segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Parem, por favor.

Recentemente a Tri Sport  postou na sua timeline a foto de uma triatleta deficiente pedalando com o seguinte título: "Sem desculpas!"

A foto teve exatos 3.298 curtidas, 395 compartilhamentos e dezenas de comentários na linha do título  - ou coisas do tipo  "Quando tenho o privilégio de ver uma foto assim, me motiva muito mais".

Um sucesso.

Uma vez o MundoTri me pediu um texto sobre o esporte paralímpico.

Mas notei logo que precisava dar um passo para trás antes de dar dois para frente, isto é, tinha que entender como as pessoas "com deficiência" ( coloco entre aspas porque esse termo é discutível) entendiam a sua própria condição.

Como poderia falar delas sem ouvi-las?

Pesquisei alguns Blogs, textos, pedi entrevistas (aliás, não fui atendido por ninguém) e assisti alguns videos,  entre os quais destaco o da jornalista e comediante Stella Young.

O titulo da palestra fala por si mesmo: "Eu não sou sua inspiração, muito obrigado".



Vou repetir o que disse um blogueiro citado no texto do MundoTri.

“A sociedade vê os deficientes como pessoas que dispõe de menos ou para quem falta algo. O que se espera de nós é um potencial de realização menor, como se oferecêssemos ao mundo menos de nós mesmos. Eu não quero ser corajoso, porque eu fui para o hospital e sobrevivi a uma cirurgia. Eu quero ser bravo porque fiz algo digno de bravura”.

Nós construimos uma visão da deficiência baseada em um modelo de baixa autoestima e o utilizamos para passarmos mensagens motivacionais em redes sociais.

E quem autorizou o uso dessas imagens?

E o que leva mais de três mil pessoas a curtirem e outras centenas a replicarem uma foto achando que estão exaltando uma triatleta quando, na verdade, se enfronham em mensagens cravadas de preconceito?

Na falta de motivo para levantar da cama para treinar, a resposta é simples: pare de procurar motivação em esteriótipos e procure outra coisa para fazer na vida.

A única coisa realmente "sem desculpa" é a nossa falta de tato, a nossa triste inclinação para sermos piegas e, o pior, a nossa profunda incapacidade de nos colocarmos no lugar do outro.