domingo, 17 de fevereiro de 2013

Os Vikings chegaram...

Lgo depois do Carnaval as comunidade virtuais de triathlon se agitam e começa o zum-zum-zum sobre o Ironman em Floripa.

Um passeio pelas redes mostra que quem fez a inscrição para sua primeira prova está ávido para saber de tudo -  quantas horas você treina, dorme, como se alimenta, se é melhor lagar na frente, atrás ou lado na natação, quantas caramanholas você leva, qual a marca do seu gel predileto, se venta muito ou faz frio durante o pedal, qual a calibragem do pneu, que tênis é melhor usar na maratona, baixo ou alto, se é legal ou não é legal usar o special needs ou qual o tempo ideal para terminar a prova entre outras coisas...

Não vejo mal algum quando você tem a sorte de ter pessoas de sua confiança com certa experiência dando sopa para te dar todas as dicas possíveis e imagináveis.

Mas fico com pena das pessoas que passeiam pelas redes sociais para pegar dicas com os "mais experientes" que organizam ou participam dos fóruns de triatlhon na Internet. 

Na grande maioria dos casos, as pessoas são "experientes", sim...

Experientes para aumentar o seu nível de ansiedade em uma prova que só existe na cabeça delas. 

Normalmente composto por gente que treina pouco e adora fazer um social no FB nessa época do ano, agitam o ambiente como promoters de baladas, mas são os primeiros a sumirem na prova e aparecerem no outro dia com várias desculpas do tipo "a prova táva muito difícil", "táva muito frio", "táva muito quente", "rapaz, tomei um soco na natação e quase desisti", "tive problemas com a bike", "a câmera furou sete vezes", "tomei algo que não caiu bem e fiquei indo ao banheiro", "entrou um inseto no meu olho"....

"Meu cadarço não parava amarrado...";-)))))

São pessoas que "agitam a galera" com cobranças do tipo "não quero ver ninguém andar na maratona, hein?"

Acredite em mim, você não precisa de um "desafio"dentro de uma prova que em si já é um desafio dos mais difíceis.

Eu, sinceramente, não entendo essa fixação para não andar na maratona.

Ou melhor: entendo, sim.

Quando fiz meu primeiro e segundo Irons eu não admitia andar - já que eu não iria fazer o tempo dos meus sonhos, pelo menos não andaria.

Bobagem, sabe?

Porque ninguém tá nem ai se você andou ou não andou na maratona do Iron.

Quando você passar o pórtico, não vão anunciar seu nome e dizer "Você é um Ironmam...que não andou na maratona".

Não vai ter medalha diferenciada, troféu especial, tapinhas nas costas do primeiro colocado, a Chrissie Wellington descendo de helicóptero para colocar a medalha em você e também não vai ficar famoso entre seus amigos porque foi "badass"e não andou nas subidas de Jurere.

Esse mito caiu pra mim quando fiz a Ultra Bertioga-Maresias como Solo.

O Vinicius me disse que eu teria que andar. Eu disse "Andar????".

Ele deu um tiro certeiro "Bom, se você não quer andar temos dois problemas: o primeiro é conseguir terminar a prova e, o outro, lidar com o seu ego".

As vezes a gente tem que ouvir certas coisas, sabe? :-)))))

Andar na maratona não pode ser vista como uma "fraqueza", seja porque talvez seja uma necessidade que se imponha por uma circunstância da prova, seja porque alguns técnicos as utilizam como uma estratégia  para melhorar seu desempenho.

Nesse sentido, você pode optar por caminhar quebrado porque não deu conta do seu orgulho ou, por outro lado, porque fez um planejamento para uma corrida mais eficiente.

Agora, outra coisa que me deixa pirado é inflação de frases motivacionais em tudo quanto é lugar por causa do Ironman.

Estou falando daqueles refrões incansáveis do tipo "Nunca Desista", "A dor é temporária" "Você não é derrotado quando perde. Você é derrotado quando desiste" e outras tantos do gênero...

É muita cafeína, sabe?

Parece que o Iron é um filme épico com uma horda de Vikings invadindo a praia de Jurerê Internacional aos gritos de "VAMOOOOOO LÁÁÁÁÁ...."

E todos usando bermuda de compressão e polaina.

Vikings bem estranhos esses....;-)))))

Essas frases ao montes no FB pressupõe que há preguiça demais e motivação de menos entre as pessoas.

Não é bem assim...

Muita gente faz a inscrição para o Iron e, depois, com os treinos, descobre que não era beeeemmm issooooo que ela estava pensando.

E fica difícil levar.

E, olha, problema algum se for isso.

Tem gente que divide o mundo triatlético entre fiéis e não fiéis - e ai se você chegar e dizer que Ironman não é bem sua praia numa rodinha de Vikings....;-)))

Mano, se o cara ou a mina descobriu no meio do caminho que não é isso que ele ou ela curte, não tem frase de motivação no mundo que vai fazer alguém pular da cama para rodar cinco horas de bike.

Não é falta de motivação...

E qual o problema?

Adianta ligar para a pessoa e berrar "Só os Foooortêêêêssss...."??????

Mas sabe o que eu acho? No fundo, no fundo, a pessoa que escreve coloca essas frases pra ela mesma.

Ela é que tá precisando "se motivar".

Agora, se você tá a fim e a coisa não tá rolando isso pode ser sintoma, e não causa, de outro problema.

Os treinos para o Iron devem estar inseridos na rotina de pessoas que trabalham, estudam, tem família - nunca o inverso.

Portanto, perder treinos é uma contingência associado a esses fatores e não tem relação necessária com "preguiça" ou "falta de motivação".

Quando chegar na largada em Jurerê, centenas de pessoas que estarão ali do seu lado não fizeram 100% da planilha e estão pensando o mesmo que você.

Só que ninguém conta pra ninguém o que tá rolando...!!!! ;-)))))

É legal dizer isso porque as pessoas muito disciplinadas são tão paranóicas que chegam a pensar "Meu, e agora? Aquele dia era para ter feito 160 km mas o pneu furou e só fiz 152. Putz eu devia ter dado um jeito...Tenho certeza que vão fazer falta...ai caramba!".

Sei porque falo de cadeira, viu? Sou assim também - se eu tivesse que fazer seis horas de bike e passasse pelo carro com 5:58 eu continuava em frente um minuto, voltava outro para finalizar.

Porque se chegasse em casa sem aqueles dois minutos alguma coisa iria me incomodar.

Terrível isso.

Nesse sentido, se já não bastasse a pressão que nós mesmo nos impomos, ter mais essa sobrecarga de responsabilidade porque tem gente que fica escrevendo "VAMÚ COM TUDO" é, no fundo,  uma forma de equivocada de lidar com uma obrigação impossível de ser cumprida na sua plenitude, o que consequentemente vai ser um fator gerador de estresse e insegurança totalmente desnecessária.

Se o seu planejamento não leva em consideração seu estilo de vida, o problema não é você.

É a sua planilha.

Do contrário, você vai se achar um sujeito incapaz e fracassado que não cumpriu as metas que foram traçadas para concluir a prova.

O motivo?

Porque é "fraco", "não tem disciplina", é"desmotivado", falta "aquela coisa"ou "aquela ambição..."

Parece papo de sogra, não parece? :-)))

Seria realmente ideal fazer a maior parte dos treinos. Mas se no seu primeiro encontro com esse esporte não for possível, não se puna.

Uma coisa que você vai notar é que a sua condição atlética é cumulativa, resultado de alguns anos de treinamento e reeducação alimentar e a construção de uma rotina que aos pouquinhos vai entrando na sua vida - ao final, deixa de ser uma obrigação e treinar vira um hábito.

Não vale a pena se martirizar,  pois mesmo que dê cabo da sua planilha de caba a rabo, a sua performance será limitada por fatores que você não controla.

Por quê?

A exceção dos mais talentosos, as conquistas mais importantes no Iron virão nos anos subseqüentes. No primeiro ano você terá um parâmetro; no seguinte, certamente seu desempenho será melhor porque você vai evitar os erros do primeiro. No terceiro, você começa a ver que seu corpo muda estruturalmente - seu metabolismo se altera, seu nível de gordura corporal cai muito, você olha para as suas pernas e percebe um nível de vascularização absurdo e você começa a dar "saltos"no seu desempenho...

Mas a grande mudança mesmo é quando você olha o armário e vê que tem bem mais camisa de finisher do que roupa para sair...

Quando as coisas chegarem nesse ponto, ai a coisa não tema mais volta...

7 comentários:

Daniel disse...

Eu tenho um grande problema em "andar" em provas de corrida, quer sejam 5, quer sejam 42 km. Num iron ou no deserto do Saara.
O sistema entra em colapso!
Se começar a andar, não consigo voltar a correr nem a pau!
O dia da prova é repetição do que foi feito no treino. Portanto, faça nos treinos o que você vai fazer na prova. No dia da prova, não vai baixar um maratonista queniano e o tempo vai despencar de 4 horas pra 2:15'. Não tem jeito.
Portanto...TREINO, TREINO, TREINO
Treino, alem de preparar a cabeça, o coração, os músculos....promove milhares de adaptações metabólicas que permitem você dar um "empurrãozinho" no seu limite...a gente nunca excede limites...a gente sempre empurra ele um pouquinho pra mais longe. Quando? Na prova? NÃO...nos treinos!
Mesmo concordando com você, que o anuncio do ironman não distingue os que andam e os que não andam....eu não faria uma prova de corrida, andando...nem por 100m. Eu faria (e sempre farei) a prova dentro dos meus limites. Nos limites que eu defini nos meus treinos.
Abraço

FREE ATLETA disse...

Depois da ultima conversa q tive com vc e ler esse texto, continuo desencanado....kkkkk Bela visão Bessa !!!!!

Nacatko, Inc disse...

Bessa, muito bacana e realista tudo q vc colocou aqui. A valorização pessoal através do colocar o próximo em um "estado de medo" é uma constante....

Mas olha, acho q os "triTerroristas" vão te catar, heim. :))))

Abcs

simplifique disse...

Putz. Esse do caminhar em maratona ou em qq lugar eh o q o vinnie falou e vc fez.
andar faz parte e deve ser pensada como estrategia.
Se a subida eh forte, andar vai ser bem melhor caminhar do quer correr.
Na ws100 de 2010, o geoff roes deu um mergulho no rio com tenis e tudo, voltou revigorado, atacou e venceu. Imagina, ele pensando se ia molhar a meia.

3 ATHLON NA VEIA disse...

Eu diria "perfeito".
Diria, porque acho que só faltou mencionar uma coisa:
Se é seu primeiro Iron, curta e aproveite cada minuto dele, porque nunca mais haverá outro "primeiro" Iron...e a sensação de completá-lo é única...seja lá qual for o tempo que faça.

Alexandre Vasconcellos disse...

Bessa, bem oportuno esse post.

Tenho uma amiga que está super nervosa( e olhe que é com MUITA antecipação, pois ela fará o IM somente em 2014 ) por causa de algumas pessoas que ficam "botando pilha errada".

Sempre acalmo, contando como as coisas aconteceram comigo nestes anos seguidos de IM( o primeiro foi em 2009 ) e sabe que ela acalma de verdade ? rs

É muito comum mesmo encontrar pessoas assim, que ao invés de contribuir acabam prejudicando.

Quanto a andar em provas, zero problema por mim.

Em relação à planilhas, eu procuro seguir fielmente, mas se tiver que encurtar ou aumentar o treino, o farei sem o menor problema.

Já encurtei para poder "escoltar" um amigo e tb já prolonguei para fazer cia para outro amigo que estava treinando para um IM. Hoje sou assim, mas já tive muita paranoia com a distância e/ou tempo.

No meu caso, fui desencanando conforme fui adquirindo maturidade esportiva. Tenho cabeça super boa para saber quando fará e quando não fará falta aqueles 2min ou 2km a menos num treino.

Um ex, ano passado minha treinadora me perguntou "Alex, você faz questão de fazer 180km de ciclismo durante os treinos ? ou podemos elaborar o planejamento com um pouco menos ? se fizer questão ou diferença no psicológico nós faremos 180, caso contrário chegaremos até 150km". Cheguei a 160km pq era onde tinha o retorno na estrada, pq faria os 150km propostos por ela.


Grande abraço,
Alexandre Vasconcellos

Mariana disse...

Definitivamente, Bessa, vc é demais!! Super curti, super concordo com tudo que vc disse!!!
O mundo "triatlético" é cheio de "firula", frases motivacionais enquanto o que as pessoas realmente querem é um pouco de luz, um pouco de atenção..
Fico chocada qdo vejo pesosas amigas até mesmo casais competindo uns com os outros qdo na verdade deveriam apoiar..
As pessoas estão tão ligadas em chamar a atenção, que esquecem que o melhor é curtir o momento, fazer o seu melhor..
Beijo grande!!
Sou sua fã!!!