Claro que essa mitologia faz parte da celebração de uma período de treino intenso, duro, mas alguns esteriótipos fazem com que a prova seja vista como um desafio quase sobre humano. Sinceramente, não é o caso.
A Viagem
Sai de São Paulo no dia 27, uma quarta-feira e segui rumo a Florianópolis sozinho. Foi, sem dúvida, a pior viagem que já fiz. Além da estrada ser muito sinuosa, peguei muita neblina e chuva no caminho na BR 101. Apesar de ser uma boa estrada, a medida que você se aproxima do litoral catarinense, as condições de dirigibilidade se tornam críticas, sobretudo para quem nunca andou ali. Demorei mais de oito horas para chegar na praia das Canasvieiras e, mais que o período que fiquei dirigindo, o que realmente me deixou exausto foi o stress das condições de trânsito.
Então, dica: não se arrisque a dirigir a noite saindo muito cedo ou fazendo a viagem em dois dias.
Canasvieiras
Canasvieiras é uma praia que fica bem no final da BR 101 e realmente é muito fácil chegar lá. Fiquei no Lexus Plasa Hotel, que o Chico Cangaceiro reservou antes de desistir da prova - para quem vai com a família, recomendo. Além do ótimos preços, fica pertinho de Jurerê (você vai correr a Maratona na estrada que liga as duas praias), tem ótima infra-estrutura comercial e uma boa garagem.
Antecedentes da prova
Para quem não tem experiência, realmente é muita informação sobre a logística da prova - regras de transição, sacolas para isso, sacolas para aquilo, special needs etc. Para quem já fez uma 70.3, não há muitas novidades. Mas vou admitir que você ficar nervoso porque sempre há coisas para serem arrumadas. Dicas: a) não falte ao Congresso Técnico, b) Na entrega do Kit, os atendentes dão todas as explicações novamente - tire as dúvidas caso você se lembre de alguma; c) No apartamento, simule a transição e vista a roupa e acessórios que você vai usar. Coloque sobre a cama e em seguida, deposite na correspondente sacola.
Outra coisa importante que não posso deixar de citar foram as conversar com o Vinícius, que conheci pessoalmente em Jurerê, pois ele trabalha como coach do Ironguides para atletas da Tailândia (e alguns brasileiros) e apenas tinhamos nos correspondido por e-mail nesses dois anos de treinos.
Ele é muito calmo, seguro e passa uma tranquilidade impressionante por conta da experiência na prova e todo conhecimento acumulado. Repassou as dúvidas e ponderou de forma realista como deveria ser a prova. Duas coisas em que ele insistiu foram importantissimas entre todas as outras.
A primeira é que no primeiro Iron você não "compete", mas "participa". É uma celebração na qual é necessário ter atenção para a nutrição a todo momento. Poucos atletas tem fitness para "disputar" uma prova em circunstâncias competitivas e não era o nosso caso. Nós estávamos lá para o primeiro Iron e seria uma bobagem perder a oportunidade de aproveitar esse dia.
A segunda é que não existe prova perfeita. Problemas vão aparecer e você tem que lidar com eles da melhor forma possível. Quando a natação ficou difícil, pensei nisso e não me desesperei. Quando a relação da bike começou a dar problemas, também como esse pensamento, não entrei em pânico e fui administrando a situação.
Acho que essa conversa me deixou mentalmente mais forte, porque eu sabia exatamente o que eu estava fazendo ali e qual o meu papel naquela prova.
A prova
Quando se diz que não se dorme direito no dia anterior a prova, é verdade. No meu caso, fiquei com muito medo de acordar de repente, olhar na janela e ver o dia claro - o que significaria que eu perdi a prova. Então, levantei as três da manhã depois de algumas cochiladas e esperei a hora de sair.
Quando cheguei a praia, uma brisa e veio uma energia positiva sei lá de onde. Pensei positivamente: hoje, tudo dará certo! O universo conspira a meu favor!
HAHAHA...que besteira!!!!
Natação - o batismo!
A natação começou bem, senti meus braços fortes e meu corpo deslizava sobre a água.
Até o meus óculos, que nunca me deram problemas, saltarem do meu rosto. Consegui segurá-los e colocá-los de volta no rosto. A mar, entrando, não ajudava: muitas ondulações dificultavam o nado e me faziam beber muita água salgada. Outra coisa: o neoprene estava machucando muito o meu pescoço e comecei a ter ameaças de cãimbras na panturilha, porque a roupa estava muito apertada um pouco acima do tendão. Eu já a tinha usado em outras provas e isso nunca tinha acontecido antes!
Cheguei com um bolo de gente na primeira bóia sem perder muito tempo. Entretanto, a partir dai, tudo deu errado - a segunda bóia se deslocou para o dentro do mar e o grupo na qual eu estava nadando se perdeu, voltando para a areia. Entrou o jetski e tentou mostrar a linha da bóia - quando finalmente a localizei, vi o tamanho do estrago! Eu teria voltar tudo que tinha nadado e ir contra a corrente. Percebendo que não saia do lugar, mudei a técnica da natação - ao invés de braçadas longas, comecei a dar braçadas rápidas e curtas. Sem dúvida, naquele momento, essa técnica foi mais eficiente e consegui voltar e contornar a bóia.
Entretanto, depois disso fiquei meio atorduído, pois não sabia direito para onde nadar. Eu sai atrás de um grupo e parecia que estava nadando para o lado errado novamente. Mas isso foi só uma sensação. Quando consegui levantar a cabeça, vi que estavamos nos dirigindo para um grupo de pessoas que estava na praia. Bom, ai não tinha erro.
A segunda perna da natação foi bem mais tranquila e consegui fechar em 1:25. Poderia ter sido bem melhor - sem os erros, talvez 1:15
Bike
A transição para natação-bike durou dez minutos. E não tinha como ser menor. Ao entrar na tenda, centenas de pessoas se aprontavam e não havia um lugar calmo para se trocar. Muito importante, nessa hora, foi o trabalho do pessoal da organização, que ajudou com as bolsas e se responsabilizou por guardar as coisas. 10!
Comecei a bike de forma bem tranquila, conforme orientação do Vinícius. Mas logo de cara, percebi que tinha cometido dois erros: o aerodrink que comprei é um horror e não resistiu a vibração do solo ruim no começo da prova - há uma encaixe interno que saltava para fora! Outro erro bobo foi ter comprado as caramanholas na expo. Achei que seria mais fácil usar aquelas com canudos. Besteira. Não conseguia beber o glicodry dentro delas.
Outro problema foi a relação da bike. As marchas começaram a trocar sozinhas e, outras vezes, eu não conseguia passar do Coroão para a Coroa menor. Em uma das maiores subidas, tive que subir a 8 km/hora, muito lentamente, e com a corrente no limite de se romper, pois não conseguia mudar a marcha. Ali eu estressei. Depois, não sei explicar o porquê, as coisas deram relativamente certo e a marcha só voltou a enroscar nos últimos 10 km.
Entretanto, o tempo da bike foi de 6:30. Sinceramente, esperava fazer um tempo menor - a primeira volta de 90 km foi melhor que a segunda, apesar de ter a impressão que puxei mais na última volta. Mas não fiquei triste. A leitura que faço é que tenho um belo espaço para melhorar no próximo Iron.
Maratona
Ao descer da bike, minhas pernas estavam bambas e não consegui disparar para a zona de transição - mas fiz uma mudança de roupa mais rápida, em 6:54. Coloquei o tênis, meu velho kayano 13, vizeira, cinto de hidratação e um monte de gel.
Sem dúvida, foi a melhor parte da prova. Comecei a corrida como se estivesse iniciando o Iron naquele momento, com um pace médio de mais ou menos 6:00 para cada Km. Esse pace foi menor quando começamos a nos dirigir de Juererê para Canasvieiras por conta das fortes ladeiras da estradinha que liga as duas praias. Mas nem essas me assustaram. Subi todas sem andar, correndo e com a maior tranquilidade.
Entretanto, o medo de acontecer algo é grande e moderei o ritmo com as passadas rápidas e me hidratando nos postos.
Poderia ter puxado mais ao terminar os primeiros 21 km, mas optei pela prudência. Ao entrar nos últimos 10 km, acelerei a passada, tal como fazia na última parte dos longões. Não senti nenhum tipo de esgotamento físico ou mental.
Foi literalmente um passeio de 4:32 minutos.
Conclusão
O resultado final foi de 12:46:07.
Foi o tempo para qual eu estava treinado. Nem mais, nem menos. Foi o tempo que consegui sem me machucar nos treinos, sem ter nenhuma tipo de esgotamento físico ou mental e cumprindo a única meta que o Vinícius traçou: terminar o Iron sem andar.
Nesse sentido, a minha história no Iron se inicia sem um grande martírio e ou uma prova de superação. Pelo contrário, hoje desconfio das crônicas que fazem um retrato da prova como epopéia quase inatingível, cheias de clichês - creio até que muita coisa inventada nessas narrativas.
Se você tiver uma orientação e planejamento, certamente vai conseguir cumpri-lá descentemente.
Em apenas quatro dias não havia nenhuma resquício de dor muscular, só uma forte energia positiva e aquela vontade enorme de fazer novos planos, traçar metas e voltar a treinar para as provas de 70.3.
Isso, claro, até 2010, quando pretendo estar lá novamente, junto com o Ronaldo de Porto Seguro, cara sensacional que conheci entre os atletas treinados pelo Vinícius, o Edú, o Chico, a Deise, o outro Edú e quem sabe, até o Daniel!
Resultado
Evento | IRONMAN BRASIL 2009 |
Número de peito | 296 |
Sexo | M |
Categoria | M4044 |
Equipe | |
Tempo Final | 12:46:07,30 |
Swim C1 | 00:47:41.35 |
Swim | 01:25:33.60 |
T1 | 00:10:14.50 |
Bike C1 | 01:44:35.95 |
Bike C2 | 02:58:17.85 |
Bike C3 | 04:58:23.35 |
Bike C4 | 06:05:07.15 |
Bike | 06:30:36.85 |
T2 | 00:06:54.30 |
Run C1 | 00:36:43.95 |
Run C2 | 02:50:06.05 |
Run C3 | 04:02:17.15 |
Run | 04:32:48.05 |
Rank Total | 857 |
Rank Cat | 161 |
Rank Swim | 885 |
Rank Cat Swim | 167 |
Rank Bike | 1029 |
Rank Cat Bike | 194 |
Rank Run | 725 |
Rank Cat Run | 132 |
Observacao |
4 comentários:
Caro Vagner,
obrigado por acompanhar meu blog... comecei a visitar hj e a segui-lo.
Parabéns por este relato positivo e pelo sucesso no Ironman.... PARABÉNS Vagner Ironman !!!
Abc
Wlad
http://vouevoltocorrendo.blogspot.com/
Vagner,
Cheguei aqui através do blog http://vouevoltocorrendo.blogspot.com.
Parabéns pela conclusão do Ironman e pelo relato, como você mesmo disse, bastante realista, sem florear muito.
Já me adicionei como seguidor do blog. Se tiver um tempinho dá uma passada lá no Blog Corro Mesmo. não chego nem de perto ao nível de atletas como você e o Ulisses, que completaram o Ironman, mas estou fazendo a minha parte dentro das minhas possibilidades de tempo.
Abraços,
Leandro.
http://corromesmo.blogspot.com
Vagner
Tive o grande prazer de acompanhar alguns de seus treinos de bike e a oportunidade de assitir sua prova que foi impecável.
O relato é fantástico e real !!!
Parabéns !!!
Vagner, Grande prova, grande relato e muito obrigado pelas dicas... Elas valem muito!!!
Grande Abraço
AP
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