terça-feira, 8 de abril de 2014

Long Distance Caiobá 2014

Desde de 2009 sou uma figurinha fácil no Long Distance Caiobá.

O Vinnie já dizia que é o melhor evento do gênero para o check-list final do Ironman e, sendo uma prova relativamente menos desgastante, encurta a recuperação e possibilita o retorno mais rápidos aos treinos.

Dadas todas as mudanças que ocorreram no calendário do triahlon de longa distância esse ano e a realização do 70.3 de Brasília no mesmo dia,  confesso que fiquei um pouco curioso sobre o que aconteceria com o Long Distance Caiobá.

De imediato, o esperado: a prova ficou menor, com cerca de 1/3 dos inscritos na prova da Latin Sports.

Mas quando cheguei na cidade, fui encontrando triatletas que fazem parte um time de peso - Cristiano Santos, Marcelo Penna, Phillphe Gondré, Joachin Doedin, Fernando Cesário e tantos outros, muitos deles com uma parada duríssima nas suas respectivas categorias.

Nesse sentido, o Long Distance pode ter perdido em número participantes, mas em termos de competitividade a prova surpreendeu quem esperava uma fuga dos amadores de ponta para o 70.3 de Brasília.

Outra coisa interessante foi que a prova ficou ainda mais comunitária. Um amigo acostumado ao padrão Latin Sports me perguntava: não tem que deixar a bike na transição um dia antes? Não tem sacola? Não tem marcação? Não tem número na toca?

Não, não tinha nada disso. Tinha apenas uma coisa chamada "triathlon", disse brincando para ele...

Não fui ao congresso técnico e não sei como os atletas foram avisados sobre isso, mas em certos trechos da orla carros e corredores compartilharam o mesmo espaço.

Embora a via fosse apertada, os motoristas me pareceram cuidadosos e aquilo não atrapalhava a corrida.

E não notei reclamações dos atletas e nenhum tipo de estresse.

Alguém explica?

Talvez estejamos acostumados a ver as provas tais como passageiros de cruzeiros marítimos ou de assentos na primeira classe de vôos internacionais, em que você entra em um lugar controlado para se sentir totalmente seguro e ser mimado por mordomias de todo tipo. Achamos que temos direito porque pagamos e pagamos caro.

Seguimos o roteiro desenhado pelas empresas, que não se limitam a nos vender uma infra-estrutura para nadar, pedalar e correr, mas ainda se servem de toda parafernália midiática ligada ao tema "superação" para nos sentirmos dentro de uma aventura - mas talvez elas nada mais façam do que aguçar nossos instintos sanguinários de consumidores de shopping center.

E quando descobrimos que esse ambiente é uma fantasia que só existe no folder da prova, ficamos transtornados. Mas, azar: quem mexe com emoções tem que estar ciente de que os resultados podem ser explosivos.

E como na Internet amor e ódio fluem rapidamente, o estrago é feio.

Obviamente, não estou defendendo o outro extremo, como provas sem fiscalização, piso esburacado, falta de água ou condições mínimas de segurança.

Porque não acho que precisamos ficar entre escolhas extremas.

Na minha opinião, o 70.3 de Brasília de certa forma ajudou o Long Distance de Caiobá, pois redimensionou a prova de Curitiba para o número de atletas que ela realmente pode comportar.

A "pancadaria" na natação se limitou ao retorno da primeira bóia e os pelotões simplesmente sumiram - o que me frustou um pouco, já que não me deram a oportunidade de xingar ninguém. ;-)

Bom, mudando um pouco de assunto...

Em relação ao desempenho, eu não estava muito animado. Tive uma lesão no músculo posterior da coxa duas semanas antes do Internacional de Santos e passei quase um mês sem correr. Fui voltando aos poucos, sem intensidade e aumentando gradativamente o volume a fim de ganhar confiança novamente.

Mesmo curado, estava com aquelas dores musculares típicas de quem passa muito tempo fora de uma atividade e volta a fazer treinos um pouco mais pesados.

Nesse sentido, a prova seria basicamente um treino de luxo para testar o que precisava ser testado para o Iron. E, como sempre, sem polimento.

Com tudo isso mantive minhas expectativas em um patamar realista e me programei com o Rodrigo para fazer uma prova típica de um atleta maduro, consciente e dentro das minhas possibilidades, já que o mais importante é o IM em Floripa.

Isso só da boca para fora, lógico, porque chegando lá a gente esquece tudo isso e dá o que pode e o que não pode para fazer o resultado...

O coach fica doido da vida mano..... ;-)

Mas comecei muito desanimado, porque a minha natação não foi boa - na primeira das duas voltas a correnteza me afastou dos nadadores e sai mais de cem metros longe do pórtico para fazer o primeiro retorno.

Consequentemente, na segunda perna perdi a confiança e fiquei mais preocupado em não perder o rumo do que em nadar - o sol estava exatamente em cima da segunda bóia e nos cegava completamente. Resultado: nadei para 38:19 (com a transição - acho eu....)

Sai para o pedal um pouco desconfiado da minha coxa esquerda, que estava dolorida nos dias anteriores.

Mas sem essas dores, os treinos de intensidade e big gear no rolo, assim como os longos na Ciclovia do Pinheiros,  me deixavam mais confiante para exigir um pouco mais no pedal.

Fechei a bike na casa dos 2:18 e me senti feliz em cima do selim, principalmente pelo torque que os treinos me deram para pedalar contra o vento.

Na corrida, era uma incógnita. Meu objetivo ali era tentar a meia em menos de 2 horas, com um pace entre 5:00 ou 5:30.

Entretanto, quando sai para correr não senti as dores na coxa - mas não abusei. Fiz a primeira volta mais tranquilo correndo naturalmente, sem olhar para o relógio e tentando me sentir relativamente confortável.

O resultado me surpreendeu um pouco, pois fechei para 1:39.

Mas teve um lado negativo também:  minha corrida confortável refletia mais meu receio de sofrer do que as dores musculares.

Esse, por hora, é o meu sinal de alerta para o IM de Florianópolis - estou um pouco assombrado pelo medo de sofrer e não estou sabendo lidar com isso mentalmente.

Bem, ao final, o tempo total foi de 4:37.

Ano passado perdi a premiação do quinto lugar por dois segundos. Esse ano, com 25 minutos a mais de prova, consegui meu primeiro pódio.

Não acredito em justiça ou destino. Mas acho interessante essas ironias.

Foi bacana subir no pódio, principalmente pelo sorriso largo do Marcelo Penna quando me viu lá em cima e apontou pra mim, pela força que o Luciano Focá e o Clodoaldo me deram na corrida enquanto os dois davam um show a parte, e pela farra que o Allan e a turma que estava com ele fizeram quando me viram com o troféu na mão.

Voltei para São Paulo com insolação e cheio das dores. Mas valeu por tudo.

Foi uma reconciliação com uma prova que em anos anteriores envolveu uma disputa desleal na elite e mais ainda entre os amadores que se amontoaram em pelotões. Como esquecer a tensão e todo bate-boca em torno das punições?

Sem esses problemas, foi possível ver Caiobá de outro jeito.

É como se a gente tirasse a maquiagem para descobrir que a prova, mais simples, fica mais bonita - a praia mansa é um achado para se nadar, o pedal é rápido, intenso e belíssimo e a corrida é um vai e vem de amigos que se encorajam mutuamente.

E tudo isso sempre esteve lá, mas por miopia ou vaidade as coisas mais importantes sempre são as mais difíceis de serem reconhecidas.

Tal como me fez lembrar o Allan, que passando por mim com o rosto sofrido, aponta para o céu e diz sorrindo "Bessinha, olha que dia lindo".

Foi lindo....