segunda-feira, 16 de abril de 2012

O "Short" Long Distance Caiobá - 2012

Não, o título do post não está errado...

Esse Long Distance só foi "Long" meeeeeeesmo por conta das 16 horas da viagem de ida e volta entre São Paulo e Matinhos nesse último final de semana.

Depois de uma natação muito confusa, em que a bóia amarela ficava brincando de esconde-esconde atrás do sol ou se confundindo com as tocas amarelas na cabeça dos nadadores, eu tomei um capote na bike e tive que abandonar a prova.

Nada muito sério. Fui tangenciar os cones e, de repente, um olho de gato "aparece" na minha frente. Nem deu tempo de desviar e a topada estorou as cameras dos dois pneus. Não consegui me equilibrar e fui ao chão. Estava com uma velocidade mais reduzida por conta do impacto e tive apenas alguns arranhões.

Foi descuido meu.

Mas acontece com outras pessoas em todas as provas e é inevitável que um dia a gente passe por isso também.

E muito mais sério foi o acidente com a Vanusa Maciel que, acabei de saber, cancelou a participação no IM do Brasil por conta de incidente envolvendo ciclistas que estavam agrupados aproveitando o vácuo e cairam na frente dela.

Volto nisso um tantinho mais a frente...

Aproveitei e fui ver a prova para torcer pelos amigos que estavam em Caiobá. Fiquei perto do retorno, ali ao lado da transição.

Agora, engraçado é o seguinte: ao vivo e a cores eu nunca tinha assistido uma prova de triathlon na vida!

Doido isso, hein?

E a primeira coisa que se nota é que não se vê uma competição, mas várias "provas" dentro de um único percurso.

E imagino como deve ser competente uma organização para dar condições a que todos tenham como realizar esses projetos pessoais, independentemente de quão diferentes possam ser as metas de cada um.

Mas não é só a mesma infra-estrutura que deve estar disponível para a primeira e a última pessoa que vai passar pelo pórtico.

As regras devem ser igualmente compartilhadas. E elas não estão lá por capricho.

O vácuo é proibido porque coloca o risco a integridade física de TODOS que participam do evento.

Coloca em risco tanto o atleta que vai lá cumprir o enorme desafio de vencer a distância, dar um um beijo nos pais, na esposa e cruzar o pórtico com os filhos sem se preocupar com o aspecto competitivo do evento, assim como os que querem ficar entre os cinco, entre os dez, entre os quinze primeiros da sua categoria.

Mas, para esses último grupo, o vácuo tem outra implicação.

A desigualdade.

Lá de fora a percepção da desigualdade provocada pelo vácuo é outra.

A coisa é pior do que se pensa.

Os que se apóiam em grupos e andam no vácuo chegam com o rosto tranqüilo passam imediatamente para a corrida com certa descontração; já os que fazem uma prova solo parecem demorar um eternidade para chegar e, quando chegam, saem da transição para correr com uma expressão carregada, dolorida.....

Essas diferenças deixam a gente um tanto impactado, até porque o sofrimento de quem se apóia nas próprias pernas se aprofunda com o calor e o desgaste ao longo da prova.

Dá para perceber com um profundidade que não se percebe quando se está lá dentro que são duas competições.

Mas o pessoal é guerreiro demais. Volta após volta, naquele retorno da transição onde estávamos, o semblante da maioria das pessoas parece querer dizer o seguinte:

"Hei, você ai da frente - eu estou aqui e vou continuar fazendo força."

Pode parecer estranho para quem não sabe bem o que são as provas de endurance, mas foi nos momento mais dificeis para os que estavam lá dentro que estar fora da prova mais me doeu.

Vou ser sincero: não era bem prova com quatrocentas ou seiscentas pessoas que me interessava.

Tem gente que estava ali com tantos objetivos diferentes - e o que significa pra mim chegar na frente ou atrás de pessoas que não conheço e tem referências éticas e morais tão diferentes das minhas?

Eu queria estar lá correndo com aqueles caras que estavam dando duro, com os meus amigos e com quem mais é capaz de compartilhar um embate pessoal honesto para vencer aquela distância no menor tempo ou da melhor forma possível.

Você lembra quando jogava bola na rua e tinha "um contra". A gente colocava dois chinelos para marcar os gols e chamava um jogo com um combinado que morava na vizinhança.

O pessoal da minha rua queria ganhar dos caras da rua de cima.

E o jogo de futebol com criança de 10 anos é tenso! ;-)))

Hoje, "os caras da minha rua" se mudaram. Eles vivem por ai e a gente aparece para "um contra" em Santos, em Florianópolis, Penha, no Rio de Janeiro, Caiobá ou Pirassununga.

Talvez muitos deles estejam fadados a nunca conquistar um pódio dentro de uma luta que não se pode vencer.

Mas acho que eles compartilham aquele belo pensamento do Darcy Ribeiro, quando esse dizia

"Lutei muitas lutas, perdi a maioria, mas estou feliz; infeliz estaria se estivesse ao lado dos que me venceram".