E agora não dava para dizer “não era bem assim..."
Tá vendo porque escrever Blog é uma merda? (rs)
Parecia que meu ego estatístico tinha desencarnado e virado um triatleta de carne e osso com vida própria e estava me esmurrando ;-)))
De fato eu mesmo não tenho respostas para questões muito simples apenas por meio da minha percepção.
Exemplo? Quando passei a usar o capacete aero, tive a sensação de que esse recurso realmente me ajudou a pedalar mais rápido.
Mas o quanto desse ganho pode ser atribuído ao capacete e o quanto ao fato de que fiz alguns treinos específicos no rolo?
Não sei.
Ou seria um acaso, pois que eu já vinha perdendo peso e meus treinos começaram a fazer efeito justamente quando comecei a usar esse novo "casco"?
Pode ser. Mas também não sei.
Enfim, se alguém me perguntar se é recomendável um capacete, digo que sim.
Só que reconheço que é um "sim" muuuuuitoooooo meia-boca.
Ah, eu falo logo!
Bem, não vou dar detalhes dessa discussão que se prolongou por dias e me deixou estirado na lona depois de um massacre de (ótimos) argumentos e uma aula sobre potenciômetros digitais.
Mas é uma boa oportunidade para escrever sobre algo mais abrangente, isto é, sobre o bullying ....ops...digo, sobre o potenciômetro e todos os equipamentos de medição que tem preenchido a vida da gente.
Apesar de trabalhar com estatísticas, vou dizer algo da qual certamente posso me arrepender facinho facinho daqui a dois dias: o nosso problema começa quando a gente acredita piamente que números representam o caminho mais fácil para o conhecimento de algo.
Para dar um exemplo, todo mundo sabe que a mortalidade infantil é alta no país, mas também é verdadeiro que ela vem caindo nas últimas décadas. E você saberia explicar o por quê?
Nós temos todos os dados possíveis e imagináveis para para entender isso, mas não podemos afirmar com certeza.
Você vai dizer que as condições de saúde melhoraram no Brasil? Ou serão os investimentos em saneamento básico e a melhoria das condições médico-sanitárias? Ou o determinante é a elevação da renda das famílias? Ou o aumento escolaridade da mãe? Ou seriam os programas assistenciais de atenção as mulheres.
Como tudo isso acontece ao mesmo tempo, uma boa explicação se torna um pesadelo para os estatísticos.
Números nos dão hipóteses.
E muitas vezes temos que dizer o seguinte: com tantas informações e dados, ainda assim, nós não sabemos muita coisa sobre questões que você ai julgaria "óbvias".
Voltando ao nosso assunto, o uso de potenciômetros faz parte de uma discussão mais ampla que incorpora ainda os monitores cardíacos, medidores de cadência, velocímetros e os equipamentos de GPS.
Mas a pergunta que se coloca pra mim é – esses equipamentos contribuem para o aumento do nosso conhecimento?
Não estamos confundindo dado, informação e conhecimento?
Espera, qual a diferença entre isso tudo, ou seja, o que estou chamando de dados, informação e conhecimento.
Vou dar uma simplificada.
Por “dados” entenda-se os números, tal como a velocidade registrada no seu velocímetro, por exemplo.
Quando esses dados são organizados ou manipulados em gráficos e tabelas, com outros dados ou não, adquirem um sentido e, com isso, transformam-se em “informação”. É o que você faz quando despeja os dados do seu relógio em um software que registra seu pace, cadência média, velocidade máxima e mínima, faixas de batimentos cardíaco, altimetria etc etc etc.
Já o conhecimento se distingue da informação quando adquire algum propósito ou utilidade.
Sabe aquele seu monitor cardíaco super bacana que a gente compra? Além do hardware e do software, você tem a disposição um conjunto de fórmulas que te dá informações que vão desde a queima de calorias até o VO2 máximo. O bichano diz até quando você não deve ir treinar.
Essas fórmulas foram baseadas em anos de estudos de especialistas para as quais você não pagou e, acredite, ao contrário do que as revistas “especializadas” de corrida dizem, tem um alto grau de confiabilidade para a grande maioria da população - mesmo a famosa “220 – menos a idade”.
O problema é interpretar esses dados.
O Felipe teve uma análise bastante feliz da complexidade de se transformar dados e informações em conhecimento.
“De nada adianta ver os números pipocando na tela: 180W, 220W, 150W. Isso não é nada sem os conceitos de análise. Com um pouco de leitura e um tempinho de treino, todo mundo consegue pegar o beabá de média de potencia, potencia normalizada, FTP, andar na Z2 ou na Z3, etc. O difícil, ao meu ver, é, em primeiro lugar, saber estimar corretamente o FTP. Há uma série de testes e fórmulas, mas, não é tão simples assim. Depois q isso for feito, as outras informações virão automaticamente com um bom programa de análise. A segunda dificuldade na parte de análise dos dados é saber o q fazer depois. Ou seja, o atleta já consegue entender bastante coisa dos gráficos, números, etc. Mas, a questão chave é: P/ treinar p/ uma prova X, o q devo fazer? Faço série no limiar? Faço longões? Tiros mais curtos? Misturo tudo? E, principalmente nessa parte, é q acho q precisamos de um bom técnico! Alguém q tenha um planejamento macro, periodização, etc. (nesse campo, já não estamos falando só de potencia...)”
Ou seja, trabalhar com potenciômentros nesse nível que ele fala envolve um trabalho adicional de interpretação dos dados que não é desprezível.
A não ser que você se dedique ao assunto, tal como ele faz, ou arrume um técnico craque para fazer isso pra você, poderá ficar anos acumulando dados e informações dos seus treinos e provas sem chegar a lugar nenhum.
De um ponto de vista mais geral, o que vejo por ai é que nós estamos adquirindo uma parafernália eletrônica muito sofisticada, apenas para colecionarmos dados, satisfazendo nossa curiosidade com gráficos bacanas que permitem o cruzamento de muitas informações.
Mas conhecimento que é bom, neca de pitibiriba.
É como aquele dono de loja que tem todo um sistema super-ultra-mega informatizado na empresa para controle de estoques, entrada e saída de mercadorias, gestão de fluxos, controle de caixa etc etc etc.
Ele deveria ver esse sistema como uma ferramenta para ajudá-lo a tomar decisões importantes, mas de tudo isso só usa mesmo o leitor ótico para evitar erros de digitação e agilizar as filas.
Eu mesmo já fiz isso. Todo santo dia, durante anos, colocava lá no software que veio junto com do S725X os dados dos meus treinos e das minhas provas.
A tela do computador ficava cheia de curvas e retas. Eu podia fragmentar todo percurso de bike ou de corrida para medir minha freqüência cardíaca, velocidade e cadência em um dado trecho.
Era legal no começo, mas depois ficou no automático. Meu computador virou um depósito de “informações legais”, mas sem utilidade.
E depois fiquei me perguntando que cáspita explicava porque tanta gente conseguia uma evolução significativa sem nada disso e eu, com aquele aparato todo, não.
Talvez porque nós estejamos com fome demais de números e fome de menos de conhecimento.
Me desfiz do monitor, apaguei o software e até hoje uso apenas um relógio de pulso com cronômetro.
A partir dai, tudo resulta de um longo e sofrido processo de aprendizagem, baseado na regularidade (por isso a importância dos treinos repetitivos) e "tentativas-e-erro" - a cada repetição eu observo os resultados e removo os erros até atingir o melhor possível.
Eu poderia ir por outro caminho, mais científico e sofisticado, trocando as noções "rudimentares" e "subjetivas" de "forte", "moderado"e "fraco" por medições de esforço e potência precisas?
Poderia.
Mas ai, parafraseando o Ciro, “entre ficar estudando números e correr, eu prefiro correr”.
Será que sou o último romântico?
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
70.3 de Miami
Bom, antes de tudo: o texto ai embaixo ficou enorme e difícil de ler.
Ai vou mudar de opinião e dizer que uso bastante...:-)