Recentemente a Tri Sport postou na sua timeline a foto de uma triatleta deficiente pedalando com o seguinte título: "Sem desculpas!"
A foto teve exatos 3.298 curtidas, 395 compartilhamentos e dezenas de comentários na linha do título - ou coisas do tipo "Quando tenho o privilégio de ver uma foto assim, me motiva muito mais".
Um sucesso.
Uma vez o MundoTri me pediu um texto sobre o esporte paralímpico.
Mas notei logo que precisava dar um passo para trás antes de dar dois para frente, isto é, tinha que entender como as pessoas "com deficiência" ( coloco entre aspas porque esse termo é discutível) entendiam a sua própria condição.
Como poderia falar delas sem ouvi-las?
Pesquisei alguns Blogs, textos, pedi entrevistas (aliás, não fui atendido por ninguém) e assisti alguns videos, entre os quais destaco o da jornalista e comediante Stella Young.
O titulo da palestra fala por si mesmo: "Eu não sou sua inspiração, muito obrigado".
Vou repetir o que disse um blogueiro citado no texto do MundoTri.
“A sociedade vê os deficientes como pessoas que dispõe de menos ou para quem falta algo. O que se espera de nós é um potencial de realização menor, como se oferecêssemos ao mundo menos de nós mesmos. Eu não quero ser corajoso, porque eu fui para o hospital e sobrevivi a uma cirurgia. Eu quero ser bravo porque fiz algo digno de bravura”.
Nós construimos uma visão da deficiência baseada em um modelo de baixa autoestima e o utilizamos para passarmos mensagens motivacionais em redes sociais.
E quem autorizou o uso dessas imagens?
E o que leva mais de três mil pessoas a curtirem e outras centenas a replicarem uma foto achando que estão exaltando uma triatleta quando, na verdade, se enfronham em mensagens cravadas de preconceito?
Na falta de motivo para levantar da cama para treinar, a resposta é simples: pare de procurar motivação em esteriótipos e procure outra coisa para fazer na vida.
A única coisa realmente "sem desculpa" é a nossa falta de tato, a nossa triste inclinação para sermos piegas e, o pior, a nossa profunda incapacidade de nos colocarmos no lugar do outro.
3 comentários:
Uhuuuu! Mandou bem! É o fim da picada mesmo o uso dessas pessoas e suas histórias para fins motivacionais. Você disse tudo: não passa de pieguice eivada de preconceito. Adorei. Difícil alguém tocar nesta ferida com essa coragem.
Parabéns por nós fazer refletir fora do esperado...
Muito bom o texto...
Excelente como sempre!
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