Depois de fazer uma prova com o Iron, você precisa de alguns dias para entender o que realmente aconteceu. As coisas vão ficando mais claras quando você conversa com os amigos, confere outros resultados, ouve comentários de quem estava lá participando ou vê suas parciais quando essas são divulgadas.
O Iron uma prova dura. Duríssima! Mas não compartilho com aqueles que vêem a vida como se ela fosse dividida em Antes do Iron (AI) e Depois do Iron (DI). Não consigo imaginar que algúem sofra uma transformação pessoal porque passa pelo pórtico de um Ironman.
É verdade que a determinação é um diferencial. Mas será mesmo?
Nós reclamamos da dura rotina dos treinos de madrugada, do frio e do calor, da fome, da ausência junto a familia, junto aos amigos. Mas acho que a gente se esquece que muitos fazem isso todo dia com necessidades mais importantes - levantam as cinco da manhã para trabalhar, não tem carro e cuidam da familia. Há ainda aqueles que fazem tudo isso e estudam, lidando todo dia com o sono e o cansaço.
E não tem dinheiro para comprar óculos oakley nem bike de carbono. Também não tomam suplementos.
Claro que sempre alguém dirá: "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".
É verdade.
Mas fazer comparações radicais é útil para lembrar que esse esporte não deve dar status a ninguém - aliás, com a explosão do número de inscritos, fácil fácil um Iron pode virar mais um item de consumo de classe média ávida por novos modismos.
Então, o que nos leva a fazer um Iron? Pode ser tudo, menos a vaidade.
Sem a pretensão de generalizar, quando escrevi que "nada para fazer" é um bom motivo, isso é verdade.
Mas no meio do caminho tem uma coisa que se chama "estilo de vida". Provas de Endurance exigem uma determinação que vai além do seu período específico de treino - você gosta do esforço físico e tem suporte para aguentar a pesada carga psicológica necessária para suportar esse esforço.
Ao longo do tempo, passa a conhecer novas pessoas e apreciar a companhia delas. Muda seu corpo, muda seu modo de se vestir. Algumas coisas perdem sentido, outras ganham.
Quando a vi Teresa Marcel ao meu lado por algumas centenas de metros, pensei que ao correr um Iron eu passo a fazer parte de um mundo que aprecio. Não importa que em outro nível competitivo, aquela grande campeã estava correndo ao meu lado, quebrada e sofrendo como eu.
Em que esportes amadores e profissionais podem compartilhar a mesma arena?
Nesse sentido, a partir dessas impressões um pouco confusas e desconexas, e que podem parecer um pouco duras, o que quero dizer é o seguinte: um Ironman não é a "prova da sua vida", nem o espaço para o exercício da vaidade.
Ela deve ser apenas o ápice de um modo de se viver, na qual em um dia do ano você tem um encontro com as pessoas que apreciam o mesmo estilo de vida que você e, juntos, vão compartilhar a celebração de um data especial.
A Prova
"A maior diferença entre o Ironman e as provas curtas (short/olímpico) é que o resultado é extremamente justo para aqueles que entendem a essência da execução da prova somada com uma boa preparação física"
Vinicius Santana, Head Coach do Ironguides
Para mim, o resultado global do Ironman 2010 foi bom, pois consegui reduzir meu tempo de prova de 12:46 em 2009 para 11:48 em 2008.
Fiz a natação em 1:03 contra 1:25 ano passado. Para se medir se realmente essa evolução brutal foi real, são necessárias outras provas para se chegar a alguma conclusão. Mas não há dúvidas de que um resultado assim não é fruto de bóias no lugar errado ou correnteza favorável - eu vinha melhorando e estava bastante feliz pela evolução que conseguia a cada treino. Quando sai da água, me senti forte e consegui correr para a transição com os batimentos baixos.
Apesar de mostrar uma certa evolução, finalizando em 6:09 (contra 6:30 ano passado), não gostei do resultado da bike. Eu tinha como meta finalizar a prova em 6:00, mas um dor lombar insuportável prejudicou meu desempenho, sobretudo na segunda parte do pedal, quando peguei mais vento e sofri demais - a dor era tanta que eu chegava a gemer a cada respiração.
Eu sentia que tinha pernas, mas a falta de fortalecimento do core é um problema com a qual eu não tive paciência para lidar durante os treinos - achei que as coisas se resolveriam por sí só.
Wrooonngggggg!!!!!
Na transição da bike para a corrida, mudei minha atitude a partir do que aprendi com o Edú Carvalho, que já fez ultramaratonas. Por quê a gente tende a fazer as transições como se estivesse fazendo triathlon olímpico? Em provas de endurance como o Iron, a transição é uma parada, um break, e não apenas um momento para você trocar a roupa e acessórios.
Eu me troquei muito calmamente e me alimentei muito, até porque estava com muita fome - coisa que nunca me ocorreu. E, por incrível que pareça, não perdi mais tempo que ano passado, quando a pressa me levou a fazer as coisas de forma estabanada e, consequentemente, de forma pouco eficiente.
Na corrida, fiz exatamente o que foi treinado, com bastante moderação no início e muita força no final.
Os primeiros 21 km tem as subidas inacreditáveis de Canasvieiras, então fiz em ritmo moderado ou moderado fraco. Ali o pace cai naturalmente. Não há o que fazer.
Entre os quilômetros 21 km e 31, embora no plano, foi a parte mais difícil da prova. Além de uma forte dor no braço, decorrente de uma burcite mal curada e que me acompanha a anos, eu senti o esforço. Além disso, psicológicamente é um momento complicado, porque você já conhece o vai-e-vem dessa parte do percurso e bate um desânimo.
Entretanto, é justamente nessa parte que você tem que deixar um pouco a cabeça livre para pensar outras coisas - diferentemente do que se recomenda por ai, ou seja, "mantenha a concentração", no meu caso isso atrapalha (rs).
Quando entrei na últimos 10 kms, tomei pepsi no posto de hidratação e comecei a correr como se estivesse começando uma rústica naquele momento. Tudo mudou! Relaxei e aumentei fortemente a freqüência de passadas. Mesmo nos falsos planos, me sentia forte e corria fácil, a cabeça e as pernas na mais perfeita sintonia. Já sabia que chegaria inteiro (mais que ano passado) e outra vez sem ter caminhado em momento algum.
Mas ao me encaminhar para o Pórtico encontrei o Marcelo, grande amigo e o puxei para correr comigo - encontrei a Deise e a Yeda pela caminho e fiz o mesmo. Quando fui ver, estava sendo escoltado por três amigos maratonistas, disparando dentro do corredor humano que se afunilava até a chegada. Sem dúvida, o momento mais emocionante e bacana de toda jornada que fiz até aqui. Inesquecível.
Aquele momento só não foi perfeito porque o Edú já tinha ido embora. Ele, mais que ninguém, merecia passar pelo pórtico. Afinal, quando ele se virou para mim em uma sábado de manhã na USP e me disse "Escuta, preciso te avisar que você vai fazer o Troféu Brasil de Triathlon em agosto, tá?" eu jamais pensei que as coisas chegassem a esse ponto.
Esse ano, o Edú pegou um avião e veio ao Florianópolis para me dar uma força e tirar as fotos. Não me canso de dizer que ele é o tipo herói que a gente vê nos filmes, que primeiro coloca todo mundo em segurança em um navio que afunda no mar (incluindo o capitão) e só depois pensa nele.
Detalhes
Li na Triathlete Magazine que o Triathlon consists of little things in epic proportions.
Nada mais correto, nada mais justo.
A matéria versa sobre os detalhes ligados a acessórios, alimentação e outras coisas que causam pouca preocupação em provas curtas, mas que podem ser desastrosas em competições longas com logística complexa e estresse alto. Tive três momentos chatos na prova, em que pelo menos dois deles poderiam ter sido evitados se eu tivesse feito o que todo mundo sabe que tem que fazer: simular o máximo as condições da prova em treinamento.
O primeiro deles foi quase sorte. Eu estava decidido a fazer o aquecimento da natação para me preparar melhor para a largada. Pois bem, ao entrar na água, senti que o wetsuit compriu demais o tornozelo, local onde estava fixado o chip. Doía demais! Logo me lembrei que em 2009 também senti muita dor, quase uma cãimbra, mas só percebi isso quando a natação já tinha se iniciado, e desde de então eu nunca tinha conseguido identificar o motivo dessa dor.
Sai da água e ajustei o porta-chip, girando-o para a esquerda. A partir dai, problema resolvido.
A segunda foi uma bolsa para levar comida na bike. A minha era pequena e, na Expo, encontrei uma perfeita: grande, vários compartimentos e uma pequena capa embutida para protegê-la da chuva. Perfeito!
Quer dizer, médio! Ao colocar muitas bisnaguinhas e gel, a bolsa começou a pender para o lado de fora do quadro. Consequentemente, meu joelho resvalava naquele tecido e parecia que ele ia cair - não ia, mas a cisma era grande e aquilo tirava minha atenção continuamente.
O problema foi que apertei as fivelas da pochete sem nenhum conteúdo. Ficou firme, mas porque estava vazia.
O terceiro foi meu cinto de hidratação, com qual sempre treinei e acho uma peça perfeita. Só que agora não deu certo - na prova, além de glicodry nos reservatórios, também coloquei muitos pacotes de gel. Provavelmente, com o tempo o velcro foi ficando gasto e sai para correr com o cinto despencando a todo momento! Rapidamente, tirei os pacotes de gel para colocá-los nos bolsos da bermuda, porque eu iria jogar o cinto fora - mas ao diminuir o peso, ele ajustou e não precisei fazer isso.
Por fim, o resultado:
Evento | IRONMAN BRASIL 2010 |
Número de peito | 632 |
Sexo | M |
Categoria | M4044 |
Equipe | |
Tempo Final | 11:48:27.75 |
Swim C1 | 00:34:41.15 |
Swim | 01:03:08.45 |
T1 | 00:06:31.55 |
Bike C1 | 01:33:08.45 |
Bike C2 | 02:39:25.20 |
Bike C3 | 04:34:55.35 |
Bike C4 | 05:43:43.30 |
Bike | 06:09:09.10 |
T2 | 00:09:10.00 |
Run C1 | 00:28:50.65 |
Run C2 | 00:34:58.95 |
Run C3 | 02:35:50.95 |
Run C4 | 02:43:28.05 |
Run C5 | 03:47:02.35 |
Run C6 | 03:54:01.50 |
Run | 04:20:28.65 |
Velocidade Média Natação | 3.61 |
Velocidade Média Bike | 29.2 |
Pace Corrida | 00:06:10 |
Velocidade Média Corrida | 9.71 |
Rank Total | 777 |
Rank Cat | 128 |
Rank Swim | 605 |
Rank Cat Swim | 98 |
Rank Bike | 1023 |
Rank Cat Bike | 175 |
Rank Run | 636 |
Rank Cat Run | 109 |