Antes de ir para Penha, eu realmente não estava no clima da prova.
As duas últimas semanas que antecederam a prova foram repletos de dias muito desgastantes e por várias vezes me achei em overtrainning.
Comentei sobre isso quando falei sobre as expectativas que tinha para a prova.
Na semana do polimento - lembrando que "polimento" no Ironguides é um período muito curtinho - mandei um email para o Rodrigo Tosta dizendo que realmente estava no meu limite mental.
Treinando duas vezes por dia, deixava os treinos de intensidade para fazer a noite. E creio que exagerei em alguns deles.
Consequentemente era difícil comer e muito mais ainda dormir depois disso.
Como havia outro treino logo pela manhã e o trabalho em seguida, em alguns dias eu empurrei os treinos para frente - porque sei que a ordem deles é importante e que não podia simplesmente inverter a seqüência.
Ele imediatamente me mandou parar. Tirar dois dias da última semana para fazer algo, menos pensar na prova ou em triathlon.
Ai a sensação se inverteu - de um pretenso estado de overtranning passei imediatamente para a sensação de que estava destreinado, gordo, cheio de dores musculares e apavorado com a possibilidade de sofrer.
Vou dizer uma coisa: é duro! :-)))))
Em que pese ser esse, acho eu, minha décima ou décima primeira prova na distância meio-ironaman, isso nunca tinha acontecido - pelo menos não desse jeito.
As coisas estavam complicadas e pensei que, se no IM do Texas eu estava bem e casa caiu, em Penha então....
Uma amiga com bem mais vivência que eu no ramo triatlético me escreveu o seguinte "é assim mesmo, quer dizer que você tá ficando no ponto".
Minha primeira reação foi "Tá me zuando essa mina, véio?" ;-)))
Não estava.
Depois de dois dias parados fui pra lá, pra Penha, na quinta-feira.
No avião encontro o Leonardo Santana, que conheci ano passado com a turma que veio do Nordeste. A gente pega o mesmo transporte e taca conversa para colocar o papo em dia.
Vou direto para a Expo, que esse ano estava menor ainda. Tinha ninguém, ninguém, ninguém.
Deixo a bicicleta com a moçada do Kona Bikes e cumprimento o Max, sentado no chão com um laptop.
Evito a tietagem de sempre, mas é um pouco inevitável comentar as matérias que eu gosto do Blog dele - disparado o melhor entre todos nós.
Arrumaram a bike na hora e fui para o Hotel.
E lá estava o Dalton Cabral, no quarto ao lado do meu.
Nosso encontramos no café da manhã e já vou tirando tudo que posso dele sobre natação. Eu e o Rodrigo Melo, que fica sempre nesse hotel.
E o Dalton é uma figuraça. O MundoTri fez um bem danado quando o escolheu para o Diário de um Ironman. Era muito divertido vê-lo timido, recebendo elogios de outros triatletas do Brasil inteiro que fizeram a prova e o reconheciam por conta do belissimo trabalho que ele fez.
E o cara é uma ótima companhia para as provas porque ele fica em uma "frequência diferente".
Putz, agora vai explicar o que é isso...
Sabe quando o sujeito fica "pilhado" pré-prova? Então, inverte. O Dalton é o "des-pilhado.
Um amazonense com índole bahiana. ;-)))))
É isso é uma atitude consciente. Ele simplesmente sabe como evitar desperdicio de energia - isso vai da economia de gestos, discussões agitadas ou estresse com horário para almoçar, pegar a bike, kit e por ai vai...
É isso é uma atitude consciente. Ele simplesmente sabe como evitar desperdicio de energia - isso vai da economia de gestos, discussões agitadas ou estresse com horário para almoçar, pegar a bike, kit e por ai vai...
Mas não se engane: quando você vê aquele cara falando tranqüilamente, de forma pausada e sem movimentos exagerados, não imagina o que ele faz na prova.
Ai você entende o profundo significado daquela frase "Devagar também é pressa". ;-))))
Nesse meio tempo, a gente também deu de cara com o Wagner do Mundo Tri, o Pipo e o Luis Fernando, da All Distance - loja bacana aqui em São Paulo - e depois se juntou ao grupo o Artur Alvim - uma figuraçááááááá que tem o recorde da bolinha da USP! E não posso esquecer o Wlad, claro, que veio do Rio e chegou na quinta-feira a noite.
Aproveitando a deixa, também não posso deixar de citar o encontro que tive com o pessoal do Sul. Marlos, Aline e o Pablo Bravo.
O Pablo também tem um Blog, a gente se conhecia porque um lia o outro, mas nunca tivemos oportunidade de nos conhecermos pessoalmente.
E essas coisas são muito engraçadas; sei lá se sou eu que me dou muita intimidade (e não devia), mas a gente conversa e parece que se conhece a décadas!
Assim também foi com o Ricardo Saldanha, que nos foi apresentando pela Nilma, em uma mesa captaneada pela figura super simpática do Marinaldo Brito. Ricardo tem uma história no triathlon e contou um pouco dessa história pra gente.
Ele fez a prova com o dedo do pé quebrado e ainda tirou um quinto lugar na categoria.
Assim também foi com o Ricardo Saldanha, que nos foi apresentando pela Nilma, em uma mesa captaneada pela figura super simpática do Marinaldo Brito. Ricardo tem uma história no triathlon e contou um pouco dessa história pra gente.
Ele fez a prova com o dedo do pé quebrado e ainda tirou um quinto lugar na categoria.
No dia da prova, na área da transição, encontrei a Mariana Andrade, Lisandra e Ana Lidia. Depois encontrei mais gente...
Wagner Spadotto, Marlus, Luquinhas, Aline, Elionai, Lourenço...Nossa!
É, sei que que nem estava lá pode estar pensando. Só que gosto de lembrar a Deise Jancar dizendo que cada prova não se resume a um resultado, mas um encontro de amigos que a cada ano se agrega mais gente.
Perfeito.
Enfim, eu que sai de São Paulo cabisbaixo achando que ia ficar assistindo televisão o dia todo estava tendo uma ótima pré-prova. Bastou algumas horas para estar me sentindo em casa rodeado por amigos e pessoas bacanas.
Para variar perdi o fio da meada. Onde é que a gente estava mesmo???? :-)
Bem, na ante-vespera da prova, passei a noite em branco. Não dormi.
Eu não me sentia tenso, mas quem sabe o que rola no seu inconsciente?
No dia anterior, a gente fez tudo com calma e tocamos eu, Dalton e Wladimir para entregar as coisas na área de transição. Estava lá o Terenzzo Bonzoni, que me pareceu um cara super simpático, além do Chicão, Santiago.
Comemos um pizza a noite e fomos dormir. Ai como eu estava com o sono todo atrapalhado, apaguei.
No dia seguinte acordei bem e tocamos o barco para a prova.
Mas já na praia me bateu um certo nervosismo e meu coração dava umas disparadas.
Coisa que nunca aconteceu. Que creca era aquela?
Fui para fazer um aquecimento no mar e logo deu para notar que as ondas na entrada não estavam bolinho, não. Ai me lembrei do TB de Santos quando eu tentava entrar no mar e não conseguia - minha toca veio parar no dedão do pé de tanto caldo que tomei.
Dada a largada, o problema foi menor do que eu pensava. Na entrada as ondas não atrapalharam tanto.
Ai rolou o de sempre: foi tabefe pra cá, tabefe pra lá...enfim, coisa que todo mundo está acostumado - embora não devesse.
Sei lá quantas vezes vou escrever sobre isso, mas não me conforma o fato de que 99,9% das bofetadas que a gente toma na natação não são necessariamente involuntárias. Porque as pessoas insistem em jogar o braço em cima da gente sabendo que estamos lá e que não vai adiantar picas?
Não estava difícil localizar as bóias maiores, mas as menores eram da mesma cor das toucas.
Complicou um pouco...
Nadei o que deu para nadar - nem bem, nem mal. Acho que na casa de 34-35 minutos...
Só que quando estava cheeegaaaando na praia, veio uma onda e quebrou em cima de mim.
Foi uma chicotada daquelas para não esquecer - pior que a que tomei no Estadual do Rio!!!
Sei lá, acho que Netuno tem uma questão pessoal pendente para resolver comigo.
Instintivamente soltei o corpo para não lutar com a água. Mas ainda assim ela torceu minha lombar feio e bati o peito no chão. O rosto também, mas pouca coisa...
Não estava difícil localizar as bóias maiores, mas as menores eram da mesma cor das toucas.
Complicou um pouco...
Nadei o que deu para nadar - nem bem, nem mal. Acho que na casa de 34-35 minutos...
Só que quando estava cheeegaaaando na praia, veio uma onda e quebrou em cima de mim.
Foi uma chicotada daquelas para não esquecer - pior que a que tomei no Estadual do Rio!!!
Sei lá, acho que Netuno tem uma questão pessoal pendente para resolver comigo.
Instintivamente soltei o corpo para não lutar com a água. Mas ainda assim ela torceu minha lombar feio e bati o peito no chão. O rosto também, mas pouca coisa...
Dei um andadinha e percebi que não tinha me lesionado.
Ainda na areia deu vontade de olhar pra trás e dar uma banana para aquele mar fdp...;-)))
Fiz uma transição rápida. Colocaram uns meninos bons para puxar a roupa de borracha e eles estavam se divertindo com a brincadeira. Foi coisa de pit-stop de Fórmula 1.
Tudo bem que o meu pescoço quase foi junto com o wetsuit.
Fiz uma transição rápida. Colocaram uns meninos bons para puxar a roupa de borracha e eles estavam se divertindo com a brincadeira. Foi coisa de pit-stop de Fórmula 1.
Tudo bem que o meu pescoço quase foi junto com o wetsuit.
Sai para o pedal junto com o Clodoaldo, que estava forte e foi embora.
Eu resolvi segurar um pouco. Lembrei de uma conversa com o Dalton sobre uso de medidores de potência, principalmente quando ele me dizia sobre o desgaste que temos no inicio de uma prova ou de um treino quando começamos muito fortes e confiantes para terminarmos muito fracos e desgastados.
Decidi que tinha 90k para embalar e fiz um inicio conservador.
E nesse momento deu para notar bem como tem ciclista fazendo triathlon!!!
Alguns até um tanto que acima do peso, que pedalam forte (e pesado) na primeira parte da prova.
Se você notar bem, vai ver que aquele ótimo ciclista não está fazendo um pedal pensando em correr.
Ele está simplesmente dando tudo no pedal para ver o que acontece depois.
E se você tenta segui-lo está arriscando a sua prova. Aquela velocidade inicial não é realista.
Aquilo é blefe...
Aquilo é blefe...
As vezes eles são ultrapassados, outras te ultrapassam e você fica preso em uma disputa de momento - uma disputa besta.
Se o seu treinamento foi consistente e você tem uma estratégia sólida, você vai ultrapassá-lo no último terço da prova ou antes, conforme o Dalton já tinha indicado.
E eu tinha treinado assim. O Rodrigo tinha me direcionado justamente para essa estratégia.
Mas o que percebo é a dificuldade de ser mentalmente disciplinado o suficiente para executar o que deve ser feito.
Manter o controle para não fazer a prova dos outros.
O Dalton tinha toda razão. Troquei a velocidade por um pedal mais consistente.
Como estava calor, não descuidei da hidratação. Também tomei BCAA e carbo a cada 45-50 minutos.
No geral as coisas deram certo e não me senti fraco.
Fechei o pedal para 2:35:20 minutos e muito mais inteiro que o ano passado - consequentemente fiz uma transição bem mais rápida (2:35).
E não tem coisa melhor que colocar o pé no chão e sentir as pernas soltas.
Vi o Dalton saindo para a corrida e tentei ser rápido para sair em perseguição.
E se estivéssemos em posição inversas, ele faria o mesmo.
Nós temos uma disputa de pace, uma disputa sadia em que "competimos" torcendo um pelo outro.
Ironbrothers, não Ironwar.
E continuei me sentindo muito bem. Os treinos longos com intensidade ou os progressivos do Rodrigo Tosta foram uma escolha perfeita.
Eu me sentia rápido, mas com a respiração controlada e sem problemas de estômago.
Aliás, eu me sentia como se estivesse nos treinos, mas fazendo tudo com uma intensidade maior.
Só que então...bem, então veio o vento. Vento, não! Um vendaval! Banheiros químicos voaram, algumas arvores caíram e foi necessário um reforço para a fixação das barracas.
Segundo alguns, próxima a área do Castelo, o pace diminuía entre 20 e 30 segundos.
Como corria para fazer abaixo de cinco horas, bem no último quilômetro temi que não fosse possíve!
E durante toda a prova eu tinha evitado olhar qualquer instrumento de medição - relógio, velocimetro ou medidor de cadência.
A vantagem é que não me perdi tal como ocorreu no Texas, quando ficava obcecado para manter com o tempo e acabei me dando mal.
Entrei no tapete que dava acesso ao pórtico, levantei a cabeça para olhar o relógio e ele marcava 4:57. Minha meia-maratona foi na casa de 1:40 baixo.
Eu não tinha noção da posição, que fiquei sabendo apenas tarde da noite: quinto na categoria e 78 no geral.
No outro dia encontrei o Dalton feliz da vida - ainda que tenha feito o mesmo tempo de 2011, ele passava da 52a colocação para a 13a na mesma prova.
Ao mesmo tempo o Wlad perguntava pelo FB se eu tinha comprado dólares.
Eu nem tinha pensado nisso!!!!
Ainda mais sabendo que o número de vagas na minha categoria havia diminuido de cinco para três.
Maaaasssssss....
Saimos eu e o Dalton atrás dos dólares e, com ajuda da Nilma, conseguimos comprar e fomos para o evento de rolagem das vagas.
O Dalton ficou como eu ano passado e por apenas duas vagas não conseguiu - mas ainda assim a gente estar ali na expectativa...
Pôxa, que avanço pra nós, sabe? Estar "na expectativa", sentir aquele frio na barriga, só isso já é uma coisa que deixa a gente feliz.
Na minha vez, eu teria que contar com duas desistências.
O Galvão chamou o Gondré, ele não estava lá.
Chamou o Luis Ondre.
Também não foi.
O Dalton imediatamente virou pra mim e disse eu tinha conseguido...
Fiquei totalmente zuretá!
Acho que eu falava com ele "Huuuuum? Como? Será? Não, vamos esperar..."
Pô, "vamos esperar"?????
O negócio era aritmética!!!!
Tem cinco vagas. Tirei o quinto. Os dois primeiros desistiram....
Portantoooooooo....
Só acreditei meeeesssssmoooooo, mas meeeessssmoooooo, quando o Galvão falou meu nome...
Subi as escadinhas com as pernas bambas. Ele me perguntou se eu era eu mesmo, mas eu mesmo não tinha tanta certeza se o "eu mesmo" era de fato eu mesmo.
Acho que respondi algo como Si...si-si..si-si-si...sisisisim.
Na minha frente, assinando a ficha, encontro o Ricardo Veras, um amigo que eu só falava virtualmente, mas é como comentei ai em cima - a gente tem a sensação de que conhece a décadas!
A gente se abraçava e ria com se fossemos dois meninos...
Sobre essa vaga, não há porque não dizer que foi um pouco de sorte, um pouco de oportunidade - que eu consegui aproveitar porque tinha treinado no meu limite e apareceu uma chance.
Sim. Porque existem amadores da minha faixa etária que disputam as provas em um nível inimaginável pra mim. Não há a mínima chance de andar com caras como o fantástico Phillipe Gondre ou Luis Fernando Odre, que abdicaram da vaga.
Estou longe de ser alguém excepcional.
Com isso estou querendo dizer: se você conseguir se doar e tiver um pouco de sorte em um dia especial, é possível!
Ao escrever esse relato espero construir um espelho para que outras pessoas que também não se julgam excepcionais, embora possam sê-lo em vários sentidos, possam reconhecer nele um pouco de si mesmas.
E ter esperança.
Porque julgo que é assim que funciona.
Os meus "espelhos" foram pessoas que me mostraram o caminho e ajudaram a construir as referências que tenho hoje.
O Edu "Três Meios" que um dia me apresentou esse esporte dizendo "Embora você não saiba o que é triathlon, preciso te informar que daqui a seis meses vamos fazer o TB aqui na USP"; cinco horas seria apenas uma abstração, um número, não fosse o Eduardo "PDF" Carvalho ter dito um dia que essa era uma barreira importante a ser quebrada em um telefonema para o Felipe Amante; ficar entre os dez da categoria eu trago de uma conversa com o Daniel Hamada, que uma vez me disse que ele esperava pelo menos uma vez ter a possibilidade de ficar entre os melhores da categoria; uma vaga para o mundial não passava pela minha cabeça até ver o Sandro Magalhães aguardando a rolagem do ano passado no mesmo 70.3.
Nesse sentido, o que me deixa feliz não é apenas meu nome em um papel dizendo que em setembro de 2013 poderei disputar um campeonato mundial.
O que me deixa contente é que trago comigo algo que não consigo expressar por minhas próprias palavras, senão por meio dos versos do Drummond que dizem:
"Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo".