Só que o resultado da prova foi diferente.
A sensação foi que "o todo" (a prova) não foi igual a soma das partes (cada dia de treino).
Acho que nesses momentos mais complicados, não conseguimos ter uma perspectiva do nosso estágio de preparação: como vou fazer o melhor em um prova disputada, difícil, se não consigo ao menos dar conta das pequenas batalhas na rotina dos treinos do dia a dia?
Eu vou lá fazer o quê?
Ai entra o coach...
Mas vamos aos poucos...
Treinos
Esse ano o Internacional foi mais cedo que o ano passado. Quando o Rodrigo Tosta me enviou a planilha, pediu para dar uma segurada na intensidade nas duas primeiras semanas de janeiro. Além disso, seria um período de retomada e, portando, de treinos curtos que mal extrapolavam uma hora.
Mas não "treinei menos". Treinei mais...
Como acordar cedo tornou-se um hábito, incorporei às manhãs de terças e quintas um pouco de musculação, alongamento e um pouco funcional na academia.
Não fiz isso pensando em performance. Foram basicamente por dois motivos: primeiro, porque gostaria de não me machucar tanto como aconteceu no segundo semestre do ano passado. Pode dar certo, pode não dar. Mas eu estou me esforçando....
O segundo motivo é que os treinos são curtos, como disse - só que alguns deles são intensos. E intensidade é algo me que dói mais mental do que fisicamente.
Ir na academia pela manhã sabendo que não estou lá para sofrer me ajuda a suportar esse período. Não que seja "facinho" - são exercícios com esforço moderado, sendo que alguns bastante desafiantes.
Com isso, passei a treinar todos os dias em dois períodos.
As segundas-feiras, eu fazia nadava pela manhã. Basicamente volume com esforço progressivo. A noite, fazia alongamento em casa.
Na terça-feira, uma hora de academia pela manhã mirando as pernas e, a noite, um treino no rolo - aquecimento, depois 5 x 1 minuto forte a 90 rpms e mais 10 forte com 70 rpms. Duas vezes. Treino curto, mas tinha que ser forte!
Na quarta-feira pela manhã natação, cuja parte principal era um TT de 1k ou 20 chegadas. Ao final, saia da água imprestável, mas a noite eu corria 40 minutos aqui perto de casa e fazia mais alongamento para descontrair.
Quinta-feira, mais musculação pela manhã, mas com foco no tronco. A noite, mais rolo: treino muuuuito pesado: 5, 10 e 15 minutos no Big Gear - coisa de 45 rpms FORTE.
Mas esse eu até gostava, viu? Saia ensopado, mas sem aquela sensação de "afogamento".
Sexta-feira pela manhã outra vez na piscina. Coisa de 45 minutos. A noite, corrida puxada na esteira - 20 de aquecimento, 3 x 1 minuto no talo e 1 médio para não deixar a frequência cair muito e, em seguida, 10 minutos moderado/forte. Isso três vezes.
Treino difícil. Quando na planilha está escrito "moderado", eu por hábito sempre faço "moderado/forte" porque não gosto de sair de um exercício com a sensação de que o treino foi "tranquilo" - a exceção de quando está explicitamente colocado que deve ser "fácil".
Nem dava tempo de descansar e no outro dia lá estava eu no Campo de Marte para fazer 800 forte e 200 relax, 800 forte e 200 relax...até alcançar 1ok.
Mesmo com as pernas travadas e me sentindo pesado, fui melhorando semana a semana.
E, finalmente, um pedal Time Trial de 40 Km no Riacho Grande - que eu só fiz uma vez lá, pois choveu muito em janeiro. Substitui pelo rolo, fazendo a mesma distância aqui na sala de casa....
Resultado? Excelente!!!!!
Quebrei no primeiro domingo. Quebrei no segundo. Quebrei no terceiro. ;-))))
Eu errava a intensidade todas as vezes e nem dava 20k, mas empurrava o pedal até o final por pura teimosia.
Eu tinha que me testar antes do Internacional, pois tinha feito o Bike Fit com o Pipo em dezembro e não tinha pedalado uma vez sequer na rua depois do 70.3 de Miami.
Fui para o Riacho uma semana antes da prova. Fiz os 40k lá com média de 36.5 km/hora, gemendo como um burro velho naquelas subidas da p%$%#%...
Mas sabe quando você está tanto tempo sem fazer um treino que chega a perder a noção se está bom ou tá ruim?
Ainda lá perguntei para o Clodoaldo Oliveira o que ele achava, se era razoável e ele respondeu "Ôôôôôô...". :-)))))
Mas escrevi para o Rodrigo que a prova era cedo demais e que não tinha dado tempo de me preparar como eu queria. Tinho feito apenas um treino de transição...
Ai ele me tranquilizou (como sempre) e a gente combinou que, bem, o que importava era fazer o melhor.
Pensar apenas nisso.
Não teve polimento, apenas um dia de descanso no sábado.
A Prova
Esse ano cheguei em cima da hora e fui logo arrumando as coisas. Como estava tenso, também fiquei mais focado e fui logo para a praia. Mas só consegui molhar o corpo.
E começar sem aquecer não é bonito....
Antes da largada, parei ali na areia e olhei as bóias. Pensei "a bóia que eles colocam para a elite está ali no meio. Portanto, tenho que ignorar essa que está mais perto e mirar aquela lááááá atrás".
Beleza!
O mar estava uma piscina, mas a gente tinha que andar muito dentro da água antes de começar a nadar.
Tudo bem...
Comecei a nadar, nadar, nadar...e rapidamente notei que a primeira bóia estava pertinho.
Pensei "Nossa, tô bem...."
Beleza (2)
Mas....
"Espera! Mas está pertinho demais essa bóai, hein?"
Ganha um doce quem conseguir advinhar para qual bóia o esperto aqui nadou...
Bidú. :-((((((
Virei o corpo para a direita e vi a bóia correta no fundo do mar....
E vou eu lá atrás dela.
Só que não estava me sentindo muito bem. Meus braços doiam. Nadei como deu, mas sentia que vinha um povo atrás e que eu estava entre os últimos.
O resultado foi longe do esperado: 00:28:21, sendo o 32º colocado na categoria.
Sai da água e fiz uma transição até decente, pois nadei com um speedsuit e tirei rápido.
O começo do pedal em Santos é complicado, porque as condições do asfalto são muito irregulares.
Tem trecho bom, tem trecho que arranca dentadura.
Como tenho um DNF em razão de um tombo por aquelas bandas minha estratégia era conservadora até a Anchieta.
Quando saimos do trecho urbano, abri uma boa distância de quem estava pedalando comigo naquele inicio.
De uns tempos para prá, meu pedal em provas de triathlon é Time Trial. Eu simplesmente pedalo como se não fosse correr depois.
Porque eu sei que dá. Não consigo explicar se é acumulo de tempo no triathlon (embora esse seja bem curto) ou o fato de pedalar "travado" e com passadas curtas depois.
Sei apenas o seguinte: quando sair para correr as pernas vão estar "soltas".
E, tem outra coisa - tenho uma coisa com a minha bike que vou te contar!!!!
Olha, minha Fuji Aloha 1.0 é de alumínio e baratinha, baratinha. Só que, não sei explicar, comigo ela simplesmente funciona!
Como ela, gosto de ver minha sombra projetada no asfalto e gosto mais ainda do ouvir aquele som da roda girando quando despejo potência no pedal.
Bem, pedalei contra o vendo na ida e fiz a primeira parte com média de 37 km/hora. Entretanto, no retorno, vinha um pelotão gigante.
Gi-GAN-TE.....
Lembrei de um toque do Kleber Correa - encosta no muro da Anchieta e pedala forte.
Foi o que fiz. Fui ultrapassando fácil, mesmo sentindo que as vezes estava um pouco afogado e com as pernas ardendo nos momentos em que eu tinha que ultrapassar os caras mais fortes.
Só que depois mue fôlego voltava ao ritmo normal e minhas pernas paravam de arder.
Estava indo para 38,5 km/hora e subindo, subindo, subindo....
Só que perto da área mais urbanizada o pelotão, que ficou menor, me alcançou. Parece uma chuva de meteoros...um, dois, três, quatro, cinco...oito...dez...vão te ultrapassando.
Tirei o pé para deixar os caras passarem.
Entretanto, pelotão de triatleta em que o vácuo é proibido é coisa de gente fraca (e covarde) que precisa dos outros para fazer algo que deveria fazer por sua própria conta.
São ciclistas fracos porque juntos eles te alcançam, mas não tem força para ir embora!!!!!
No Riacho Grande os pelotões dos ciclistas não te dão chance.
Mas lá me Santos, não. Eu rapidamente chegava nos caras novamente, ia para a esquerda e pedia passagem.
Ia para frente.
Só que o rapaz que puxava os caras (ele sim, muito bom) me seguia e trazia novamente um, dois, três, quatro, cinco...dez caras me ultrapassavam em sequência!!!
Eu pedia ao fiscal que acompanhava o pelotão (sim, ele "acompanhava") que acabasse com aquilo.
Eu estava querendo ir embora e ao mesmo tempo morria de medo de ser fotografado naquela situação.
Só que o fiscais (aliás, Moto 11) apenas pediam para o pessoal ir para a direita para dar passagem!
Apenas isso!
E ninguém atendia o fiscal. O cara da minha frente, para quem eu gritava "esquerda, esquerda..." virou pra mim e disse " não, dá! A gente não pode perder o lider".
Juro por Deus! :-((((((
Virei para o fiscal e gritava com ele que aquilo era um absurdo! Ai o sujeito me disse "vácuo era proibido apenas para a elite".
Eu tive vontade descer da bike para tirar o capacete e jogar naquela moto!!!!
Quando chegamos na cidade já não era possível fazer mais nada, pois se pedalava entre os cones onde apenas duas bikes podiam passar.
Tirei o pé para aquele povo ir embora e quando olhei a média tinha despencado.
Acho que sou o único otário capaz de utilizar um pelotão para prejudicar a sí mesmo.
Só que prefiro que seja assim do que ficar no meio de um agrupamento e depois dizer "Eu não queria, mas não teve jeito, né? Fazer o quê..."
Sei....
Tentei retomar naquele retão antes da transição. Pedalei forte, mas sempre pedindo para ultrapassar os que estavam na frente e pedalando em grupo.
O resultado não foi ruim e consegui 1:04:39 (contra 1:11 de 2011). Considerando que na bike se conta as duas transições, só o pedal mesmo deu pouco menos de 60 minutos.
No contexto da prova, a coisa já tinha melhorado bastante, pois fui o 8º da categoria com esse pedal.
Bom, costumo ser "folgado" nas transições, mas fiz uma T2 relativamente rápida e fui embora.
Minhas pernas estavam bem e não senti o esforço da bike. Como tinha feitos de 10k com com "tiros" de 800 metros, estava bastante confiante que não iria quebrar.
E, pôxa, para quem fez só prova de 70.3, correr 10k não seria aquele drama.
Só que não importa, sempre é um drama!
Porque quando você está buscando "algo" (lembram do "algo"?) nunca para de fazer força. Se diminui a distância, você faz mais força ainda.
E como fiz força!!!!
Como vinham uns cara bons no meu encalço, como o Luis Tinello, pensava que deveria em acelerar em algum momento.
"Vou acelerar nos últimos 5k."
"Não, não...vou acelerar nos últimos 4k."
"Espera... deixa para quando faltarem 3k."
"Pôxa, vou esperar mais e ir com tudo nos últimos 2k."
"Huuuummm...acho que vou deixar para o último quilômetro...."
"Caramba, um um quilômetro é muita coisa! Deixa chegar nos 500 metros finais..."
Na real mesmo, só quando entrei na areia dei aceleradinha....:-))))))
Fiz a corrida para 0:45:28 contra 0:49 no Internacional do ano passado.
Considerando minha faixa etária, foi a 10º melhor corrida.
Resumo: não fosse a natação horrível, daria para ter ficado entre os dez.
O resultado global de 2:18:20 - 15 na faixa e 219 no geral.
Feliz? Bom, o Vagner do ano passado e que escreveu aquele post no Blog está bem satisfeito.
O que está aqui na frente do computador, por outro lado, está pensando "foi bom, mas eu poderia ter feito melhor. Tenho que nadar de forma descente, menos estúpida e fazer mais força no pedal para ficar longe dos pelotes. Dava para ser 2:15!!!!!"
Esse lado critico pode ser bom para a gente não se acomodar, sentar em cima das metas alcançadas e achar que agora pode comer pururuca com torresminho...;-))))
Mas as vezes parece uma maldição - nada, nunca está bom!