Semana passada, os treinos ainda foram consideráveis e no domingo fiz meu último longo de pedal. Foram 160 km no Riacho Grande em seis horas, um pouco tirando o pé.
Mas é assim: na metodologia do Ironguides, você vai até as duas últimas semanas treinando duro. Polimento tardio? Na verdade, antecipar o polimento quatro semanas antes da prova deriva de uma concepção observada entre treinadores de maratonas, na qual seus atletas eram fustigados por treinos intensos e comumente entravam em overtraining. Conseqüentemente, precisavam de períodos mais longos de descanso.
A semana foi super agradável e finalizei com 2 horas de rolo em casa no domingo. Apesar de ter que levantar cedo alguns dias, a redução do volume e da intensidade fizeram que me sentisse um ser humano com uma carga normal de treinos.
Não é exagero. Sinceramente, quem me conhece sabe que não consigo ver o Iron como algo foram do comum ou extraordinário, na qual você é reportado a outra dimensão quando cruza a linha de chegada. E digo o mesmo para quem se joga a vida acadêmica e acha que, ao defender o Doutorado, no dia seguinte acordará longe da mesma vida miserável de sempre.
Aliás, bem sei eu quantas teses que não merecem aprovação, tanto quanto sei que muitas das pessoas que passam por aquela linha de chegada o fazem sem merecimento. Muitas das histórias de "superação" são apenas relatos sem brilho de pessoas que revolveram encarar o desafio sem ter um estilo de vida para tanto. Terminar a prova andando os últimos 21 km, comendo em cada posto de hidratação e dando apenas uma corridinha nos metros finais antes do portal não tem valor algum - ganha-se apenas uma medalha, toalha e uma camisa de finisher.
A questão do Iron é mudança no estilo de vida que leva anos e a disciplina insana para se chegar praia de Jurerê no dia 30 de maio.
Porque isso não aparece. Ninguém está presente quando as coisas mais difíceis são feitas, no dia-a-dia dos treinos longos e pesados. Ainda que você faça alguns deles com o pessoal da assessoria ou com amigos, em 99% do tempo você estará sozinho.
Minhas lembranças mais difíceis são aquelas em que acordo no domingo as 4:00 da manhã com muito frio, levanto para fazer o café com a mente pedindo insistentemente para que eu volte pra cama e, mesmo assim, saio de casa para pedalar no Riacho Grande ainda na noite escura.
Se você quer fazer um Iron, a questão não é seu condicionamento físico. Isso é um terrível engano.
O que realmente importa é a disciplina para suportar a sobrecarga psicológica. Ou, para ser mais direto, se "você é durão".
Finalmente, acho que a pergunta que todo mundo tem para quem se submete a isso é: por quê (os mais utilitaristas dirão " para quê?")
A resposta mais brilhante, honesta e simples que já ouvi foi:
"Porque não há outra coisa para fazer" ;-)